Paulistas adoram uma pizza. Gostam tanto que há 11 mil estabelecimentos no estado servindo por volta de 1 milhão de unidades por dia. Diante desse cenário, Jorge Aguirre, presidente da Pizza Hut São Paulo, poderia ser enquadrado na categoria de “vendedor de gelo para esquimó”. Afinal, como comercializar uma criação tipicamente americana, com massa e cobertura tão atípicas na capital mundial da pizza (sim, no Brasil consumimos mais pizzas que os italianos)? “Ir à pizzaria é uma coisa, ir à pizza Hut é outra. Não é melhor nem pior. É diferente. É um produto que você não encontra em outro lugar. Ele é inimitável, compete pelo share of stomach e, até o momento, tem tido muito sucesso”, afirma o responsável por transformar a Pizza Hut de São Paulo em um benchmark para a companhia no mundo.
Com 13,5 mil restaurantes espalhados por 87 países – cerca de 8 mil só nos Estados Unidos –, mais de 840 franqueados e faturamento da ordem de US$ 12 bilhões, a Pizza Hut tem, na unidade do terminal 2 do Aeroporto Internacional de Guarulhos (SP), sua operação best-seller. “É a loja de maior faturamento do mundo há quase quatro anos, em qualquer métrica que você escolher. Tanto em número de passageiros quanto em faturamento, independentemente da moeda”, explica Aguirre. E acrescenta: isso dentre todas as unidades das marcas da controladora da Yum! Brands, que detém ainda Taco Bell e KFC e tem mais de 42 mil estabelecimentos no mundo.
Desde março, este engenheiro agrônomo carioca de 65 anos e com 40 anos de experiência no setor de alimentação é um dos nove conselheiros da Pizza Hut global. O fato de ter trilhado sua carreira em grandes companhias de alimentos como o Bob’s, a Nestlé, a Kraft Foods, a Embaré, o McDonald’s e a divisão de restaurantes da Pepsico (a antiga dona da Pizza Hut) o alçaram à posição atual.
Além de participar das discussões em torno do futuro da rede americana de alimentação, Aguirre observa seus pares para tentar implementar os melhores processos e resultados no país e também compartilha seus aprendizados locais.
O próximo voo da operação de São Paulo? Aguirre aposta em algumas frentes: expansão dos restaurantes, criação de novos modelos de negócios e também produtos, a exemplo da recém-lançada slider, um disco de pizza de 70 gramas e preço acessível (R$ 4,90).
De olho no apetite dos passageiros, Aguirre também passou a sobrevoar com mais atenção outros aeroportos. Hoje, além de Guarulhos, ele está levando – ou ampliando – a marca Pizza Hut para outros aeroportos, a exemplo de Congonhas (SP) e Viracopos (Campinas). Em 2015, a expectativa é aterrissar nos aeroportos de Brasília e do Rio de Janeiro (Santos Dumont), locais estratégicos dada a alta movimentação de passageiros, visitantes e funcionários.
Com 40 unidades em operação (oito a mais que em 2013), a Pizza Hut São Paulo deve encerrar 2014 com faturamento de R$ 160 milhões, um salto de 22% nas vendas. Se contabilizadas as mesmas lojas, o avanço registrado é de 10%. A título de curiosidade, a segunda maior loja da Pizza Hut em receita é a do Shopping Center Norte, em São Paulo. O próximo passo é abrir uma unidade no Shopping Metrô Itaquera, perto da Arena Corinthians. A previsão é inaugurá-la em abril de 2015.
Neste ano de Copa do Mundo, eleições, inflação alta e PIB baixo, Aguirre recolocou a Pizza Hut São Paulo de volta à mídia televisiva após dez anos de ausência. A campanha focou nos clássicos produtos em 21 canais da TV a cabo. Suas previsões para 2015, apesar das incertezas dos cenários político e econômico, são de atividade crescente. “Nosso negócio é saudável e nosso plano de crescimento está a todo vapor”, garante.
Em 1999, Aguirre foi convidado pela Pizza Hut dos Estados Unidos para ser o franqueado de São Paulo – o acordo cobre a Grande São Paulo, com uma população de 20 milhões de pessoas, e os aeroportos de Brasília para baixo. Naquele momento, ele se juntou a sócios americanos – dois antigos executivos da Pepsico dos Estados Unidos interessados em atuar no Brasil. O mercado de então era bem diferente do atual. “O brasileiro não comia fora como hoje. Atualmente, alimentar-se na rua é uma necessidade. Antigamente era considerado um passeio. Mas havia, claro, sinais de que a marca podia crescer”, recorda o empresário.
Hoje, a Pizza Hut São Paulo responde por mais de 50% das vendas da marca no país e emprega 1,5 mil pessoas (10% da terceira idade). A franqueada é controlada pela BFFC (Brazil Fast Food Corporation, que é dona do Bob’s) e tem como sócios Aguirre e a Rosenberg Partners.
Embora o Brasil todo tenha apenas 84 unidades da marca e uma receita de US$ 130 milhões em 2013 (uma gota no oceano criado pela empresa), os aprendizados locais acabaram servindo de inspiração e atenção para os mercados internacionais. O sabor mais vendido da marca em solo nacional é a pizza brasileira, desenvolvida logicamente no país e que leva mussarela, Catupiry, presunto e azeitonas verdes. Na sequência, no ranking das mais pedidas, aparecem a pepperoni, supreme (que combina ingredientes como pepperoni, carnes e mussarela) e mussarela.“Nos Estados Unidos, as pizzas com carne já são mais populares”, observa Aguirre.
Na gestão de Aguirre, a operação de São Paulo avançou em diferentes formatos: dine-in (tradicional restaurante), delivery e express (lojas menores instaladas em pontos como os shoppings). Para atrair todos os tipos de consumidores, a marca oferece desde a minipizza unitária Slider por R$ 4,90; a superfatia que equivale a três pedaços de pizza e custa a partir de R$ 9,90 dependendo do local; bufê de almoço a R$ 24,90, com saladas, massas e pizzas; além de pizzas com massas recheadas e sobremesas exclusivas elaboradas com marcas como Hershey’s e M&M’s. Cerca de 30% dos clientes pedem pizza.
Há modelos que, à primeira vista, não parecem tão lucrativos, a exemplo do bufê do almoço. Aguirre explica que tudo ajuda. “Você consegue amortizar os custos fixos, já que com ou sem movimento a luz continuará acessa, os funcionários estarão lá e a casa se manterá aberta a tarde toda. Somos a única pizzaria aberta o dia todo”, diz.
Recentemente, a Pizza Hut também revisou seu modelo de pedidos, que antes era feito por telefone. Hoje, ele é 100% online, com o cardápio na internet, fotos e preços. O tíquete médio no delivery é de R$ 50 enquanto nas lojas é de R$ 35.
Em janeiro, Aguirre também rompeu com uma tradição antiga da Pizza Hut São Paulo, que foi a troca de Pepsico para Coca-Cola. “Traz uma alternativa interessante ao consumidor e gera certa agitação ao cardápio.” O chope também mudou. Agora, é da Heineken.