Quando Paulo Kakinoff assumiu a presidência da Gol, em julho de 2012, os comentários no mercado eram de que a empresa poderia estar próxima da falência. Não era para menos. A companhia aérea fecharia aquele ano com prejuízo de R$ 1,5 bilhão, o maior desde o início de suas operações, em 2001. O executivo, apesar do pepino que tinha diante de si, estava preparado para assumir a bronca. Para ele, ter a chance de reverter o resultado negativo era extremamente estimulante.
No início, o que gerou certa insegurança em Kakinoff não foi o prejuízo bilionário à espera de uma solução, mas sim a mudança do perfil de seu cliente. Ele estava deixando a presidência da Audi, focada no mercado de luxo, para encarar a classe média. “Era um enorme desafio e fiquei na dúvida se seria capaz”, lembra. Mas a lição de casa estava feita. Por dois anos, Kakinoff havia sido membro do conselho de administração da Gol e já estava totalmente familiarizado com os negócios da companhia.
No ano que vem, o executivo entra na terceira (e última) fase do projeto de recuperação da empresa desenhado em 2012: gerar lucro. Ao que parece, ele tem conseguido se aproximar da meta. Em 2013, o prejuízo da Gol caiu pela metade, chegando a R$ 724 milhões. No segundo trimestre de 2014, resultado mais recente divulgado pela companhia, o prejuízo ficou em R$ 145 milhões, queda de quase 70% na comparação com o mesmo período de 2013.
Mas ele ainda não está contente. Por conta do aumento do preço do querosene de aviação, da desvalorização do real e da inflação, os custos da companhia aumentaram 20% de abril a junho deste ano na comparação com o mesmo trimestre de 2013. E o executivo quer reverter essa conta. “Trata-se de um aumento pontual, mas que está no nosso radar. Como companhia que se propõe a ter as menores tarifas do mercado, temos os custos como parte da nossa estrutura. É nossa coluna vertebral”, afirma.
Kakinoff tem 23 anos de carreira, sendo 18 deles em cargo executivo. Assumiu a presidência da Audi em 2009, aos 34 anos, e considera esse período como um dos mais desafiadores de sua trajetória profissional. “Peguei a fase de reposicionamento da marca. Entre 2007 e 2009, a montadora sofreu com a falta de produtos e enfrentou dificuldades com as concessionárias. A imagem da marca estava arranhada”, lembra.
Na Gol, ganhou a cadeira de CEO aos 37 anos. No momento, trabalha para fechar a segunda fase da recuperação da empresa: alcançar o que ele chama de fluxo de caixa livre. A ideia é conseguir um volume de lucro operacional que possibilite à companhia fazer frente às despesas financeiras sem ter que reduzir o caixa. “Cumpriremos a meta até o final do ano.” Na primeira fase do plano, concluída em 2013, a empresa promoveu uma redução do quadro de colaboradores, vendeu aeronaves com baixa eficiência, modificou a malha operacional e avançou na pontualidade de seus voos. Todas essas ações contribuíram para uma melhora no lucro operacional.
Hoje com 40 anos, ele relembra o que o fez chegar ao cargo de CEO tão jovem. “Foi fundamental ter identificado bem cedo, entre os 17 e 18 anos, a área em que eu queria trabalhar. Por conta dessa certeza, consegui me especializar”, afirma. Seu foco, desde o início da carreira, era atuar em empresas de alta tecnologia com grande volume de produção – no caso, a Volkswagen, onde começou como estagiário e depois a Audi do Brasil, que pertence ao grupo alemão – ou serviços, onde se encaixa a Gol.