Em 2013, o empreendedor Chris Dixon estava procurando a próxima grande novidade. Nos anos 1980, foram os computadores pessoais; na década de 1990, a internet; e em 2000, os celulares. Recém chegado à firma de venture capital Andreessen Horowitz, Dixon tinha carta branca para explorar o inusitado: realidade virtual, impressão 3D e drones.
Mas foi uma aposta inicial na Coinbase, a exchange de criptomoedas, que definiu a carreira de Dixon.
A Andreessen Horowitz liderou uma rodada de financiamento de US$ 25 milhões na Coinbase em 2013. Quando a exchange abriu seu capital por meio de listagem direta em abril de 2021, a firma de venture capital detinha uma participação de 15% no negócio, o equivalente a quase 30 milhões de ações.
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Ao fim do primeiro dia de negociação da Coinbase, esses papéis valiam cerca de US$ 10 bilhões – um retorno de aproximadamente 60 vezes. Desde então, a Andreessen Horowitz já vendeu parte das ações, que agora são negociadas a cerca de metade desse preço.
A Coinbase é apenas a cereja do bolo de um portfólio que fez de Dixon, hoje com 50 anos, o novo número um do ranking anual “Midas” da Forbes, que reúne os principais investidores de venture capital.
Outros grandes negócios de Dixon foram a Uniswap, uma exchange de criptomoedas descentralizada (avaliada em US$ 10 bilhões, considerando moedas que ainda não estão em circulação); a Avalanche, uma blockchain de código aberto (US$ 62 bilhões); e a Dapper Labs (US$ 7,6 bilhões), empresa por trás do jogo NBA Top Shot.
Dixon, que hoje vive entre Nova York e Califórnia, é um dos entusiastas mais antigos do mundo cripto – e um dos que mais ganhou dinheiro. Graças ao sucesso de seu primeiro fundo cripto dentro da a16z, como a firma é popularmente conhecida (por causa do número de letras entre o “a” em Andreessen e o “z” em Horowitz), Dixon e sua equipe chegaram ao fim de 2021 com um resultado surpreendente: transformaram US$ 350 milhões em ganhos realizados e não realizados em US$ 6 bilhões, um múltiplo de 17,7 vezes, segundo uma fonte com conhecimento das finanças da empresa de venture capital.
Dixon e a Andreessen Horowitz já estão no mercado levantando novos fundos, disseram fontes à Forbes. A empresa estaria planejando o maior fundo de venture capital de cripto de todos os tempos, com US$ 4,5 bilhões. A empresa não quis comentar sobre seu desempenho ou captação de recursos.
“Independentemente do critério que você use, ele é o principal investidor em criptomoedas”, diz o diretor-gerente da General Catalyst, Hemant Taneja, que aparece na 23a posição do ranking Midas. Ele investiu na primeira startup de Dixon há dezenove anos.
O colega de Dixon e cofundador da firma de venture capital, Ben Horowitz (87o lugar da lista), vai mais longe: “Acho que daqui a 10 anos, todos vão considerá-lo o maior investidor de sua geração”.
Em entrevista à Forbes (ele raramente fala com a imprensa), Dixon minimiza seu próprio jeito de fazer dinheiro. “Meu trabalho não é prever o futuro”, diz ele. “Meu trabalho é ser inteligente o suficiente para saber quem são as pessoas inteligentes e o que elas farão.”
Empreendedor antes de tudo
Filho de dois professores de inglês da Universidade de Wittenberg, Dixon cresceu em Ohio, onde aprendeu sozinho a programar e depois ensinou outros jovens e crianças em acampamentos de verão de tecnologia.
O interesse pela ciência cognitiva e pela lógica levou Dixon a fazer bacharelado e mestrado em filosofia na Universidade de Columbia no início dos anos 1990. Criado para questionar as empresas capitalistas, Dixon desafiou seus pais ao aceitar um emprego como desenvolvedor em um fundo de hedge porque o salário era alto.
Cerca de três anos depois, ele foi para Harvard para obter seu MBA e trabalhou brevemente na empresa de capital de risco Bessemer Venture Partners antes de sair para cofundar sua própria empresa, a SiteAdvisor, que fornecia software que dava alertas sobre presença de vírus e malwares. Um ano depois, a gigante de segurança McAfee comprou o negócio, antes mesmo que a empresa tivesse alguma receita.
Em seguida, Dixon cofundou um mecanismo de recomendação chamado Hunch. Assim como a SiteAdvisor, a empresa foi comprada – desta vez pelo eBay – por cerca de US$ 75 milhões em 2011. Cansado de construir e vender duas empresas, Dixon teve uma escolha a fazer: permanecer como investidor individual, seguir carreira escrevendo blogs e fazendo podcasts ou se tornar um investidor de venture capital.
