O mais recente projeto de Mitch Lowe, cofundador da Netflix, promete ser outra investida contra o status quo. Ao menos foi assim que o empreendedor o definiu em um evento realizado ontem (19) em São Paulo. O Movie Pass, que ficou conhecido como “Netflix do cinema”, dá acesso a qualquer filme, em qualquer cinema e em qualquer dia por uma assinatura mensal de US$ 9,99.
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O crescimento da empresa, segundo Lowe, tem sido mais rápido do que o da Netflix: “Tivemos um crescimento de 2 milhões de usuários em seis meses”, conta. Segundo ele, parte disso se deve ao fato de o público millennial ter crescido em meio a programas de assinatura e estar habituado com o sistema. Hoje, a Movie Pass já compra 7% de todos os ingressos de cinema nos Estados Unidos e tem sido vista pela AMC, gigante do cinema nos EUA, como uma ameaça.
“Uma empresa disruptiva é aquela que resolve um problema, como o Airbnb e o Uber. Com a Netflix foi a mesma coisa.” Lowe e os outros fundadores detestavam alguns aspectos do serviço de locadoras, como o fato de ser preciso pagar por atrasos, ter data de devolução e poucas opções de documentários e filmes estrangeiros. Foi a partir dessa percepção que surgiu a Netflix. “Um negócio não pode ser criado com a intenção de ser disruptivo. Tem de ser criado para solucionar um problema”, explica.
A primeira ideia foi a de vender DVDs pelo correio: “Queríamos ser a Amazon do DVD”, relembra o empreendedor. Porém, os DVDs eram vendidos por um preço baixo, o que não era um bom modelo de negócios pois limitava muito o faturamento. Outra grande questão era a publicidade em uma época em que a internet ainda era incipiente.
Assim como muitas outras empresas, a Netflix foi mudando seu modelo de negócios ao longo dos anos. “O Twitter começou como uma empresa de podcasts; a Nintendo, de aspiradores de pó. Conosco foi a mesma coisa. Percebemos que nossa ideia não daria certo e nosso negócio não estava indo bem”, conta.
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O grande insight veio em 1999, quando um dos fundadores entrou no estoque da empresa e pensou: “Por que este inventário está aqui e não na casa de nossos clientes?”. O próximo passo, então, foi a criação de um serviço em que, com o pagamento de uma taxa mensal, os clientes recebiam quatro filmes pelo correio e, assim que devolviam um (o que poderia ser feito quando eles quisessem), recebiam outro. “O negócio decolou, pois DVDs eram muito baratos e rápidos de enviar”, relata. De fato, a empresa foi de US$ 10 milhões em faturamento para mais de US$ 100 milhões em um ano.
Em um determinado momento, os proprietários constataram que ter de esperar de um a três dias para receber os DVDs era algo que incomodava os clientes. “Tentamos milhares de ideias, mas a solução ainda não existia. Não havia streaming ou download, mas sabíamos que a internet daria um jeito de entregar filmes. Lançamos o streaming em 2008”, conta Lowe.
Dez anos depois, a Netflix vale mais de US$ 100 bilhões e tem 135 milhões de assinantes no mundo todo – para o azar da Blockbuster, locadora de DVDs, que faliu após a chegada do streaming e que, nesse meio tempo, recusou uma oferta para adquirir metade da empresa por US$ 50 milhões.
Segundo Lowe, a América Latina é a região mais bem-sucedida para a Netflix atualmente – provavelmente pela cultura, “que abraça o entretenimento e tem o costume de reunir a família ao redor da televisão”, explica. Hoje, a empresa aposta no conteúdo como diferencial, investindo US$ 8 bilhões por ano em novas produções em todos os países.
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A receita do sucesso, segundo o empreendedor, é a mistura de quatro ingredientes: pessoal, cultura, objetivos claros e ótima liderança. Além disso, é fundamental criar um ambiente em que os erros sejam aceitos. “Ao penalizar alguém por errar, cria-se uma cultura de não arriscar e de esconder eventuais erros”, explica.