Os mercados financeiros iniciaram a segunda-feira (5) sob uma forte onda vendedora (sell-off). Um tsunami voltou a atingir o Japão, com o índice acionário Nikkei 225 registrando a segunda pior queda percentual diária, atrás apenas do crash das bolsas globais em 1987.
Os ativos de risco globais fazem lembrar aquela que ficou conhecida como a “Segunda-feira Negra” de quase 40 anos atrás. O sinal vermelho se espalha pelos mercados no Ocidente, contaminando o Ibovespa, que despencou 2% no início do pregão.
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As bolsas de Nova York afundam mais de 3%, com o índice Nasdaq mergulhando dentro do território de correção. Mas a queda das big techs americanas está relacionada à valorização do iene – que, por sua vez, também explica o tombo do real frente ao dólar, com a moeda norte-americana superando a máxima histórica de R$ 5,80.
Isso porque a moeda japonesa tornou-se popular entre os grandes investidores para financiar operações de carregamento (carry trade) em meio ao descompasso entre as políticas monetárias no Japão e nos Estados Unidos. Ou seja, enquanto o Federal Reserve mantém há mais de um ano os juros americanos nos níveis mais altos desde 2001, o Banco Central japonês (BoJ) sustentava taxas negativas até março.
Assim, os players globais tomaram risco assumindo empréstimos mais baratos em iene para comprar outros ativos – entre eles, as ações de tecnologia dos Estados Unidos e a montagem de posições contra o real. Agora, porém, esse movimento é desfeito, agora que a moeda japonesa parece ter revertido a tendência de baixa.
Tanto que o iene está no nível mais alto desde janeiro, já na faixa de 140 por dólar. Alguns meses atrás, a aposta era de que a relação dólar/iene iria buscar o intervalo entre 170 e 180.
Trata-se, portanto, de um movimento sincronizado que explica o movimento dos mercados globais. “O que há, basicamente, é uma rápida reversão, já que os investidores vendem ativos para financiar suas perdas”, diz Kyle Rodda, analista sênior da Capital.com.
Japão + Recessão = pânico extremado
Vale lembrar que a Bolsa de Tóquio reagiu apenas nesta segunda-feira (5) aos dados fracos sobre o mercado de trabalho nos EUA (payroll), divulgados na última sexta-feira. Na ocasião, o aumento da taxa de desemprego pelo quarto mês seguido somado à criação de menos postos de trabalho que o esperado elevaram o temor de uma recessão da maior economia do mundo.
Os investidores passaram a suspeitar que o ciclo de aperto monetário do Fed entre 2022 e 2023 – o mais rápido e intenso da história do BC dos EUA – tenha afetado a atividade econômica norte-americana mais do que o previsto. Para eles, o mercado de trabalho estaria entrando em colapso – e não apenas esfriando.
No entanto, William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue, afirma que é muito difícil justificar e entender movimentos de pânico no mercado. “Logo, tais movimentos muitas vezes não possuem necessariamente um forte condicionante nos fundamentos econômicos”, diz.
É o caso do atual receio de recessão dos EUA. O temor é tanto que leva o mercado a apostar em um corte emergencial pelo Fed antes da reunião no mês que vem. “Vemos a reação do mercado como exagerada e repercutindo um receio de uma forte e/ou grave recessão a frente como altamente incerta”, afirma o estrategista.
Luiz Rogé, sócio-gestor da Matriz Capital Asset, também diz acreditar que a reação do mercado é exagerada. “É sim uma reação exagerada em função de uma tentativa de correção nos mercados”, diz.
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Tal visão encontra respaldo entre as empresas. Durante entrevista para comentar os resultados do banco, o presidente-executivo do Bradesco, Marcelo Noronha, afirmou que considera exagerada a reação do mercado sobre os riscos de recessão dos EUA. “A reação do mercado é absolutamente extremada”, afirmou o executivo.