Os clientes da nova unidade da confeitaria Feed Your Soul, em Wall Street, compram mais do que apenas as saborosas iguarias expostas nas vitrines. O café vem em copos com dizeres inspiradores, os cookies são feitos de ingredientes naturais e cada sobremesa que comprarem terá seu valor revertido em doações para a Coalition For The Homeless, instituição que apoia moradores de rua.
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“Nós estamos criando uma cultura. A verdade é que qualquer um pode desenvolver um bom produto, mas nem todo mundo pode inspirar pessoas. É isso que esperamos fazer por meio da nossa confeitaria”, diz a fundadora Mya Zoracki, cujo amor por comida e panificação é parte do DNA. “Ele veio com a ideia por trás de Willy Wonka [do filme “A Fantástica Fábrica de Chocolate”]. Quando eu era criança, queria cobrir as paredes do meu quarto de doce para que as pessoas pudessem comê-las.”
Mya parece ter conquistado tudo, ou pelo menos tudo aquilo que a maior parte das pessoas quer – realizar um sonho. Mas não foi sempre assim. Após se formar na Universidade de Boston, em 1996, ela não tinha certeza do que queria fazer, mas sabia exatamente onde queria estar: na cidade de Nova York. Então, arrumou as malas e conseguiu um emprego na empresa de gestão de investimentos Fiduciary Trust Company, no World Trade Center.
Um ano depois, Mya se moveu alguns quarteirões para o norte e começou a trabalhar na Bolsa de Valores de Nova York. Ela tinha uma carreira estável, mas não era isso que queria. “Wall Street me permitia viver em Nova York e pagar meu aluguel, então era uma decisão mais prática”, diz ela. “Eu fiquei em uma grande caixa em meio a uma multidão de homens e negociei por cerca de sete anos.”
O tempo passou rápido e logo era 2004. Tudo estava mudando. Mya trabalhava em um distrito financeiro após o ataque de 11 de setembro de 2001, cheio de incertezas, e cuja dinâmica estava em movimento. “A minha vida estava muito agitada, mas não parecia ter sentido”, diz. Ela então abandonou Wall Street.
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Mas Mya não sabia qual seria seu próximo passo. “Eu pensei: ‘Se eu fosse começar um negócio, o que seria? Quais são as coisas na minha vida que preenchem a minha alma? Essas coisas eram cozinhar, doar e inspirar as pessoas”, lembra. Com esses três ingredientes simples e US$ 10 mil em economias, ela abriu uma empresa, criou um website e a Free Your Soul nasceu.
Por um ano, Mya cozinhou – todos os dias, uma dúzia de cookies por vez – em seu estúdio na cidade de Hoboken, em Nova Jersey. Quatro batedeiras alinhadas no balcão, fitas e embalagens caindo pela escada e nada na geladeira além de manteiga e ovos. “Eu corria até o supermercado toda noite para comprar mais manteiga e mais ovos”, diz ela. “Se você encomendasse na segunda-feira, receberia um cookie diferente do que se encomendasse na terça-feira. Eu não tinha receitas prontas. Apenas sabia que era isso que eu tinha de fazer.”
E funcionou. Primeiro, veio uma crítica positiva do agora extinto website “Daily Candy”, depois uma menção no programa de televisão “Today Show” e, logo, Mya ela estava recebendo uma enxurrada de pedidos. Equipada com um Jeep Wrangler e uma carreta, transportava suas guloseimas para supermercados, academias de ginástica e cafés locais.
O desafio real não era cozinhar – nem mesmo em sua primeira encomenda corporativa de 500 latas com 6.000 cookies. Era a segurança alimentar, as certificações, a logística, as margens de lucro, a fiscalização. “Uma coisa é ter uma paixão, mas você tem de ter clareza sobre como trazer essa ideia para a vida real”, diz ela, notando quanto a sua experiência em Wall Street e na Brooklyn Law School a ajudou a tomar decisões de negócio. “As pessoas dizem: ‘Ah, é tão fofo você cozinhar’. Mas eu lido com advogados, contadores, contratos, auditorias de terceiros…”
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Era claro que a fábrica improvisada no apartamento 5B não iria durar, então, em 2005, a jovem empreendedora comprou uma unidade antiga da Jersey Pizza e estabeleceu uma loja. Ainda que o espaço não pretendesse ser um local de vendas, ela vendia seus cookies aos clientes que formavam fila assim que o cheiro da massa assada começava a se espalhar pelo ar.
“Era um paraíso dos cookies”, diz a residente da cidade de Jersey City Marlene Sandkamp. “Ela se tornou uma inspiração… Como uma empreendedora mulher que podia fazer de seu negócio um sucesso e ainda doar para a caridade.”
Com uma base crescente de consumidores, Mya decidiu testar um contrato de manufatura. Terceirizar a produção permitiu que ela distribuísse a varejistas gourmet, como Dean & DeLuca e Chopt Creative Salad, mas a qualidade sofreu piora. “Os clientes que amavam o produto me diziam que, se eu conseguisse encontrar uma maneira de ter meu próprio espaço, com capacidade para atender grandes demandas, eles esperariam por mim”, diz Mya. Em 2010, ela investiu em uma fábrica própria.
Mya passou seis anos em sua primeira fábrica após transferir-se para a atual, localizada na cidade de Kearney, em Nova Jersey. Este mês, 13 anos após ter deixado sua carreira na bolsa de valores, ela voltou para onde tudo começou – abriu uma unidade da Feed Your Soul, em Wall Street. “Eu estou muito animada”, diz ela. “Eu não acho que poderia ter planejado melhor.”
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Muita coisa mudou desde os primeiros dias da Feed Your Soul: o negócio cresceu de um para 25 funcionários, os pedidos agora não são feitos em dúzias, mas em cargas de caminhão, e preparar 5.200 cookies em uma hora é a regra. Mas aqueles três ingredientes originais – cozinhar, doar e inspirar as pessoas a viverem uma vida com propósito – ainda são chaves para a receita, e por isso seus clientes fiéis são gratos. “Não importa o que esteja acontecendo no mundo, é reconfortante”, diz a cliente de longa data Judith Tortora. “Estes cookies realmente alimentam a alma.”
“A Feed Your Soul é a soma de todas as minhas partes, e isso inclui Wall Street, a faculdade de direito e as pessoas que participaram da minha jornada desde quando eu cozinhava em meu apartamento”, diz Mya. “Essa história é um ciclo fechado, e só vai andar para a frente.”