Enquanto construía o Hunch, Dixon começou a investir seu próprio dinheiro em outras startups da então minúscula cena de tecnologia de Nova York – algumas delas inclusive usavam parte dos escritórios do Hunch.
A carteira de mais de 50 investimentos pessoais de Dixon incluía a plataforma de crowdfunding Kickstarter (2009), o Pinterest (2011) e o negócio de pagamentos online Stripe (2012). Ele também ajudou a lançar um fundo, o Founder Collective, no qual ele investiu ao lado de vários outros empreendedores de sucesso que se tornaram investidores-anjo, incluindo David Frankel (nº 11 do ranking Midas de 2022), Bill Trenchard (nº 86), e Eric Paley (que já apareceu em edições anteriores da lista).
Mas no Vale do Silício, a meca da tecnologia, Dixon ainda era predominantemente conhecido pelo blog pessoal que lançou em 2009, no qual compartilhava conselhos táticos sobre startups, reflexões pessoais e pensamentos sobre grandes empresas de tecnologia. Entre os destaques do site, que ainda está ativo, está um aviso de 2011 para a indústria do entretenimento sobre a Apple TV e uma defesa de tokens não fungíveis (NFTs) feita dez anos antes do boom de negociações.
Apesar de Dixon ter previsto, já naquela época, que a cena de tecnologia de Nova York iria eventualmente decolar, investir tão longe da Califórnia o deixava à margem do mercado.
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Para a sorte dele, Marc Andreessen e Horowitz, os fundadores da firma de capital de risco que se tornaria a mais disruptiva do setor, eram ávidos leitores do blog de Dixon e o convidaram para se juntar a eles na Costa Oeste. “É assim que posso deixar minha marca”, diz Dixon, sobre o que pensou à época. “Eu posso ir descobrir a próxima grande novidade e estar presente quando tudo acontecer.”
A busca por investimentos “de fronteira”, ou “moonshot”, como Dixon chama o processo, o levou a investir na Oculus, a startup de realidade virtual adquirida pelo Facebook, na empresa de drones Skydio e na Ripple, de criptomoedas.
Dixon teve uma segunda chance de apostar na empresa de outro leitor seu, Brian Armstrong, um dos fundadores da Coinbase e seu atual CEO. O investidor fez um aporte na 21.co, uma startup de mineração de bitcoin fundada pelo ex-sócio da a16z Balaji Srinivasan.
Dixon, Srinivasan e Armstrong conversaram por quatro horas em 2013, conta Armstrong, e chegaram a um consenso sobre a necessidade de compliance regulatório pelas empresas de criptoativos. Dixon liderou a série B da Coinbase em dezembro daquele ano, juntando-se a investidores como Garry Tan (nº 28 do ranking Midas ) e Fred Wilson (nº 73).
Nos anos seguintes, a Andreessen Horowitz foi a única empresa a participar de todas as rodadas de financiamento, incluindo uma “rodada de baixa” realizada com uma avaliação de mercado menor do que as anteriores, disse Armstrong à Forbes por email.
Dixon ajudou em tudo, desde encontrar nomes para o conselho e obter financiamentos até pressionar a Coinbase para oferecer suporte à negociação de Ethereum e outros ativos além do Bitcoin. “Posso dizer com confiança que a a16z foi o investidor com maior impacto na Coinbase”, diz Armstrong. “Chris tem uma capacidade única de ver além do presente, especialmente quando se trata de tecnologia.”
Mais de dez investidores do ranking Midas deste ano têm a Coinbase como um de seus principais investimentos – ela é a terceira empresa que mais aparece na lista. O grupo que apostou na exchange inclui desde os especialistas em early-stage Fred Wilson e Garry Tan a David George e Matthew Witheiler, especialistas em growth.
Chris Dixon, da Andreessen Horowitz, lidera a lista não só por ter começado a investir cedo na exchange, mas por sua convicção: ele participou de todas as 15 rodadas de financiamento.
Em 2018, quando Dixon se comprometeu a investir apenas em negócios ligados a criptomoedas, ele foi um dos primeiros investidores amplamente conhecidos a se arriscar no setor, que ainda era incipiente.
Agora, ele e a16z enfrentam uma concorrência cada vez mais forte vinda tanto de empresas generalistas de capital de risco, que têm alocado mais recursos no mundo cripto, quanto de rivais especialistas, como a Paradigm, cofundada pelo outro fundador da Coinbase, Fred Ehrsam.
A devoção de Dixon às criptomoedas e a disposição de persistir no setor mesmo durante os tempos de baixa o diferenciam dos demais investidores. Hayden Adams, CEO da Uniswap, diz que a capacidade de Dixon de unir os mundos da tecnologia e das finanças tradicionais com o de criptomoedas provou ser crucial na contratação de um COO (o profissional tinha recebido uma proposta da Black Rock) e um vice-presidente de engenharia que estava no radar da Snap.
