De acordo com a Administração Federal de Aviação dos Estados Unidos, 2,2 milhões de passageiros voam todos os dias. Independentemente de os deslocamentos serem a negócios ou lazer, as pessoas querem chegar pontualmente aos seus destinos. Em alguns casos, transações de negócios ou emergências familiares dependem disso.
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Em 2016, a porcentagem de voos com atrasos ocasionados pelo clima foi de 32,9%. Ainda que seja menor do que os 49,9% registrados no início dos anos 2000, é um índice significativo. A maioria dos atrasos relacionados a este motivo está ligada a visibilidade reduzida, clima severo e condições de gelo. Agora, há um novo problema climático para o segmento aéreo: o calor.
Se as emissões continuarem no ritmo atual, reduções de peso de até 4% terão de ser feitas em dias quentes. Para aeronaves que carregam passageiros, isso significaria entre 12 e 13 menos pessoas por aviãoDe acordo com um novo estudo divulgado no mês passado pela publicação científica “Climatic Change”, o aumento nas temperaturas pode causar mais atrasos em voos, já que algumas aeronaves não conseguem decolar. Outras podem ter de partir com menos carga e menos passageiros, o que causa impacto nos preços e nas receitas das empresas.
Recentemente, muitos voos tiveram de ser cancelados no sudoeste dos Estados Unidos porque a temperatura era alta demais para certos tipos de aeronave. O Earth Institute, da Universidade Columbia, resumiu as descobertas centrais da primeira análise global desse novo desafio: “Durante as partes mais quentes do dia, de 10% a 30% dos aviões em lotação máxima podem ter de remover um pouco de combustível, carga ou passageiros, ou esperar por horas mais frescas para voar. Quando o ar aquece, ele se propaga e a densidade diminui. No ar mais rarefeito, as asas geram menos levantamento quando o avião desliza pela pista de decolagem. Assim, dependendo do modelo da aeronave, do comprimento da pista e de outros fatores, um avião lotado pode ser incapaz de decolar com segurança se a temperatura for muito alta. O peso deve ser reduzido, caso contrário o voo será atrasado ou cancelado”.
As temperaturas globais continuam a crescer e muitos recordes de calor foram quebrados recentemente nos Estados Unidos. Os termômetros de algumas áreas do Oriente Médio chegaram a medir 54ºC em julho deste ano. Dados da temperatura global revelam que o período entre janeiro e maio de 2017 foi cerca de 0,92ºC mais quente do que a média do século 20. O ano passado foi o mais quente, quebrando o recorde de 2015. Muitos estudos recentes documentaram que as ondas de calor estão crescendo em frequência e intensidade.
De acordo com a Universidade Columbia, “as ondas de calor vão, provavelmente, se tornar mais predominantes, com as temperaturas máximas em aeroportos ao redor do mundo previstas para crescer entre 4ºC e 8ºC até 2080”. São essas ondas de calor que podem produzir a maioria dos problemas.
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O último estudo complementa pesquisas anteriores do grupo. Em um levantamento de 2015, sugeriu-se que poderia haver até quatro vezes mais problemas de decolagem relativos à temperatura para aeronaves Boeing 737-800 nos aeroportos localizados em Phoenix, Washington D.C. e Nova York.
O novo estudo examinou 15 outros aeroportos nos Estados Unidos, regiões da Ásia, Europa e Oriente Médio. Foram analisados diferentes tipos de aeronaves. Radley Horton, climatólogo do Lamont-Doherty Earth Observatory, da Universidade Columbia, foi um dos autores da pesquisa. Segundo ele, “na medida em que o mundo se torna mais conectado e a aviação cresce, pode haver um substancial potencial para efeitos cascata como, por exemplo, no aspecto econômico”.
Os resultados sugerem que, se as emissões continuarem no ritmo atual, pesos de carga e capacidades de combustível terão de ser reduzidos em até 4% em dias quentes. Em uma perspectiva de negócios, isso seria muito significativo. Para aeronaves que carregam passageiros, uma redução de 4% significaria entre 12 e 13 menos pessoas por avião – um grande impacto econômico em taxas de lucro já espremidas.
De acordo com Horton, “alguns efeitos podem ser mitigados com novos motores ou designs de aeronave, ou com pistas de decolagem expandidas. Mas as modificações têm um custo, uma vez que as aeronaves já são desenhadas para ter eficiência. Além disso, pistas de decolagem alongadas em cidades densamente ocupadas, como Nova York, não são uma opção”.
A conclusão é que as companhias e transportadoras aéreas devem começar a levar em consideração algumas realidades de mudanças climáticas em seus planejamentos de longo prazo. Dr. Paul Williams, da Universidade de Reading, não esteve envolvido neste estudo, mas publicou recentemente uma pesquisa relacionando mudanças climáticas e turbulência. “Estudos como este mostram que as viagens aéreas serão, provavelmente, mais uma vítima das mudanças climáticas. Nós precisamos reformular todo o debate acerca deste tema, ao perceber que a sua interação é de mão dupla e que elas se afetam mutuamente”, diz.