Sentado no banco do piloto de seu jato particular, o CEO da Scotts Miracle-Gro, Jim Hagedorn, empurra o manete e segue rapidamente pela pista. Por uma hora e meia, a cada manhã e a cada tarde, Hagedorn se senta atrás do manche de seu avião, reclina o banco, e deixa a mente correr solta. Sua última ideia: “Investir, tipo, meio bilhão no ramo de maconha”, grita ele em meio ao ronco das duas turbinas do Cessna Citation camuflado. “É o maior negócio que já vi em jardinagem.”
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Ninguém tem perspectiva melhor do setor de jardinagem do que Hagedorn. A Scotts Miracle-Gro, que obtém quase todo o seu faturamento com a venda de sementes de grama, fertilizantes, pesticidas e terra, aumentou as receitas em 80% de 2001 a 2009. Mas aí bateu a Grande Recessão, e essa expansão travou. As vendas estão estagnadas desde então. Isso atingiu Hagedorn e sua família, que detêm participação de 27%, a qual representa 1,1 bilhão de dólares de sua fortuna de 1,5 bilhão de dólares. Frustrado com a inércia nos negócios, Hagedorn demitiu mais da metade de seus executivos, sacudiu seu conselho de administração, e apostou alto nos plantadores de maconha.
A decisão controversa foi tomada num dia de 2013, em Yakima, Estado de Washington, quando Hagedorn entrou numa loja de jardinagem. Não tinha quase nenhum produto da Scotts, mas havia um enorme corredor com equipamentos para hidroponia, método de plantio que permite o cultivo de cannabis (ou qualquer outra planta) em ambiente fechado, usando iluminação direcionada e soluções líquidas repletas de nutrientes. Hagedorn pediu para falar com o dono. Este disse a Hagedorn que todo mundo o tinha chamado de idiota quando ele começou a vender equipamentos para hidroponia, mas os produtos estavam vendendo que nem água, e o valor médio das compras era 400 dólares.
A cena era totalmente diferente da vista no Home Depot do outro lado da cidade, que oferecia um monte de produtos da Scotts Miracle-Gro, mas nenhum equipamento para hidroponia. Hagedorn está respaldando sua falação com muito dinheiro. No ano passado, desembolsou 135 milhões de dólares na compra de duas empresas californianas que vendem fertilizantes, terra e acessórios a plantadores de maconha, gastou outros 120 milhões de dólares na aquisição de uma empresa de equipamentos de iluminação e hidroponia de Amsterdã, e promete investir ainda 150 milhões de dólares até o fim de 2016. Em conjunto, essas transações superam a maior aquisição única da história da Scotts Miracle-Gro, que tem lucro anual de 160 milhões de dólares sobre vendas de 3 bilhões de dólares. “Acho que muitas empresas convencionais não querem assumir o risco”, diz Hagedorn, um baixinho careca de 60 anos com olhos azuis brilhantes. “Falei com alguns amigos e CEOs, e eles basicamente balançam a cabeça.”
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Entre os discordantes está Carl Kohrt, um dos seis conselheiros que saíram da Scotts Miracle-Gro nos últimos três anos. “Pessoalmente, eu não apoio o negócio de maconha”, diz ele. “As coisas mudam. As leis mudaram. Os interesses mudaram. Alguns valores pessoais não mudaram — como os meus.” Valores à parte, o ramo de drogas é um campo minado em termos jurídicos. O governo dos EUA ainda mantém a cannabis na Lista I do Controlled Substances Act (lei de substâncias controladas), dentro da mesma classe em que estão a heroína e o LSD. Mas 25 Estados já permitem o uso medicinal da erva, sendo que quatro (além do Distrito de Colúmbia) promulgaram leis que permitem o uso recreativo. Em 2013, o governo Obama transmitiu um memorando submetendo a regulamentação da maconha aos Estados, ao mesmo tempo em que reservava o direito do governo federal de processar infratores no futuro e contestar os Estados a qualquer momento.
Sem um pingo de ironia, Hagedorn compara o ramo de jardinagem à guerra. “Em vários aspectos, acho melhor”, diz. “Hoje, do jeito que as guerras acontecem, você não fica com todas as coisas. Para mim, no combatecomercial, você meio que saqueia e fica com tudo.” Esse é Hagedorn. Agressivo, belicoso e, como reconhecem mesmo as pessoas que o detestam, dissimuladamente inteligente. Ele pilota um avião chamado F-Bomb, tira lições empresariais de Osama bin Laden (“um lixo de pessoa”, mas “visionário”), e se compara ao protagonista da série Billions, da rede Showtime (“tão focado em vencer, que chega a ser um pouco animalesco”).
De volta a Long Island, a poucos minutos da casa dos Hagedorn fica o centro de comando da missão de maconha da Scotts, instalado num discreto edifício de blocos brancos. O único sinal de que há alguém importante lá dentro é o Alfa Romeo conversível amarelo 1967 estacionado do lado de fora. O carro pertence ao filho de Jim, Chris, de 31 anos, encarregado de transformar em realidade a ideia maluca do pai.
Se a família Hagedorn não fosse dona de 27% da Scotts Miracle-Gro, Chris não teria seu atual cargo de presidente da subsidiária Hawthorne Gardening. Quando adolescente, ele leu um artigo que explicava como a primeira geração tipicamente cria uma empresa familiar, a segunda a expande, e a terceira a destrói. Por isso, decidiu ficar longe da Scotts Miracle-Gro. Mas Jim colocou-o no departamento de marketing, de que Chris não gostava, e acabou transferindo-o para a unidade responsável pela parte de hidroponia.
Se as travessuras de Hagedorn não atrapalharem, sua estratégia relacionada à maconha pode ser um sucesso. A General Hydroponics e a empresa irmã, a Vermicrop, geravam receitas de 50 milhões de dólares quando a Scotts as comprou, em 2015. Hoje parte da subsidiária de Chris, as duas empresas já aumentaram as vendas em mais de 20%, crescimento quase quatro vezes superior ao do restante da Scotts, e as margens operacionais estão a caminho de ficar 30% acima da média da empresa este ano. A atividade principal também vem tendo um desempenho melhor ultimamente.
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As ações da Scotts Miracle-Gro subiram 13% de um ano para cá. No segundo trimestre deste ano, a Miracle-Gro pôs em marcha o plano da maconha. Começou a vender uma nova linha de equipamentos para hidroponia e de terras chamada Black Magic (criada por um cientista no escritório da General Hydroponics) em 141 lojas Home Depot no Colorado, em Washington (Estados onde o uso recreativo da maconha é legal) e em Michigan (onde o uso medicinal é permitido).
Um pacote de Black Magic custa 16 dólares, mais do que o dobro do preço da terra comum para vasos. Os plantadores de hortaliças não notariam muita diferença. Mas meio quilo de cannabis vale mais de 2.000 dólares, o que significa que o cálculo para cultivar a erva é bem diferente do usado para tomates. Chris prevê que um dia a divisão será um negócio bilionário. Hagedorn não desistiu de cultivar sua própria erva. Já está analisando mercados, como Israel, Canadá e Jamaica, onde a Scotts pode se habilitar para abrir legalmente laboratórios para testar e fazer pesquisas com cannabis. Sua mão está firme no manete. “Eu sou um tanto contundente aqui”, diz. “Admito que sou um gosto adquirido. Há certas pessoas que diriam:‘Não gostaria de ver o Hagedorn saindo com a minha filha. Não gosto da maneira como ele administra a empresa’.” Nada disso o desanima.