A Articulação Internacional dos Atingidos e Atingidas pela Vale formalizará amanhã (5), por meio de membros da entidade que são acionistas críticos à gestão da empresa, um pedido ao Conselho de Administração e ao Conselho Fiscal da mineradora pela destituição de sua diretoria executiva e a convocação de uma Assembleia Geral Extraordinária, conforme comunicado enviado à imprensa.
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A decisão foi tomada após uma missão do grupo de solidariedade e documentação em Brumadinho, região metropolitana de Belo Horizonte (MG), após o rompimento da barragem de rejeitos da Vale em 25 de janeiro. A articulação informou que observou pontos críticos da atuação da mineradora, ainda sem entrar em detalhes.
O pedido de destituição da diretoria ocorrerá na terça-feira, mesmo dia em que o grupo apresentará “observações preliminares” da missão em Brumadinho, em uma conferência de imprensa.
O evento, segundo o grupo, terá a presença de moradores, representantes de associações comunitárias locais e de organizações que compõem a articulação em outros Estados onde a Vale opera.
O desastre em Brumadinho deixou pelo menos 134 mortos e 199 desaparecidos, após a barragem despejar uma avalanche de rejeitos de minério de ferro em área administrativa e refeitório da Vale, com centenas de funcionários. Também foram atingidos rios, comunidades e mata da região.
A missão, segundo o comunicado, “teve início no dia 29 de janeiro, e visitou diversas localidades diretamente atingidas pela catástrofe, conversando com a população, com familiares de vítimas, e também com órgãos públicos envolvidos na prestação direta de assistência às pessoas afetadas”. “Além de prestar solidariedade e apoio às vítimas deste desastre, a missão teve como objetivo principal a observação e registro da atuação da mineradora nos primeiros dias após o rompimento da barragem, considerando a gravidade das violações a direitos humanos, ambientais, sociais e econômicos”, disse o grupo.
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Na semana passada, o grupo de acionistas minoritários críticos à gestão da mineradora pediu à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) a abertura de inquérito administrativo para investigar se a mineradora “tem omitido informações acerca dos riscos socioambientais de seus empreendimentos no Pará, Maranhão e Minas Gerais”. Segundo o texto, desde 2009, a articulação congrega diferentes grupos, como sindicalistas, ambientalistas, ONGs, associações de base comunitária, grupos religiosos e acadêmicos do Brasil, Argentina, Chile, Peru, Canadá e Moçambique. Seu objetivo central, segundo o grupo, é contribuir no fortalecimento das comunidades em rede, promovendo estratégias de enfrentamento aos impactos ambientais e às violações de direitos humanos relacionados à indústria extrativa da mineração.
A Vale afirmou que não vai comentar as críticas feitas pela Articulação Internacional.
A companhia tem afirmado estar, em um primeiro momento, com foco total nas medidas emergenciais, como na contribuição para amenizar todos os diversos danos causados às vítimas e ao meio ambiente. Dentre as medidas, está realizando uma doação de R$ 100 mil para cada uma das famílias atingidas.
No final de semana, o advogado-geral da União, André Mendonça, afirmou que a mineradora precisa mudar o seu comportamento, apresentando efetiva cooperação e maior transparência em relação aos danos causados pelo rompimento de sua barragem em Brumadinho.
Hoje, a empresa comunicou uma decisão judicial que tem potencial de reduzir a sua produção de minério de ferro em uma escala de aproximadamente 30 milhões de toneladas por ano, considerando que as operações na mina de Brucutu seriam afetadas pela sentença.