Empresas e startups não podem se relacionar de forma conflitiva. Pelo contrário, elas devem coexistir e criar uma sinergia entre seus aspectos positivos, que resulte em inovações que as beneficiem e também à sociedade. Foi com base nessa filosofia que foi inaugurada, no início deste mês, em Campinas (SP), a aceleradora Weme, em um evento que teve a participação de companhias de grande porte como Bosch, Karcher e DHL, patrocinadoras da nova empresa de apoio e investimento em startups.
Em entrevista coletiva, os sócios da Weme, Maurício Bueno e Wagner Foschini, e os representantes das empresas patrocinadoras explicaram, em linhas gerais, como é a interação entre empresas e startups. “O contexto atual impede que um indivíduo ou empresa faça, isoladamente, inovações em produtos e processos produtivos na velocidade demandada pelo mercado”, avalia Bueno ao falar da importância da criação do elo em um mesmo local entre startups, profissionais e grandes empresas.
O contexto atual impede que um indivíduo ou empresa faça, isoladamente, inovações em produtos e processos produtivos na velocidade demandada pelo mercadoA visão de Bueno é compartilhada pelo CEO da Karcher, Abílio Cepera, que diz que as startups desenvolvem inovações disruptivas, algo que não se encontra no ambiente de grandes empresas, geralmente dominadas por uma cultura rígida, que dificulta a implantação de ideias inovadoras. “As empresas não podem fechar os olhos e devem ficar atentas às inovações que não estão em seus portfólios, mas poderiam estar”, completa Cepera, dizendo que, neste momento, um novo produto revolucionário pode estar em desenvolvimento em um projeto de alguma startup.
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Já o diretor de novos negócios da Bosch, Bruno Bragazza, abordou a relação da empresa alemã com o universo inovador das startups. Embora o fundo de venture capital do grupo Bosch disponibilize poucos recursos para a América Latina em comparação com outras regiões do mundo, o executivo garantiu que a empresa alemã busca em território latino-americano oportunidades que não foquem apenas em inovação, mas também em uma futura aquisição e incorporação dos processos inovativos ao grupo Bosch. “Devido à extensão do mercado, investimos em startups de quatro áreas no Brasil: agronegócio, saúde, educação e segurança”, disse o diretor sobre o foco no mercado brasileiro. Na Weme, a Bosch patrocinou a instalação de um laboratório com equipamentos da marca.
Financiamento
Bueno também relatou as dificuldades de financiamento para a aceleração de startups no Brasil. “É diferente dos Estados Unidos, que já tem uma cultura de IPO”, analisou. Para abrigar as startups, o financiamento ocorrerá por meio de um fundo cuja base de investidores será a Weme e as companhias patrocinadoras, que no final deterá uma participação na empresa acelerada. Foschini também ressaltou as dificuldades de obter recursos de outras formas, especialmente em Campinas. “A cidade é a 3ª maior em empreendedorismo do país e, mesmo assim, os investidores alocam seus recursos em aplicações tradicionais e conservadoras”, apontou Foschini.
Seleção de startups
A inauguração da aceleradora marca um novo passo da Weme, que deixa de ser apenas uma startup que busca soluções inovadoras para as grandes empresas. Agora, ela é um agente que impulsiona as trocas e conexões entre as grandes companhias e outras startups.
Para se instalar na aceleradora é preciso se inscrever no site da Weme, onde fica armazenado o edital do processo seletivo, que é dividido em duas partes: a seleção digital e, posteriormente, a presencial. Na inscrição, as candidatas devem apresentar seu projeto, propósito e equipe. As vencedoras serão aceleradas e receberão um aporte de R$ 150 mil.
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O objetivo da Weme é abrigar entre 10 a 15 start-ups – um investimento total de R$ 2 milhões neste ano. Durante o evento inaugural, foram apresentadas cinco startups dos setores de saúde, entretenimento, serviços, turismo e esportes que já começaram a ser instaladas no local.
Programa Nacional Conexão Startup Indústria
Nesta quinta-feira (16), a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial lançou em São Paulo o edital do Programa Nacional Conexão Startup Indústria, em parceria com a iniciativa privada e agências governamentais. O objetivo do programa é promover a sinergia entre indústria e startups, estimulando ações que resultem em inovações digitais ao longo da cadeia produtiva industrial.
O processo seletivo é constituído de seis etapas. As startups escolhidas terão acesso ao mercado e um aporte financeiro de até R$ 700 mil. Já as grandes empresas terão à disposição as soluções inovadoras desenvolvidas pelas startups, enquanto as instituições financiadoras e apoiadoras de novos negócios participarão do compartilhamento de risco.