O interesse de investidores na Tesla é claro. No entanto, as ações da empresa caíram mais de 5% no último dia 27, o que demonstra que a companhia está correndo contra o tempo.
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Vários veículos da imprensa estão revelando pontos extremamente pessimistas para a Tesla, como o fato de o Citi ter reduzido suas ações na empresa e a investigação, por parte da National Transportation Safety Board, de um acidente fatal que envolveu um Model X na Califórnia recentemente. Mas há sempre um grande fluxo de notícias em torno dos papéis da Tesla. O verdadeiro problema enfrentado pela empresa é a queda nos preços das obrigações, o que afeta o valor das ações e está diretamente relacionado à deterioração financeira.
Os atrasos contínuos na produção do Model 3 esticaram os recursos automotivos da empresa, mas essa não é a única dificuldade. A Tesla Inc. também precisa quitar a dívida associada à sua subsidiária SolarCity, que perde muito dinheiro. Quando Steve Jobs mudou o nome de sua companhia de Apple Computer para Apple Inc. no dia 9 de janeiro de 2007, as ações estavam em um excelente momento de aquisição. Elon Musk, maior acionista da Tesla e da SCTY, mudou o nome da empresa de Tesla Motors para Tesla Inc. em janeiro de 2017, e esse foi o início do fim da Tesla como uma companhia pública.
As ações da Tesla afetaram de forma significativa a Nasdaq desde a mudança do nome, além de terem registrado um ganho de 12,6% em vez de 21% no Nasdaq 100 naquele período. Existe a possibilidade de que a empresa automotiva não consiga cumprir suas obrigações financeiras dentro de um ano. No momento, a única solução seria uma grande oferta de ações.
As especulações sobre a Tesla justificam os US$ 3,3 bilhões no balanço patrimonial no dia 31 de dezembro de 2017, mas os mercados são mecanismos focados no futuro que podem enxergar além dos números atuais. O modelo de vendas único da empresa significa que ela gera menos volume a receber, mas também que o fluxo de dinheiro estável recebido das concessionárias por outras montadoras não existe na Tesla.
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Ou seja, para que a empresa de Elon Musk financie o seu negócio, ela precisa usar dívidas, capital próprio ou continuar gerando um grande número de depósitos. O valor total depositado pelos consumidores no fim de 2016 foi de US$ 854 milhões, um número mais alto do que os US$ 686 milhões do terceiro trimestre de 2017. Não é possível saber se esses números, que são mostrados como uma deficiência financeira, devem ser vistos de forma negativa ou positiva. Se a Tesla realizar o plano de produzir 2,5 mil unidades do Model 3 por semana até o fim do trimestre e 5 mil até o próximo semestre, esse cenário pode mudar rapidamente. Muitas matérias publicadas e relatórios de analistas apontam que é muito difícil que esses números sejam alcançados. Portanto, o processo de transformar esses depósitos no dinheiro que a companhia tanto precisa não acontecerá tão cedo.
Além dos problemas na fábrica da Tesla em Fremont, na Califórnia, existe a recessão – alguns chamariam até de depressão – do mercado norte-americano de energia solar. A SolarCity, divisão da Tesla, implantou 87 MWh de capacidade de geração de energia solar no quarto trimestre de 2017, menos da metade dos 201 MWh do quarto trimestre de 2016 e dos 253 MWh do mesmo período de 2015. A Tesla parou de fazer marketing agressivo dos produtos da SolarCity para os clientes e tem reduzido as operações de leasing. Mas, apesar dessas iniciativas ajudarem a controlar os custos, eles não solucionam o fardo da dívida da SolarCity.
A subsidiária especializada em energia solar carrega uma parte substancial da dívida da Tesla, e, de fato, as notas de agosto do ano passado foram, tecnicamente, emitidas pela SolarCity, e não pela empresa automotiva. Essa distinção não importa muito, já que a SolarCity é completamente consolidada, mas, como informado no formulário 10-K (relatório exigido pelo governo norte-americano que relata o desempenho financeiro da empresa), a dívida assumida pela Tesla na aquisição da SolarCity foi de US$ 3,4 bilhões. Musk não participou da votação dos acionistas da Tesla-SCTY, mas assumir a dívida de uma companhia de energia solar que nunca gerou fluxo de caixa não foi uma boa ideia.
Os títulos conversíveis da Tesla emitidos em 2013 e 2014 – ainda Tesla Motors na época – foram um enorme sucesso para os investidores e para a empresa, com taxas de cupão ínfimas e preços de conversão bem abaixo do preço atual da ação. Em contrapartida, os títulos conversíveis da SolarCity, agora totalmente garantidos pela Tesla, afundaram e precisam ser resgatados em breve. A Tesla tem US$ 230 milhões em valor nominal da SCTY para serem convertidos até novembro deste ano, a um valor de conversão de US$ 560 por ação da Tesla. A situação vai piorar em 2019, quando US$ 566 milhões da antiga SCTY deverão ser convertidos até novembro a uma taxa de US$ 759 por ações da Tesla. Então, serão quase US$ 800 milhões em passivos que, provavelmente, deverão ser pagos em dinheiro.
Com a introdução do Model S em 2012, Musk fez algo que só ocorre uma vez a cada geração no mercado automotivo global: criou um segmento inteiramente novo, o BEVs (veículos elétricos). Mas os números indicam que a habilidade da Tesla em produzir a próxima inovação com o Model 3 – um veículo elétrico de massa – não vai acontecer em função da situação financeira da empresa. A combinação das finanças da Tesla com a SolarCity condenaram essa companhia inovadora a um purgatório econômico, e é triste que as decisões financeiras de Musk arruinem esse gênio do setor automotivo.