Dixon foi um dos primeiros investidores da exchange descentralizada Uniswap – ele fez um aporte durante a Série A, apenas uma rodada depois da Paradigm, que chegou primeiro.
Roham Gharegozlou, CEO da Dapper Labs, dá crédito a Dixon pela previsão do boom dos NFTs. Sua empresa criou um dos primeiros colecionáveis digitais na blockchain Ethereum, o CryptoKitties – Dixon comprou a Kitty nº 15. “Chris viu toda essa indústria antes de ela começar”, diz Gharegozlou.
Credenciais como essas são inestimáveis em um meio que valoriza “early adoption” e fortes convicções acima de tudo. Elas também indicam que Dixon, se assim quisesse, poderia facilmente abrir seu próprio negócio e levantar bilhões. (Katie Haun recentemente deixou a a16z para fazer exatamente isso com a Haun Ventures – ela arrecadou US$ 1,5 bilhão.)
Por enquanto, Dixon, seus colegas e seus amigos insistem que ele não tem interesse numa carreira solo.
“Não é essa coisa de ter o nome na fachada que me motiva”, diz Dixon. “Para mim, os próximos três anos provavelmente serão a era de ouro [das criptomoedas]. Então eu realmente não quero passar os próximos dois anos montando algo do zero, recrutando uma equipe e fazendo coisas desse tipo.”
Várias fontes disseram à Forbes que Dixon e a16z estão dizendo aos investidores que planejam eventualmente incorporar o fundo de investimentos em criptomoedas ao portfólio geral da a16z. A mudança seria significativa e indicaria uma adesão mais ampla à Web3 pela empresa, segundo as fontes; o setor de criptomoedas seria considerado estratégico demais para permanecer isolado em um único fundo. Um porta-voz da Andreessen Horowitz se recusou a comentar.
Web3 e polêmica com Jack Dorsey
A adoção das criptomoedas pelo público em geral é algo que está constantemente no radar de Dixon. Em setembro passado, uma série de tuítes do investidor viralizou – nos posts, Dixon explicava “por que a Web3 é importante”.
Em dezembro, sua defesa da ideia da Web3 como internet descentralizada que dá mais poderes aos usuários, algo que, segundo ele, não acontece por causa de empresas da Web2” como Facebook ou Twitter, o colocou na mira do cofundador do Twitter Jack Dorsey.
Dorsey, que já não era mais CEO da rede social, respondeu de forma incisiva. “Você é um fundo determinado a ser um império de mídia que não pode ser ignorado… e não Gandhi”, tuitou Dorsey, argumentando que a Web3 ainda teria donos, e dessa vez eles seriam empresas de venture capital.
A briga terminou com Andreessen bloqueando seu colega bilionário no Twitter. Dixon não bloqueou Dorsey, mas baniu outros usuários de seu perfil. Hoje ele diz que “provavelmente exagerou”, invocando o popular meme do Twitter que diz que para vencer no jogo do Twitter, o objetivo é não ser o protagonista do dia – naquele dia, ele perdeu.
Dixon leva esses ataques para o lado pessoal, dizem os colegas, em nome de empreendedores sem influência que não têm como enfrentar essas personalidades online. “Acho que ele pode parecer um pouco rude ou rabugento às vezes, mas ele faz essas coisas com as melhores intenções”, diz Arianna Simpson, sócia da área de criptomoedas da a16z.
Dixon agora fornece uma visão mais comedida para Dorsey ou outros líderes de tecnologia que questionam o potencial descentralizador da Web3. “Minha resposta seria: ‘ei, ótimo, venha se juntar a nós e nos ajude a descobrir esses problemas’”, diz ele. “Ao contrário de ficar jogando granadas do lado de fora, que é o que eu sinto que acontece.
É difícil para o investidor número um do mundo se passar por um azarão, mas Dixon insiste que, quando as pessoas dizem que o mundo cripto é “apenas uns moleques de tecnologia apostando e ganhando dinheiro” o potencial do setor está sendo mal compreendido.
Longe de fugir do debate público, Dixon planeja passar mais tempo este ano em Los Angeles reunindo-se com criadores e formadores de opinião da indústria do entretenimento. Ele quer convencê-los que a Web3 tem o potencial de oferecer mais poderes aos usuários sobre os conteúdos. Mais tarde, Dixon quer levar artistas e outros nomes importantes a Washington, D.C. para ajudar a mudar a opinião de congressistas.
Essa aceitação mais ampla dos criptoativos, é claro, apenas aumentaria o valor considerável do portfólio de investimentos de Dixon. Mas ele insiste que simplesmente aumentar os retornos não é seu único objetivo.
“Somos uma empresa de capital de risco, não estou tentando fingir o contrário”, diz ele. “Mas estou motivado porque acho que [a Web3] é um movimento muito importante e quero ter impacto nele. Eu acredito profundamente nisso.”