O ministro da Economia, Paulo Guedes, atribuiu hoje (5) a alta do dólar para os patamares recentes aos efeitos do coronavírus, à desaceleração econômica e à cobertura da imprensa sobre “choques” entre Executivo e Legislativo e rechaçou questionamentos sobre eventual erro do governo ao prever o PIB do ano passado, dizendo que o IBGE comete erros e que a economia pode ter crescido 1,4% em 2019.
Questionado por jornalistas sobre a possibilidade de a cotação do dólar chegar a R$ 5, Guedes disse que caso “muita besteira” seja feita esse patamar pode ser alcançado.
“Se o presidente pedir para sair, se o presidente do Congresso pedir para sair… Se todo mundo pedir para sair… Se todo mundo falar que… entende… se tiver… bom, às vezes eu faço algumas brincadeiras de professor e isso vira coisa errada”, disse Guedes ao ser questionado sobre o risco de o dólar ir a R$ 5.
“É um câmbio que flutua. Se fizer muita besteira pode ir para esse nível. Se fizer muita coisa certa, ele pode descer”, completou.
Guedes repetiu que o país mudou seu modelo econômico e usou uma nova metáfora: “Agora o modelo é 4×4, tração nas quatro rodas. Juro caiu de 15% para 4%. Câmbio que era R$ 1,80 subiu para R$ 4”, afirmou.
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Perguntado sobre se a alta do dólar para os níveis atuais preocupa, Guedes respondeu: “Quando sobe rápido preocupa, por isso o BC atua”, lembrando ainda que as reformas econômicas ainda não foram integralmente implementadas.
O dólar se aproximou de R$ 4,67 nesta quinta-feira, acumulando alta de quase 16% neste ano.
Considerando um ambiente “normal” de demanda do investidor por “hedge” no dólar, Guedes disse que quem quiser remeter dinheiro para o exterior pode remeter. “O BC está vendendo, está provendo alguma liquidez e está tudo bem. Não tem nada de errado. É um câmbio flutuante. Por isso o BC vende um pouco [de dólar], para não deixar subir rápido demais.”
Guedes citou que a implementação das reformas pode ajudar a baixar o dólar e citou a cobertura da imprensa nesse contexto.
“Como estamos confiantes que o Congresso vai apoiar a reforma, como estamos confiantes que o presidente apoia as reformas e está mandando as reformas, como estamos confiantes que a mídia vai entender que o Brasil está mudando para melhor, é uma questão de tempo, quem sabe se vocês estiverem menos nervosos daqui a um mês e vendo as mudanças econômicas que estão acontecendo o dólar acalma”, disse o ministro.
Guedes disse que o governo vai mandar a reforma administrativa para a Câmara dos Deputados, que já colocou o Pacto Federativo no Senado Federal e que na semana que vem “começamos a entrar com a tributária”.
IBGE
Guedes rejeitou questionamentos sobre o crescimento da economia em 2019 ter ficado abaixo do previsto no começo do ano passado e disse que, se o IBGE mantiver os “30% de erro que ele faz todo ano”, o PIB deverá ter crescido 1,4%, e não 1,1% como divulgado na véspera.
“O que saiu foi uma primeira estimativa para 1,1%. Se o IBGE mantiver os 30% de erro que ele faz todo ano, quem sabe vai subir para 1,4% com essa margem de erro”, afirmou a jornalistas na sede da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
Perguntado, Guedes disse que estimativas acima de 2% eram da Secretaria de Política Econômica (SPE), que faz parte do Ministério da Economia.
O ministro foi questionado pelos jornalistas sobre as declarações feitas mais cedo pelo secretário do Tesouro, Mansueto Almeida, que afirmou não considerar normal país em desenvolvimento como o Brasil crescer 1% ao ano e que, neste cenário, ele mesmo não dorme tranquilo.
“Se o Mansueto estava esperando que fosse crescer 2% ele deve estar frustrado, né? Se o Mansueto estava esperando que fosse crescer 3% ele deve estar frustrado. Se ele estivesse pensando como eu estou pensando que ia ser 2%, eu não estou frustrado. Para mim está acontecendo tudo como tinha que acontecer.”
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Guedes disse que, no primeiro ano, o governo tirou “alguns arpões” – entre os quais ele citou a reforma da Previdência, a redução dos juros e privatizações. “Estamos começando a fazer nosso movimento, mas tudo isso leva tempo.”
CORONAVÍRUS
Guedes disse que, na melhor das projeções, o impacto do coronavírus sobre o crescimento da economia neste ano seria de 0,1% para menos – considerando uma base de cálculo que leva em conta expansão de 2,5%. O pior cenário seria o que a economia cresceria 2%, com impacto, portanto, de 0,5% para menos na taxa do PIB.
“O mundo está em desaceleração sincronizada, o mundo está descendo em altíssima velocidade. O coronavírus vai acelerar a velocidade de queda da economia mundial”, disse, ponderando, contudo, que o Brasil tem uma economia fechada e que, do mesmo jeito que o país se beneficia menos de choques positivos vindos do exterior, deve sofrer menos com o atual revés vindo de fora.
Com isso, o ministro afirmou que neste ano o Brasil cresce “pelo menos 2%”. “Desde o início nossa hipótese de trabalho era de [crescimento de] 1% no primeiro ano e 2% no segundo.”
Perguntado sobre impactos de uma desaceleração da economia chinesa no PIB brasileiro, Guedes disse que o Brasil tem uma dinâmica própria de crescimento e reiterou que o fato de o país estar menos integrado às cadeias de produção conteria o baque.
“O Brasil vende soja para a China. Chinês vai comer com coronavírus ou sem coronavírus, chinês come soja. Chinês come carne, com coronavírus ou sem coronavírus.”
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