Uma maquiadora se debruça sobre Beth Lusko, aplicando uma sombra bronze para complementar o bronzeado que a cliente pegou em sua luxuosa casa de veraneio à beira-mar. Ao mesmo tempo, uma cabeleireira seca os longos cabelos úmidos, fazendo cachos. As duas profissionais trabalham sem atrapalhar uma a outra, com a facilidade de quem é experiente. A cena não seria de estranhar nos bastidores de um desfile de moda, mas está acontecendo na cozinha do apartamento de Beth em Manhattan, às 8 horas da manhã de uma terça-feira. Suas duas crianças pequenas se revezam subindo e descendo de seu colo.
A executiva do ramo editorial, 39 anos, marcou a sessão usando o Glamsquad, serviço de beleza sob demanda lançado em 2014. Beth usa o aplicativo móvel da startup para pedir a visita de profissionais de beleza a sua casa, geralmente antes de apresentações ou de jantares de trabalho. Em Nova York, o Glamsquad está se tornando rapidamente um nome conhecido entre as mulheres muito ocupadas e de alto poder aquisitivo. “É difícil conseguir o horário das 6h30 às 7h30 da manhã”, diz ela. Uma visita de meia hora custa US$ 155, incluindo a gorjeta.
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A CEO da Glamsquad é Alexandra Wilkis Wilson, cofundadora do site de ofertas diárias Gilt Groupe. Ela deixou a bilionária empresa de comércio eletrônico depois de sete anos para dirigir a Glamsquad, atraída por seu colega de graduação em Harvard Jason Perri, que é cofundador e presidente do site. Alexandra viu o potencial de lucro que havia em aplicar o modelo do Uber em um mercado diferente e enorme: os spas e salões de beleza dos Estados Unidos, que vão faturar US$ 40 bilhões este ano à custa de uma força de trabalho com 65% de autônomos.
A princípio, Alexandra entrou como consultora e assumiu o cargo mais alto em setembro último, antes de investir pessoalmente na startup. “Fui fisgada de várias maneiras”, diz ela no escritório da Glamsquad em Manhattan. O saguão com ênfase na cor rosa serve também de salão de beleza para treinamento. A empresa não divulga informações financeiras, mas FORBES calcula um faturamento bruto de cerca de US$ 8 milhões no primeiro ano. Alexandra quer lançar o serviço em 15 cidades nos próximos dois anos. Atualmente, são três: Nova York, Los Angeles e Miami, grandes polos de estilo. Até agora, a startup angariou US$ 9 milhões em duas rodadas de investimento. No entanto, trata-se de um mercado apinhado, com praticamente nenhum obstáculo à entrada: uma rápida pesquisa na loja de aplicativos do iPhone revela um monte de empresas que oferecem serviços semelhantes, com nomes como Stylisted, Beautified e BeautyBooked, todas nos Estados Unidos.
Das concorrentes da Glamsquad, a mais respeitável é a Vênsette, que foi fundada em 2010 pela ex-analista de fundos de hedge Lauren Remington Platt e oferece sessões de beleza em casa a partir de US$ 100 — o dobro do preço que a Glamsquad cobra para fazer o cabelo. “Têm surgido vários serviços sob demanda mais baratos, mas aí você está arriscando a qualidade”, diz Lauren. Uma das primeiras consultoras da Vênsette foi ninguém menos que Alexandra Wilkis Wilson; a relação acabou antes de Alexandra se tornar CEO da Glamsquad. Lauren, que conseguiu financiamentos no valor de US$ 3 milhões, deixou isso para trás. “Nós estamos muito concentrados nas vendas”, diz ela. “Queremos ganhar dinheiro.”
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Nenhuma das duas empresas existiria se não fosse o sucesso estrondoso da Drybar, rede com quase 50 salões fundada pela estilista de cabelo californiana Alli Webb em 2008. Como não oferece cortes nem tingimentos, a empresa mantém as despesas baixas e as margens altas. Este ano, as receitas chegarão a US$ 70 milhões. A Drybar ajudou a consolidar a ideia de que fazer o cabelo pode ser um hábito acessível, e não uma extravagância reservada para uma festa de casamento. Em julho, Alli lançou o Dry on the Fly, aplicativo de serviços de cabelo em casa que concorre diretamente com o Glamsquad e cobra US$ 75 por um dos penteados que são as marcas registradas da Drybar.
A beleza móvel não é um conceito novo: cabeleireiros, manicures e massagistas atendem em domicílio há muito tempo. O que o Glamsquad oferece às mulheres é satisfação imediata. O profissional pode chegar à casa ou ao trabalho da cliente em menos de uma hora. A clientela da empresa já está acostumada a usar aplicativos de atendimento rápido como o Instacart, para entrega de compras de supermercado em uma hora; o Flycleaners, para retirada de roupas para lavar; e o Shyp, para serviços de correio sob demanda.
A rodada de financiamento de US$ 7,5 milhões da Glamsquad, realizada em outubro, foi liderada por uma mulher: Marissa Campise, do SoftBank. Alexandra acha que esse fato é significativo: “Ela não precisou perguntar à esposa, à irmã ou à filha. Ela simplesmente entendeu”.
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Quando Marissa fez sua pesquisa, viu um mercado fragmentado e uma clientela de mulheres ricas que fazem o cabelo uma vez por semana. “Alguns homens não sabem o quanto as mulheres gastam com serviços de beleza”, ela explica. “Eu vejo isso como minha vantagem de investimento.”
As startups de beleza on-line que não têm os contatos nem o histórico de Alexandra Wilson vêm tendo dificuldades para angariar fundos. Quando a empreendedora de São Francisco Melody McCloskey fundou a plataforma de agendamento de sessões de beleza StyleSeat quatro anos atrás, teve de financiá-la com recursos próprios. “Ser uma startup de cabelo no Vale do Silício em 2011 era uma piada”, ela comenta, acrescentando que muitos investidores homens não entendiam a proposta. “Eles vão à [rede de salões masculinos] Supercuts.”
De lá para cá, Melody levantou quase US$ 40 milhões em capital de risco após mostrar aos investidores o crescimento orgânico de sua empresa, com 1,5 milhão de sessões agendadas por mês pelo StyleSeat. “A proposta não precisou ter nada a ver com estilistas de cabelo”, diz ela.
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O sucesso obtido até agora pela StyleSeat, a Glamsquad e a Vênsette pode abrir o caminho para que mais empresas dirigidas por mulheres consigam financiamento. Alexandra concorda, citando uma pesquisa recente feita pela empresa de capital de risco First Round Capital. Entre os quase 600 fundadores do portfólio
da empresa, os que fazem parte de uma equipe liderada por uma mulher tem um desempenho 63% melhor do que aqueles cuja equipe é totalmente masculina.
Resta ver se há espaço no mercado para a crescente lista de concorrentes da Glamsquad. A corrida diária de mulheres como Beth Lusko para conseguir uma sessão de serviços de cabelo em domicílio às 6h30 da manhã indica que existe demanda. “Preciso fazer muitas coisas até as 9h da manhã”, diz Beth. “Não quero abrir mão de ver meus filhos para fazê-las.”