Como é de se esperar, a vida como soldado de operações especiais da marinha norte-americana ensinou Eli Crane, cofundador e CEO da Bottle Breacher, incontáveis lições de liderança que ele aplicaria ao longo de sua jornada como empreendedor. Mas a outra parte da equação é menos conhecida: o que ser a esposa de um militar ensinou à Jen, cofundadora da empresa ao lado de Eli. Ainda que ele seja o rosto da operação multimilionária que transforma balas de calibre .50 em abridores de garrafa, ela é o coração.
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O casal tem uma história de sucesso. Jen, que sempre tirou notas altas e estudou administração na faculdade, apaixonou-se pelo esforçado militar de Yuma, no Arizona. Desde o início o relacionamento foi complicado. Um dos desafios, por exemplo, era lidar com os longos deslocamentos que fazem parte da confidencialidade das Operações Especiais. “Era uma loucura… Então eu desviava a minha atenção para os meus filhos, pizza e ‘Grey’s Anatomy’”, relembra Jen. Apesar das constantes noites sem dormir e das longas separações, o comprometimento de um com o outro sempre os fez avançar.
Os dois transferiram o que aprenderam com o casamento para o negócio: é preciso mergulhar de cabeça. Seu lema é algo que todo empreendedor pode – e deve – imitar, tanto no casamento quanto nos negócios: comprometer-se, adaptar-se, superar.
Comprometimento
Eli ganhou um pequeno e simples abridor de garrafa em formato de bala de presente de seu irmão, um soldado da marinha que comprou o item nas Filipinas. Ele pensou, então, em recriar o item inovador, mas com algumas melhorias. Colocou um adesivo escrito “Punisher” (“O Justiceiro”), pintou e levou o abridor para a sua unidade militar. “As pessoas amaram”, lembra. Então, decidiu fazer mais alguns em sua garagem do alojamento militar.
“Era para ser algo pequeno”, admite Jen. “Nós começamos apenas para ganhar um pouco de dinheiro extra para jantar fora.” As primeiras 500 unidades foram feitas manualmente, utilizando uma caixa de ferramentas e tinta spray.
O negócio começou a crescer e o casal chegou a um momento crítico. Eles fizeram US$ 150 mil em vendas no primeiro ano, o que foi um bom começo, mas Eli continuava na marinha. Com duas filhas pequenas, eles gostavam da estabilidade de um salário mensal. Mas, ao mesmo tempo, sabiam que, para a Bottle Breacher ser um verdadeiro sucesso, eles teriam de mergulhar de cabeça. Foi uma das decisões mais difíceis de tomar.
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Eli então saiu da marinha para focar na parte da manufatura e Jen utilizou sua experiência em negócios para lidar com marketing, fotografia, finanças e vendas. Ela começou vendendo no Etsy, Amazon e diretamente online. Como já havia comandado dois negócios, sua experiência foi muito útil. Com seu comprometimento com Eli e sua visão – e o compromisso de um com outro – foi apenas uma questão de tempo antes de a empresa se tornar grande.
Adaptação
Logo, a operação tomou conta de toda a garagem. Eles utilizavam geradores, incomodando os vizinhos. Tinham quatro gravadores a laser, um disco de polir, computadores e luzes. O instinto comercial de Jen tomou conta e as coisas ficaram sérias. Eles projetavam arrecadar US$ 900 mil em seu segundo ano, mas chegaram perto de US$ 2,5 milhões.
Como conseguiram um salto tão grande? Participaram do “Shark Tank”.
Jen relembra: “Nós assistimos ao programa uma noite, quando as crianças estavam na cama, e falei para ele que, se nós conseguíssemos participar, fecharíamos um negócio. Nós tínhamos história, vendas e os Estados Unidos iriam amar o produto”. O casal então participou de um dia de casting em San Diego em que as primeiras 500 pessoas da fila poderiam falar com os investidores. Se alguém consegue passar pelo treinamento de agente especial da marinha, certamente consegue ficar na fila por mais tempo do que qualquer outra pessoa – eles chegaram lá na noite anterior, prontos para apresentar seu produto.
“Essa é uma boa história”, relembra Jen. “É como um trem em alta velocidade: você precisa entrar rapidamente.” Eles tiveram a oportunidade de apresentar e receberam uma ligação alguns dias mais tarde para enviar os documentos. O programa foi filmado do final de semana do Dia do Trabalho, em 2014, e foi ao ar em 2 de novembro, dois meses mais tarde. “Normalmente leva seis meses ou mais para ser exibido, então, no nosso caso, foi rápido. Nós investimos todas as nossas economias no produto, então, quando o programa foi ao ar, nos estabilizamos. No começo, nossas economias eram, literalmente, tudo o que tínhamos. Segundo, não era o suficiente. Na primeira semana depois de o ‘Shark Tank’ ir ao ar, ganhamos nosso primeiro milhão.”
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Os Cranes tinham um backlog (lista de pedidos em espera) tão grande que o “Shark Tank” filmou um episódio de “acompanhamento” da empresa falando sobre a questão. Mas a adversidade apenas os uniu ainda mais. Eli explica: “A resiliência vence. É o traço mais importante nas operações especiais e no empreendedorismo. Os obstáculos sempre vêm e o caminho é impiedoso.” É preciso se adaptar.
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Superação
“Eu não sugiro começar um negócio com seu marido ou mulher, nem mesmo que trabalhem juntos”, confessa Jen com uma risada. “No entanto, isso nos uniu ainda mais e só funciona porque somos muito opostos.” Independentemente da razão, o casal transformou seu produto no sonho norte-americano. Eles produzem entre 2.000 e 2.500 unidades por mês sem sinais de parada. Introduziram novos produtos, como um cooler e uma lanterna. E, ainda assim, conseguem tempo para dedicar-se um ao outro e às filhas.
Novas empresas requerem dedicação sem precedentes, assim como o casamento. Os Cranes sabiam, quando apostaram na Bottle Breacher, que seria tudo ou nada – mas que estariam sempre juntos