O mercado da cerveja artesanal segue em crescimento exponencial no Brasil. Há alguns anos, cada vez mais eventos dedicados à craft beer, grupos de assinatura e sommeliers especializados na bebida surgem em grandes cidades como São Paulo.
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“Em dez anos, o Brasil foi de 70 para 700 cervejarias. Em 2017, tivemos crescimento na faixa de 35%”, conta Carlo Lapolli, presidente da Associação Brasileira de Cerveja Artesanal (Abracerva). Esse movimento é impulsionado por diversos motivos. Um deles é a inclusão da cerveja na tendência mundial da chamada ‘gourmetização’, já que há “uma infinidade de estilos e sabores que permitem experiências novas”, explica.
Carlo Bressiani, diretor da Escola Superior de Cerveja e Malte, também defende a tese. “O primeiro motivo para esse crescimento foi a onda que veio depois da globalização, em que tudo foi padronizado, e o mundo todo passou a consumir as mesmas coisas. Voltamos a valorizar os produtos locais”, explica.
Bressiani também aponta como motivos para o boom da cerveja artesanal a migração de mulheres para o consumo da bebida, após a descoberta de novas possibilidades de sabores e texturas, e os cervejeiros caseiros, que começaram sua produção como um hobby e acabam por criar um círculo de influência.
Apesar do crescimento, o mercado de cervejas artesanais continua muito pequeno em comparação ao da bebida de larga escala. Não há, até então, uma pesquisa que determine a participação das artesanais no setor, mas a estimativa da Abracerva é que esse número esteja entre 1% e 2%. “Estamos uns 15 anos atrasados, mas na liderança na América Latina”, comenta Lapolli. Um diferencial da produção brasileira, segundo o especialista, é a possibilidade de explorar ingredientes dos diversos biomas do país e, assim, estimular a curiosidade do consumidor.
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Para começar a mapear esse cenário, a plataforma de e-commerce Clube do Malte fez um estudo sobre o comportamento e os hábitos de consumo da cerveja no Brasil. O relatório “Comportamento Cervejeiro Brasileiro: Uma Pesquisa sobre Hábitos de Consumo no País”, entre outras coisas, definiu o perfil socioeconômico do apreciador da bebida: a maior parte é composta por homens entre 31 e 40 anos, casados, sem filhos, com nível superior completo ou pós graduação, e renda mensal entre R$ 3 mil e R$ 6 mil.
A pesquisa também constatou que o Sul e o Sudeste predominam na cena cervejeira nacional. Mas Lapolli diz notar um fenômeno de descentralização: “Regiões que eram pouco desenvolvidas, como o Centro-Oeste, o Nordeste e o Norte, têm crescido bastante. Em Recife havia três cervejarias, agora são 11. E esse aumento ocorre em todas as regiões do país”.
Por se tratar de um produto caro, mesmo aqueles que apreciam as cervejas artesanais muitas vezes não abrem mão de comprar marcas de larga escala para o consumo do dia a dia. Segundo Bressiani, no Brasil, a cerveja artesanal é de quatro a cinco vezes mais cara do que marcas mainstream, enquanto, em países vizinhos, como Uruguai e Argentina, essa diferença fica entre duas e duas vezes e meia.
O preço, no entanto, ainda não parece ser um fator muito limitador para o crescimento do mercado. “Se a gente pensar que as classes A e B, que podem comprar essas cervejas, correspondem a 16% da população, ainda há muito espaço para crescimento”, diz Lapolli.