Scott McNealy sabe algumas coisas sobre construir um negócio de tecnologia escalável. Sua visão audaciosa e seu estilo impetuoso de gerenciamento impulsionaram a fabricante de computadores Sun Microsystems com a redefinição da categoria de servidores e sua plataforma Java, agora onipresente em quase todos os dispositivos de computação. Mas o que ele tem feito atualmente? Depois de vender a Sun para a Oracle por US$ 7,4 bilhões em 2009, McNealy começou uma empreitada para inovar em um mercado ainda maior, do qual fazem parte todos os negócios ao redor do mundo que investem mais de US$ 1 trilhão na criação de conteúdos publicitários ineficientes.
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McNealy começou a trabalhar em 2011 na sua “nova” companhia, batizada de Wayin. Atualmente, ocupa o cargo de presidente-executivo e, recentemente, contratou Richard Jones como CEO, para ajudar no gerenciamento da companhia durante sua próxima fase de crescimento explosivo. Mas do que se trata a Wayin? A empresa se posiciona como uma plataforma de autoatendimento que permite que algumas das maiores marcas e editoras do mundo criem campanhas autênticas e interativas, capazes de engajar consumidores de todos os canais digitais. Suas ferramentas de criação possibilitam produzir facilmente qualquer material de marketing. Mas a principal ideia está na biblioteca criativa, que serve como um ecossistema de loja de aplicativos “parecido com o iTunes”, para atender as demandas de anúncios e serviços de marketing para praticamente qualquer empresa.
Marcas como Coca-Cola e Samsung já utilizam nova plataforma de marketing Wayin“Já é hora de podermos ‘uberizar’ alguns desses recursos”, diz McNealy. “Muitos de nós vêm da indústria de computadores. Então, temos a tendência de impregnar de tecnologia algo que tem se baseado tipicamente em esforço criativo e personalizado, como é o caso das campanhas publicitárias. Apesar disso, a maior parte do que acontece atualmente na televisão, no meio impresso e nos outdoors não mudou muito desde que meu pai foi vice-presidente de marketing da American Motors Corporation (AMA).”
McNealy diz que, atualmente, para lançar uma campanha digital, o CIO (diretor de tecnologia) precisa estar envolvido no processo. “Você está lá, colocando coisas no site que podem gerar problemas de segurança, privacidade, integração e disponibilidade. A nossa ideia é acabar com isso ao integrar as coisas por meio da nuvem da Wayin. Aí, todas as campanhas que estão na loja de aplicativos estarão seguras, prontas e integradas. O objetivo é criar uma vez e implantar isso em qualquer lugar. Ou integrar uma vez, e implantar em qualquer lugar. Esse é o grande ganho”, explica.
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A ideia de “criar uma vez e reutilizar” é essencial para a proposta de valores da Wayin. McNealy afirma que muitas organizações criam campanhas e depois as jogam fora porque não há um mecanismo de reuso. “Agora, de repente, a loja é tanto uma biblioteca histórica quanto uma oportunidade para fazer coisas novas. 40% a 60% do dinheiro gasto em anúncios não é para a mídia, e sim para todo o restante do processo. Se pudermos baixar esse número, você terá uma grande quantidade de dinheiro sobrando para a compra de espaço, que é o mais importante.”
O executivo ressalta que as campanhas precisam provocar engajamento. “Apenas olhar para um vídeo ou ver um anúncio não é tão interessante quanto as pessoas pensaram que seria. Com os nossos aplicativos, estamos tentando criar algo que seja, de fato, muito envolvente e que dê ao consumidor uma ação e uma contribuição. Como resultado, temos taxas mais altas de conversão em compras graças ao alto índice de retorno.”
A Wayin também está trabalhando na criação de um marketplace para profissionais de criação de conteúdo terceirizados, que usarão a plataforma não apenas para criar suas próprias campanhas, mas também para vendê-las por meio da loja de aplicativos da empresa. “A ideia é vender e dar a eles uma parte da receita. Dessa forma, você ajuda esses profissionais a criarem o seu próprio calendário de experiências digitais durante o ano, que podem ser reutilizados e reformulados. E, para os clientes, é como ter todos os profissionais de criação à disposição, em vez de ter um único, em uma agência de propaganda. Isso nunca foi feito antes no mundo dos anúncios.”
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A expectativa é que a loja de aplicativos esteja funcionando em 2018. “Enquanto isso, estamos oferecendo um login gratuito para os criadores de conteúdo. Pense neles como desenvolvedores de softwares que querem criar uma nova campanha e deixá-la na loja. O custo é zero. Você apenas entra, faz o seu cadastro e cria uma campanha. Depois disso, qualquer pessoa que queira lançá-la, precisa precisa estar inscrita na Wayin. Nós basicamente eliminamos as barreiras para a entrada de desenvolvedores de conteúdos. É como o código aberto do sistema operacional Linux. Uma vez que você tem o aplicativo, você pode gerenciá-lo.”
As plataformas automatizadas de criação ou de marketing, no entanto, não são novidade. Porém, até hoje, ninguém conseguiu reunir tudo isso em um único lugar – o que dá a Wayin a chance de realmente promover uma revolução na área de marketing.
Localizada em Denver, a empresa está crescendo rapidamente, e busca expandir seus negócios. Já investiu quase US$ 50 milhões em financiamento de risco para fazer algumas aquisições estratégicas que pudessem melhorar sua tecnologia. Atualmente, algumas das marcas mais conhecidas, como Coca-Cola, Samsung, HP, Dunkin Donuts e Best Buy, já utilizam a plataforma.
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“Temos, provavelmente, os melhores profissionais de TI aqui em Denver e uma outra grande equipe de engenharia no Reino Unido”, afirma McNealy. Mas por que alguém cujo nome é tão inabalável na indústria da tecnologia e no Vale do Silício quer se aventurar pelo marketing? “Minha experiência pessoal não é com computadores. Eu não sou engenheiro. Meu pai foi vice-presidente de marketing da AMA, atualmente está na Chrysler. Eu costumava fuçar nas suas coisas. Sentar na sua cadeira. Nós assistíamos seus comerciais de televisão e falávamos sobre eles”, lembra. “Eu estive envolvido no marketing e em vendas a minha vida inteira. Isso é o que eu realmente sou e faço. Eu não fazia nada relacionado à engenharia na Sun. Era uma espécie de chefe dos vendedores, sempre em busca de uma melhor cobertura do mercado. Mas eu posso trazer o que aprendi sobre TI, construção de comunidades e abertura de lojas em tempo real e na nuvem. É uma verdadeira ciência social. E eu amo isso.”
Mas, afinal, quais são os próximos passos da Wayin? “Eu serei controverso. Mas eu sempre falei sobre estratégias controversas – se você não tem uma, você não tem nenhuma chance. Se não é controverso, é porque todo mundo faz a mesma coisa. Se todos fazem a mesma coisa, não há diferenciação. Se não há diferenças, não há força no preço. Se não há força no preço, não há renda. Se não há renda, não há negócio. O problema é que você precisa ser controverso e correto”, diz McNealy. Aparentemente, essa forte aposta mostra que ele está certo – de novo.