Puerto Madero é a “zona verde” de Buenos Aires. Não há nenhum lugar como ele. Não só é isolado da capital, mas parece completamente isolado da Argentina. O local é onde a elite compra suas casas para a posteridade, não necessariamente para viver. Lionel Messi tem um apartamento em The Château, onde executivos globais se escondem da realidade da crise argentina.
Em março, em frente à Casa Rosada, sede da presidência argentina e casa do agora presidente Mauricio Macri, apoiadores do Partido dos Trabalhadores Socialistas protestaram contra a inflação de aproximadamente 40%.
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A alguns minutos de carro, do outro lado de uma ponte sobre o delta do famoso Rio da Prata, era possível entrar na bolha que é Buenos Aires. Diferente de outras vizinhanças, Puerto Madero é isolado. Não há ninguém pedindo esmola, quase não há crime.
Nos últimos 35 anos, ganhos de capital com o mercado imobiliário cresceram em 120%. Aqueles cuja renda dependiam pelo menos em partes do aluguel de imóveis, viram seus lucros crescerem em 562,9%, de acordo com o Banco Central da Argentina.
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“Diria que pelo menos 20% das pessoas que vivem aqui são naturais da Argentina”, diz Carolina Luchetta, responsável pelo projeto de construção da nova Alvear Tower. “Eles são do México, Uruguai, Chile e Colômbia. As 48 residências são propriedade de argentinos. Eles alugam seus apartamentos para pessoas de todos os cantos do mundo”. A propriedade tem sua inauguração prevista para 2018, custando por volta de US$ 9.000 por m² nos primeiros 19 andares e pelo menos US$ 14.000 por metro quadrado do 20° andar para cima.
“Esses são uns dos apartamentos mais caros da cidade. Mas agora você pode achar propriedades em Puerto Madero a preços similares àqueles de vizinhanças luxuosas… e até mais caro”, diz Dina Crusizio, diretora de propriedades residenciais em uma imobiliária de imóveis, a L.J.Ramos, em Buenos Aires. “Se você fosse um investidor, o aconselharia a ficar em outro lugar”.
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Investir em Puerto Madero não deixa ninguém rico da noite para o dia. O rendimento imobiliário não passa dos 5%, a inflação é alta e a moeda está desvalorizada. “O que é interessante é a valorização capital dessas propriedades”, afirma Dina Crusizio. “Os valores estão subindo. Os aluguéis horríveis e o rendimento baixo não estão afastando as pessoas”, completa. Os investidores estrangeiros estão interessados nos imóveis agora que há um mercado mais estável e amigável para o governo.
Macri substituiu Cristina Kirchner em janeiro, acabando com décadas da economia Kirchner: hiperinflação, uma economia fechada, dívidas e a cansada retórica de “culpe os Estados Unidos primeiro” da esquerda latino-americana.
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O desenvolvimento do Puerto Madero começou nos anos 1990, com um lote residencial e comercial. A razão do isolamento da cidade nunca foi entendida completamente.
Foi então que a crise de 2001 chegou. À medida em que a economia caía, as multinacionais ligavam para seus executivos e os levavam de volta para casa. O valor do peso caiu e capital a longo prazo se tornou inexistente. Em um lugar onde apenas os corajosos viam oportunidade, alguns desenvolvedores conseguiram ganhar dinheiro, incluindo Alan Faena e David Sutton, do grupo Alvear.
Atualmente, por volta de 20.000 pessoas vivem nessa zona verde e há apenas poucas parcelas de terrenos sobrando. O magnata do mercado imobiliário, Jorge Perez, dono da imobiliária Related Group, está investindo mais de US$ 250 milhões em duas torres de luxo no Puerto Madero, sendo que uma delas será um luxuoso hotel.
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Se o Banco Central da Argentina está correto sobre o mercado imobiliário ser o mercado de maior crescimento no país e também se Macri puder sobreviver a quatro anos controlando a inflação, não é necessário dizer que o país está aberto para negócios.
De 12 a 15 de setembro, a cidade está hospedando uma simpósio de investidores para reintroduzir CEOs globais ao país. Bob Dudley, CEO da British Petrol, Muhtar Kent, da Coca-Cola, e o investidor imobiliário norte-americano Tim Draper foram convidados para falar.
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“Alguns anos atrás, nossa principal propriedade estava à venda por US$ 4.000 o m². Agora é possível achar apartamentos por U$ 15.000 em menos de oito anos”, diz Andres Kalwill, diretor de novos projetos do grupo Alvear. “O preço que você paga por uma propriedade hoje no Puerto Madero não é o mesmo que você vai ver em dois anos”, afirma.