O cineasta João Moreira Salles diz acreditar que o Brasil precisa discutir mais ciência. “Já está dado que arte e cultura são elementos importantes, não há dúvida sobre isso”, afirma o criador da revista “Piauí”. “Acho que há uma hipertrofia das humanidades na imaginação brasileira e uma hipotrofia, ou seja, uma presença pequena da ciência nas conversas do país.”
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“No cinema, na literatura, os personagens estão sempre no campo das humanidades”, continua o bilionário, herdeiro do Itaú-Unibanco. “Em ‘Cidade de Deus’, por exemplo, aquele menino se salva porque vira fotógrafo. Tudo bem, é baseado em uma história real, mas seria implausível que pudesse se salvar ganhando um microscópio.”
Para tentar corrigir este erro, Moreira Salles está criando uma fundação voltada à ciência e à pesquisa. “Está muito no começo ainda, é para tentar criar aquilo que eu venho chamando de uma cultura de ciência no Brasil, isso é essencial”, explica. “Os projetos sociais na favela levam teatro, cinema, capoeira… por que não levam telescópio, experimentos? Porque não está na cabeça das pessoas, nos jornais.”
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“Somos intrinsecamente curiosos, a gente quer saber como as coisas são porque queremos saber como as coisas são. Está na essência da condição humana.” De acordo com o bilionário, é preciso estimular esta curiosidade natural, sem que haja justificativas imediatistas, utilitárias. “Os gregos estudaram elipse porque acharam que a fórmula era deslumbrante, bonita, merecia a atenção… Dois mil anos depois, [o astrônomo Johannes] Kepler usa isso para descrever o movimento dos corpos celestes, que giram em forma de elipse. Os exemplos são infinitos. ‘Para que serve?’ é uma pergunta medíocre.”
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Outro ponto criticado por Moreira Salles é o pequeno estímulo à pesquisa no ensino superior nacional. “Falta disposição política para rediscutir a rigidez do sistema público de ensino superior. Só se faz pesquisa no Brasil nas universidades públicas, mas existem entraves imensos para que um bom pesquisador comece a fazer pesquisa por aqui”, afirma o cineasta. “É preciso tirar os obstáculos e ser mais acessível, mais capaz de premiar quem de fato é mais produtivo e original, o que não acontece.”