Criador da Gastromotiva, organização que usa o alimento como ferramenta de transformação social, David Hertz, 47 anos, começou a se descobrir mochilando pela Ásia, mas hoje sente que não precisa ir tão longe para se conectar consigo e com os outros. “Dois anos atrás, eu falaria que o que me alimenta são as viagens, é estar com gente diferente, conhecer o mundo e tal. Sinto que agora faço isso tudo estando na minha casa e na minha cidade.”
A cidade de adoção do chef curitibano é o Rio de Janeiro, onde em 2016 ele montou o Refettorio Gastromotiva, que servia refeições para a população carente e que desde março de 2020 funciona como banco de alimentos e central de apoio para cozinhas solidárias no Brasil e no México – a meta é fechar o ano servindo 1,5 milhão de refeições por meio de 108 projetos. “O Refettorio me mudou para sempre”, diz Hertz. “Agora está fechado [temporariamente, por causa da pandemia], mas lá a gente via todo dia a cara da pobreza, da fome. Toda hora eu lembrava por que eu acordo, por que a gente faz tudo aquilo e como a gente faz. E tenho gratidão à minha equipe, aos patrocinadores… O segredo é a gratidão.”
Hertz descobriu a gastronomia viajando. “Quando cheguei à Tailândia, com 18 anos, aquela comida de rua me fascinou. Na Índia mais ainda, e me tornei vegetariano, ‘estive’ vegetariano. Também morei no Canadá e aprendi muito.” De volta ao Brasil, ele resolveu fazer daquele fascínio uma carreira. Estudou gastronomia, tornou-se chef e passou a dar aulas de cozinha asiática. “Logo vi que meu talento é na liderança, na gestão, na troca”, diz ele. “Quando visitei a favela, juntei tudo isso na gastronomia social, a gastronomia que transforma vidas.”
A Gastromotiva começou em 2006 como um bufê que treinava cozinheiros. “Até 2019, eu fiquei advogando pela gastronomia social no Fórum Econômico Mundial, no TED, no BID, no Banco Mundial, e com os próprios chefs – fiz muito evento para trazer essa visão. Me associei ao [chef italiano] Massimo Bottura.” A hora agora é outra. “O movimento ganhou força, não depende mais da Gastromotiva. Chegou meu momento de ir de novo à base.”
Ao mesmo tempo que a organização mudava, a vida de Hertz também. De repente, ele se viu no apartamento de Ipanema em que nunca parou, porque estava sempre viajando. Na pandemia, voltou a cozinhar todo dia. “Tenho que cuidar de mim e também deixo que cuidem de mim. Com personal, massagista, minhas práticas de meditação”, diz. “Levo uma vida muito mais integrada. Hoje não consegui meditar de manhã, mas corri. E vou meditar no final do dia, porque agora estou indo a Jacarezinho fazer uma visita.”
As visitas, segundo ele, são essenciais para manter os pés no chão. “Sou um peregrino. Vou [às comunidades] aberto para o aprendizado, assim como quando viajo para qualquer lugar do mundo. Sei que preciso escutar mais do que falar. Mas não preciso ficar quieto. Se tenho uma ideia, levo para eles a esperança.”
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