Após subir por cinco sessões seguidas, o dólar cedeu e terminou o dia (27) abaixo de R$ 3,90, em um movimento de correção impulsionado pelo anúncio de leilão de US$ 2 bilhões em linha – venda com compromisso de recompra – pelo Banco Central, em uma tentativa de aliviar a pressão altista de final de ano, período em que comumente empresas enviam recursos ao exterior.
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A moeda norte-americana recuou 1,04%, a R$ 3,8767 na venda, depois de registrar na véspera (26) a maior alta percentual desde junho e encerrar a R$ 3,9175, maior valor desde 2 de outubro. Na mínima, a moeda foi a R$ 3,8704. O dólar futuro tinha baixa de cerca de 1,70%.
“É de amplo conhecimento a tendência do BC em realizar leilões de linha no fim do ano, quando empresas costumam remeter recursos ao exterior… De todo modo, não dá para negar uma ‘relação’ entre o movimento de ontem no câmbio e o anúncio do BC”, escreveu a corretora H.Commcor em relatório, ao ponderar que muitos consideram o anúncio do BC “uma sinalização da autoridade àqueles que – teoricamente – estariam forçando um movimento para ‘além dos fundamentos'”.
A alta de ontem foi influenciada por uma série de fatores. Além do movimento tradicional de remessa de recursos ao exterior no final do ano por empresas multinacionais, houve a zeragem de posições vendidas e nervosismo com o exterior.
Essa influência negativa externa continuou nesta sessão, patrocinada por declarações do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de que espera seguir em frente com o aumento de tarifas sobre US$ 200 bilhões em importações chinesas, jogando um balde de água fria sobre o otimismo vigente diante do encontro dele com o presidente da China, Xi Jinping, no G20, no final da semana.
“O envolvimento ativo de Trump no G20 implica muita incerteza. As expectativas para a reunião são exageradas. O conflito comercial entre os EUA e a China provavelmente não será resolvido. O melhor cenário é que não haverá novas tarifas, mas as existentes não serão removidas tão cedo”, trouxe a corretora dinamarquesa Nordea Markets em relatório.
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No final da tarde, entretanto, o assessor econômico da Casa Branca, Larry Kudlow, aliviou na retórica ao afirmar que se a China levar novas ideias ao G20, “há boa possibilidade de que Trump possa fazer um acordo”.
O dólar, no entanto, continuou subindo ante a cesta de moedas, mas operava misto ante as divisas emergentes, em queda ante o peso mexicano e alta ante o rublo.
“O mercado exagerou ontem e a atuação do BC com oferta de liquidez e o exterior ajudam na correção, mas nada impede que o excesso volte a ser visto. Temos Ptax à frente e muita gente está comprada”, avaliou o operador de câmbio da H.Commcor Cleber Alessie Machado.
A taxa Ptax de final de mês é usada na liquidação de diversos derivativos cambiais e sua formação de preços no último pregão do mês acaba deixando o mercado mais volátil, com a briga entre os investidores que apostam na queda da cotação e na alta.
Os dados de investimentos diretos no país (IDP), acima do previsto pelos analistas, também ajudaram a aliviar o dólar, comentaram profissionais.
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Os investidores também seguiram na expectativa por novidades sobre a trajetória de juros nos EUA. Nesta manhã, o vice-chairman do Fed, Richard Clarida, declarou que a economia dos EUA segue robusta e que espera que em 2019 essa trajetória se mantenha.
O Banco Central fez nesta terça-feira leilão de linha no qual colocou US$ 2 bilhões em novos contratos, com vencimento em 4 de fevereiro. Em dezembro, vencem mais US$ 1,250 bilhão em linha e o BC ainda não se pronunciou se fará ou não rolagem.
A entidade financeira vendeu nesta sessão 13,6 mil contratos de swap cambial tradicional, equivalente à venda futura de dólares. Desta forma, rolou US$ 10,880 bilhões do total de US$ 12,217 bilhões que vence em dezembro. Se mantiver essa oferta diária e vendê-la até o final do mês, terá feito a rolagem integral.