Não quer tomar uma água? Um suquinho? Toma um suquinho? Uma cervejinha? Uma cerveja sem glúten! Você vai pirar!” Do outro lado, não havia um vendedor insistente ou um garçom disposto a empurrar a maior das novidades do ambiente em que trabalha. Do outro lado, havia Giovanna Antonelli, a atriz que interpretou a vilã Atena na novela “A Regra do Jogo”, da Globo, te seduzindo (sim, essa é a palavra) a consumir algo que jamais pensaria no minuto anterior à conversa descrita no início deste texto. Cerveja sem glúten? Agora só faltava oferecer um hambúrguer que não fosse de carne.
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Pois bem: o próximo passo seguiu esse roteiro e, para surpresa deste repórter, resistente a elaborações que fujam das combinações clássicas, prontamente aceito. A conversa em meio às dezenas de mesas do restaurante Pomar Orgânico, no Rio de Janeiro, é uma forma de entender que Giovanna transcende o talento de atriz; ela tem atribuições natas como a de uma boa vendedora (e formuladora) de ideias.
“Quando penso em me associar a uma coisa, tem que ser a coisa perfeita. Sou uma pessoa que tem muita energia, plugada no 220”, diz Giovanna, enquanto conversa de maneira frenética, quase sem espaços entre uma frase e outra. “Essa minha vontade é que alimenta a paixão pela minha vida. Tive senso de vontade de ter outras atividades paralelas e que estivessem dentro do que eu gosto de fazer. Já errei e não tenho medo de errar novamente.”
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E enumera todas elas. Uma rede de franquias de depilação a laser, que pretende chegar a 25 unidades até o fim deste ano, uma linha de esmaltes (a cada aparição em novelas, Giovanna lidera a lista dos produtos mais desejados de quem liga para a Central de Atendimento ao Telespectador da Globo pedindo informações sobre o que ela usa — sobretudo a cor do esmalte. Em uma novela, a cor que usava fez com que o pigmento acabasse na China) e outra de óculos. Participa de oito grupos de WhatsApp para discutir negócios — atuais ou futuros. O restaurante é a empreitada mais recente e, pelas aparências, a que ela investe mais esforço e tempo. “É o negocio mais difícil que tenho? É. O mais trabalhoso? Sim. Mas está valendo a pena”, diz.
A relação de Giovanna, que não abre mão de uma dieta carnívora, e a comida natural começou há seis anos, quando foi apresentada pela jornalista Glória Maria a Andrea Henrique, considerada a “guru” do detox dos globais e da alta sociedade carioca. “A Gloria me falou pelo telefone: ‘Você tem que fazer detox com ela’. Ela ficou uma semana cozinhando na minha casa e fiquei fascinada. Foi como se um véu saísse da minha ignorância. Venho de uma cultura italiana, de uma grande fartura. Comecei a entender a alimentação e falei para Andrea que, se um dia ela abrisse um negócio como esse [o restaurante], que ela me chamasse.”
Visitar o Pomar Orgânico em si é se deixar convencer. Não há carnes no cardápio, que segue estritamente a dieta natural da chef Andrea Henrique, sócia de Antonelli e também de outro famoso, o ator Reynaldo Gianecchini. Cada um detém 25% de sociedade do empreendimento – o outro pedaço é de Anísia Henrique, irmã de Andrea. O restaurante está instalado no lado oposto da Barra da Tijuca. Em vez de mirar o mar, ele segue pela estrada que dá nome ao bairro para a parte montanhosa da zona oeste do Rio de Janeiro. A sensação é a de estar distante da capital fluminense sem no entanto tirar seus pés dos 40º de um verão carioca. O Pomar não se oferece pelo caminho. É preciso que o caminho tenha o Pomar como destino. “As pessoas na Barra nos veem como um ponto turístico gastronômico do Rio. Não é um lugar de passantes”, afirma Andrea Henrique.
A nutricionista cozinha desde os 8 anos. Antes do restaurante, era conhecida como personal chef e pela Detox In Box, em que oferece programas como o executado por Giovanna por sete dias. “O Pomar é o filho caçula”, diz. Sua meta é a de aliar o sabor à comida saudável. “Sempre tive a intenção de que a comida natural tivesse um gosto. O brasileiro gosta de comida molhadinha — um caldinho, um molho. Comecei a fazer espaguete de abobrinha com molho de tomate e bastante cebolinha. Vi que as pessoas gostavam do aconchego dessa comida, não de uma salada fria ou a barrinha de semente seca, que você não vê a hora de acabar. As pessoas queriam uma refeição saudável, mas também uma comida bonita e gostosa”, afirma a chef e nutricionista.
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Quando a ideia já andava, Giovanna e seu sócio Gianecchini estavam em Nova York. Andrea havia indicado para a atriz o restaurante Pure Food & Wine, referência em gastronomia saudável. “Levei o Gianecchini e a reação foi: ‘Meu Deus, não é que dá para comer bem?’”, diz Giovanna. “É o que todo mundo come. Aqui [no Pomar], você vê um risoto, mas tem temperos. A Andrea entende o que pode proporcionar às pessoas. Eu entendo de cortar gastos, mas o alimento quem entende é ela.”
Os passos de Andrea de fato orientam o empreendimento, mas não havia o projeto antes de a atriz estimulá-la. “O público da dieta era muito restrito, e a Giovanna disse que era preciso montar um negócio mais acessível, que as pessoas pudessem ir. Muita gente dizia que queria comer saudável, mas não sabia onde. E amadureci a ideia de montar o restaurante”, diz Andrea. Suas regras no Pomar são rígidas: a carta de vinhos é toda orgânica — a chef diz que o restaurante é o primeiro do Brasil com essa proposta. Franquias não estão descartadas, mas ela prefere mirar por enquanto a loja de produtos naturais do restaurante, que funciona no mesmo espaço que o Pomar. “Não vendo nada com glúten nem industrializado. Somos muito fieis à proposta.”
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Giovanna é ativa no negócio. Entra na cozinha, confere como a comida é feita e se o ar-condicionado está bom. Todo dia vê como fechou o caixa, como estão as vendas, como está o uniforme da equipe. A crise fez com que o movimento caísse, segundo Andrea, mas o público fiel continuou frequentando.
Sinal de que o avanço do empreendimento significa também uma mudança nos hábitos. No caso deste repórter, a experiência com a cerveja sem glúten do início da reportagem foi boa – além de saborosa, não estufou. Idem para o hambúrguer de quinua com salpicão e maionese de castanha-de-caju, leve e delicioso. Giovanna, depois de saborear o ravióli com massa de arroz regado a azeite de limão-siciliano, um dos carros-chefe do restaurante, sorri ao ver que havia vencido a resistência de um carnívoro radical. “No futuro, não vai existir dieta, só educação alimentar”, diz, séria, antes de um gargalhar sincero: “Mas meu sonho ainda é abrir um botequinho”.