O testemunho de Mark Zuckerberg no Congresso, na semana passada, foi, na maior parte, um sucesso. O valor de mercado do Facebook aumentou US$ 34 bilhões. Houve poucas revelações bombásticas. Zuckerberg conseguiu lançar novamente o seu bem praticado ato de desculpas do Facebook. A imprensa ganhou pontos extras ao explicar os termos do discurso, como perfis de sombra e rastreamento de cookies. E milhões de consumidores continuaram a se dedicar a uma rotina diária de compartilhar seus pensamentos mais íntimos sobre a gravidez de Cardi B ou de curtir fotos de bebês.
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Já está bem compreendido que o apetite voraz do Facebook por dados de usuários é impulsionado por seu modelo de negócios. A rede social cobra dos anunciantes o acesso a segmentos direcionados com precisão em seu enorme banco de dados de consumidores. Ninguém sabe mais sobre isso do que o Facebook.
Durante as audiências, vários congressistas perguntaram a Zuckerberg se ele consideraria mudar o modelo de negócios do Facebook. O empresário, apesar da relutância em responder, deixou claro que não. E existem duas razões para essa resposta.
Primeiro, o Facebook, sem dúvidas, construiu o melhor modelo de negócios do mundo. A empresa tem grandes margens de crescimento e de lucro, maiores que de qualquer outra gigante tecnológica, como Google, Amazon, Apple e Netflix. O surpreendente sucesso financeiro da rede social é capturado por uma taxa de receita anual de US$ 50 bilhões, que cresce a 50% ao ano, com margem de lucro operacional de 50%, o que gera um valor de mercado de quase US$ 500 bilhões.
Se você estivesse no comando de uma máquina de fazer dinheiro como essa, você estaria disposto a mudar seu modelo de negócios?
Congressistas perguntaram por que a empresa não conseguiu substituir seu modelo de negócios apoiado por anúncios por uma cobrança pelo acesso à rede social, já que o Facebook oferece um serviço valioso para seus mais de 2 bilhões de usuários. Zuckerberg respondeu de forma sentimental sobre a missão do Facebook de “dar às pessoas o poder de construir uma comunidade e aproximar o mundo”, a qual só poderia ser realizado com um serviço gratuito.
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Mas a segunda razão real pela qual o Facebook está comprometido com seu atual modelo de negócios é que o preço que os anunciantes estão dispostos a pagar para invadir a privacidade dos usuários é muito maior do que o preço que a maioria dos consumidores estaria disposta a pagar para proteger sua privacidade.
Considere que, em 2017, a receita média por usuário do Facebook na América do Norte foi de US$ 84,41. Para substituir essa quantia em um serviço sem anúncios, a rede social teria de cobrar de cada pessoa, pelo menos, um valor equivalente a essa receita média. Quantos membros da “comunidade” do Facebook (como Zuckerberg gosta de chamá-la) estariam dispostos a pagar tudo isso pelo privilégio de não ver anúncios que nunca pediram e não serem vigiados pela internet?
Uma pesquisa recente com norte-americanos que usam o Facebook descobriu que menos de 10% estariam dispostos a pagar a atual receita média por um serviço sem anúncios. Assim, se o Facebook cobrasse dos usuários, sua comunidade diminuiria drasticamente, o que aumentaria o valor para os usuários restantes, que teriam de pagar dez vezes mais para compensar os 90% que abandonariam a plataforma. Em seu comentário mais convincente e verdadeiro sobre a lógica de cobrar dos usuários, Zuckerberg observou: “Isso parece ridículo”.
O Facebook tem motivos convincentes para se comprometer com seu atual modelo de negócios. A rede social tomou os leitores e drenou as receitas publicitárias das empresas de mídia, o que fez com que muitos voltassem o foco para uma receita baseada em assinaturas para sobreviver.
Para não restar nenhuma dúvida sobre o comprometimento permanente e lógico do Facebook com um negócio baseado em anúncios, observe a promessa da rede social em sua página de entrada para novos usuários: “É grátis e sempre será”. Então, se este modelo tem sido muito benéfico para a empresa e para os seus acionistas, o que importa o resto? Se aprendemos alguma coisa com as audiências no Congresso da semana passada é que os riscos sociais representados pelo Facebook e por outras plataformas de mídia social são maiores do que nunca, e as perspectivas de diminuição efetiva desses riscos permanecem remotas.