A Shell anunciou hoje (28) que sairá de todas as suas operações russas, incluindo joint ventures com a estatal russa de gás Gazprom e uma grande usina de gás natural liquefeito (GNL), tornando-se a mais recente grande empresa de energia ocidental a deixar o país rico em petróleo após a invasão da Ucrânia por Moscou. E empresa disse que seus ativos nos empreendimentos representavam cerca de US$ 3 bilhões (R$ 15,4) em valor no final do ano passado e observou que sua decisão de abandoná-los levaria a prejuízos ou perdas contábeis.
Em um comunicado, a Shell, com sede em Londres, disse que sairia de uma participação de 27,5% em uma instalação de gás natural liquefeito sediada na Ilha de Sakhalin, na Rússia; uma participação de 50% no Salym Petroleum Development, um grupo de campos de petróleo na Sibéria Ocidental; e uma participação de 50% em um empreendimento de energia na península de Gydan.
A Sakhalin 2 é operada e 50% de propriedade da gigante russa de gás Gazprom fica na costa nordeste da Rússia. Enorme, produz cerca de 11,5 milhões de toneladas de GNL por ano, que é exportado para importantes mercados, incluindo China e Japão.
Comunicado
“Nossa decisão de sair é uma que tomamos com convicção”, disse o CEO da Shell, Ben van Beurden, acrescentando que a empresa “trabalhará nas implicações comerciais detalhadas” em conformidade com uma lista crescente de sanções contra a Rússia.
A Shell, que não respondeu imediatamente ao pedido de comentário da Forbes, não forneceu um cronograma para sua saída da Rússia ou indicou como sairia de suas participações, mas disse que também encerraria seu envolvimento com o oleoduto Nord Stream 2, um investimento de US$ 11 bilhões (R$ 56,7 bilhões), projeto submarino que liga a Rússia à Alemanha.
A decisão ocorre um dia depois que a rival BP abandonou sua participação de quase 20% na gigante petrolífera russa Rosneft, em um movimento que pode custar à empresa britânica mais de US$ 25 bilhões (R$ 129 bilhões). A Equinor, da Noruega, também planeja sair da Rússia.
“Estamos chocados com a perda de vidas na Ucrânia, que lamentamos, resultante de um ato de agressão militar sem sentido que ameaça a segurança europeia”
Ben van Beurden, CEO da Shell
Contexto
As consequências econômicas desde que o presidente russo Vladimir Putin ordenou a invasão da Ucrânia na quinta-feira se intensificaram em meio a uma crescente lista de sanções contra o governo russo, empresas e oligarcas. Hoje pela manhã, o Tesouro dos EUA anunciou seu último lote de sanções, impedindo qualquer cidadão americano de fazer negócios com o banco central da Rússia, o Ministério das Finanças ou o Fundo Nacional de Riqueza e congelando os ativos de entidades sancionadas nos EUA.
A BP e a Shell não estão sozinhas em se afastar das empresas russas. O fundo soberano da Noruega disse ontem que venderá seus ativos russos, no valor de cerca de US$ 2,8 bilhões (R$ 14,45 bilhões), e o banco britânico HSBC teria dito a funcionários que deixaria de trabalhar com vários bancos russos.
À medida que as ações e fundos russos caíram, especialistas alertaram que as crescentes sanções internacionais que punem a Rússia tornaram o país “cada vez mais ininvestível para investidores globais”, em grande parte porque as medidas visando os ativos de reserva do banco central ajudaram a empurrar o rublo para mínimos recordes.
Enquanto isso, várias empresas tomaram outras medidas de retaliação, como a Meta, controladora do Facebook, por exemplo, restringindo o acesso a contas de mídia estatal russa na Ucrânia.
Saída da BP de estatal russa
A BP disse ontem (27) que planeja abandonar sua participação de 19,75% na gigante petrolífera russa Rosneft após a invasão da Ucrânia pela Rússia, encerrando de maneira abrupta 30 anos de operação no país rico em petróleo.
A gigante britânica de petróleo e gás não disse como planeja se livrar da participação, o que, segundo ela, resultaria em encargos de até US$ 25 bilhões (R$ 129 bilhões) ao final do primeiro trimestre. A Rosneft responde por cerca de metade das reservas de petróleo e gás da BP e um terço de sua produção.
“Fiquei profundamente chocado e triste com a situação que se desenrola na Ucrânia e meu coração está com todos os afetados. Isso nos levou a repensar fundamentalmente a posição da BP com a Rosneft”, disse o presidente-executivo da BP, Bernard Looney.
A decisão representa o passo mais ousado de uma empresa petrolífera ocidental com exposição à Rússia em meio a uma crise crescente entre o Ocidente e Moscou.
A BP disse que a notícia não afetará suas metas financeiras de curto e longo prazo que incluem estratégia de deixar para trás petróleo e gás em detrimento dos combustíveis de baixa emissão de carbono e energia renovável.
Looney e seu antecessor, Bob Dudley, deixarão o conselho da Rosneft, que a BP adquiriu após a venda de 12,5 bilhões em ações da TNK-BP em 2013.
O secretário britânico de Negócios, Kwasi Kwarteng, que na sexta-feira expressou “preocupação” com a participação da BP na Rosneft em uma ligação com Looney, disse no Twitter que gostou da decisão.
“A invasão não provocada da Ucrânia pela Rússia deve ser um alerta para as empresas britânicas com interesses comerciais na Rússia de Putin”, disse ele.
Por conta da participação, a BP recebeu receita da Rosneft na forma de dividendos que totalizaram cerca de 640 milhões de dólares em 2021, cerca de 3% do fluxo de caixa das operações da BP.
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(Com informações da Forbes USA e da Reuters)