Pela primeira vez na história, a Ásia se tornou o lar do maior número de bilionários do mundo. A China lidera o grupo, superando em número os Estados Unidos, de acordo com relatórios da empresa de gestão de riqueza UBS e da prestadora de serviços financeiros PwC. Dois novos bilionários surgem no país toda semana, sendo que praticamente todos eles construíram suas próprias fortunas em vez de ter herdado de seus parentes.
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Porém, o que mais faz os bilionários chineses se destacarem é a trajetória impressionante que os novos abastados seguiram. Enquanto os bilionários ao redor do mundo estão envelhecendo, a nova classe de representantes chineses está atingindo o status em média aos 55 anos, seis anos mais cedo do que seus colegas norte-americanos e sete anos antes dos europeus.
Uma das principais fontes de riqueza dos chineses é o mercado de ações. Em contraste ao Ocidente, onde o tempo médio para startups se tornarem empresas públicas é de mais de uma década, empreendedores asiáticos preferem listar seus negócios muito mais cedo por meio de ofertas públicas de ações.
Com muitas outras maneiras de levantar financiamento, as startups dos Estados Unidos, especialmente da área de tecnologia, estão evitando Wall Street como se fosse uma praga. Uber, Airbnb, Pinterest e Dropbox são unicórnios proeminentes com avaliações bem acima dos US$ 10 bilhões que estão crescendo devagar e de forma estável nos bastidores. Inversamente, os empreendedores chineses têm coragem de levar suas empresas para frente sem se abalarem pela potencial montanha russa do mercado acionário.
Independentemente de a empresa acabar na bolsa de Xangai, na ChiNext – similar à norte-americana Nasdaq – ou atravessar os oceanos e ir para a New York Stock Exchange, uma listagem pública dá status aos negócios. O estudo da UBS e da PwC mostra que um registro na bolsa melhora a percepção da empresa e da maca perante os consumidores, fornecedores e até mesmo entre os próprios funcionários.
Em 2016, 63% das 568 empresas asiáticas ligadas a bilionários eram públicas, comparados a apenas 37% das 421 empresas norte-americanas e 40% das 256 europeias. Cerca de 600 empreendimentos chineses formam fila para uma aprovação de IPO.
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Além dos titãs da tecnologia, os preços de imóveis na China e os gastos com infraestrutura também ajudaram a impulsionar as fortunas dos novos ricos. O patrimônio conjunto dos sete maiores desenvolvedores do setor no país cresceu US$ 44 bilhões desde o início do ano. Apesar dos esforços do governo de desacelerar o escaldante mercado de imóveis com várias restrições a empréstimos e compras, os preços nas principais cidades, como Xangai e Shenzen, cresceu mais de 60% no primeiro trimestre.
Xu Jiayin, fundador da China Evergrande que nasceu em uma família rural em um pequeno município na província de Henan, viu seus ativos dispararem 272% em 2017. Jiayin está brigando nos rankings contra o homem mais rico da Ásia, Jack Ma, CEO do gigante de e-commerce Alibaba, e Pony Ma, CEO do conglomerado de internet Tencent.
O aumento do investimento em imóveis na China também atingiu ritmo de pico graças a uma contínua demanda nos últimos meses, que não mostra sinais de diminuir, apesar de o presidente Xi Jinping ter deixado sua opinião muito clara no 19º Congresso do Partido Comunista de que “imóveis são para moradia, não para especulação”. Histórias de pessoas que saíram da pobreza e se tornaram ricas graças aos imóveis – como a de Jiayin – são cada vez mais comuns no país.
Ao mesmo tempo em que a riqueza continua a ser criada, o estudo descobriu que os bilionários chineses estão tentando estabelecer novas identidades por meio de legados culturais. Eles estão se engajando nas artes e investindo cada vez mais em esportes. Os bilionários norte-americanos ainda lideram – de longe – o grupo de colecionadores de arte do mundo, mas os chineses se tornaram mais ativos, com o número de museus privados na Ásia tendo crescido na última década. A iniciativa acabou se tornando tanto um projeto conduzido pela paixão e pelo prestígio quanto, talvez, uma busca por tratamentos fiscais favoráveis.
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No mundo esportivo, os bilionários asiáticos estão alcançando os ocidentais – mais da metade das aquisições em acordos esportivos globais nos últimos dois anos foram fechados no país. Ávido fã dos esportes, o presidente Jinping encorajou a compra de times e a construção de estádios. Segundo ele, é uma prioridade política que a China se torne uma “potência mundial do futebol” até 2050. Depois dessa declaração, no fim de 2014, bilhões foram destinados a acordos relacionados ao esporte.
Mais recentemente, uma “cidade esportiva” na província de Sichuan, perto da cidade de Chengdu, foi anunciada pela chinesa Lander Development (a empresa também está negociando a compra de uma participação no time de futebol inglês Southampton). No ano passado, um executivo chinês chamado Xia Jiantong, do pouco conhecido conglomerado Recon Group, comprou 100% do clube da Premier League Aston Villa. O magnata dos imóveis Wang Jianlin adquiriu uma participação de 20% no time espanhol Atlético Madrid, enquanto sua empresa Wanda Group comprou a plataforma de triathlon Ironman em 2015. E a lista continua.
Uma característica do grupo de bilionários chineses é que, ainda que esteja na frente em velocidade e números, fica para trás em volume. A riqueza média que um bilionário detém é de US$ 2,5 bilhões – a mais baixa da Ásia.
Muitas fortunas jovens estão apenas um pouco acima da marca de US$ 1 bilhão, tornando-as suscetíveis a variações de mercado e vulneráveis a mudanças políticas e econômicas.
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