Nos últimos dez anos, o número de registros de bovinos da raça Brangus cresceu mais de 80% no Brasil, passando de cerca de 6.000 para 10.785 animais registrados, conforme a Associação Brasileira de Brangus (ABB). Para Joal Brazzale Leal, pesquisador da Embrapa Pecuária Sul (RS), o número está aquém da realidade observada no País, já que muitos pecuaristas não registram seus animais. Reconhecida por fornecer carne com gordura entremeada valorizada por mercados exigentes, a raça encontra-se em franca expansão de norte a sul do País.
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“A maior parte dos animais Brangus está nos rebanhos de produtores comerciais, que são a grande maioria no País, e somente as cabanhas especializadas em produzir animais com genética superior é que costumam registrá-los nas suas respectivas associações”, detalha o cientista que também preside o Conselho Técnico da ABB. Para ele, a expansão da raça é fruto de esforço de pesquisa.
Mais de meio século no Brasil
Os primeiros experimentos para formação do Brangus, raça composta de bovinos taurinos (Aberdeen Angus) com zebuínos (Nelore), no Brasil começaram em 1946, no sul do País. Com o passar do tempo, a raça ganhou prestígio entre pecuaristas de diferentes partes do Brasil e também por um nicho de mercado formado por consumidores mais exigentes, ávidos por uma carne mais marmorizada, macia e suculenta.
O desenvolvimento do Brangus uniu características das raças zebuínas, como rusticidade, resistência a parasitas, tolerância às variações climáticas e habilidade materna, com vantagens verificadas nos taurinos, como qualidade da carne, precocidade sexual, elevado potencial materno e fertilidade. “Além de produzir uma carne de qualidade, a habilidade materna, que é a capacidade de criar bem seus bezerros até o desmame, é o ponto mais forte do Brangus, como também, a menor suscetibilidade ao carrapato”, aponta Leal.
A maior parte do rebanho Brangus registrado ainda está no Rio Grande do Sul, porém, a raça é vista desde o extremo sul até o extremo norte do País, nos estados de Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás, Tocantins e Pará. Desde o início da ABB, até o ano de 2016, foram registrados 425 mil animais da raça, explica a Superintendente do Serviço de Registro Genealógico da ABB, Renata Pereira.
Mercado milionário
Segundo Leal, o Brangus tem gerado anualmente ao setor produtivo centenas de milhões de reais. “Por ano, são vendidos cerca de 2.000 touros Brangus de, em média, R$ 8 mil cada, o que dá R$ 16 milhões. As fêmeas, vendidas a R$ 3 mil por cabeça, são cerca de 5.000 mil, o que dá R$ 15 milhões. Isso sem mencionar as incontáveis vendas particulares. Há ainda que se adicionar à conta o processo do abate, do qual não se tem controle exato, mas se estima em algumas centenas de milhões de reais”, aponta o pesquisador.
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Enquanto a soma de exportações de doses de sêmen de bovinos de corte no Brasil (66.976), em 2014, caiu 25,6% em relação a 2013, as exportações de sêmen da raça Brangus foram de 7.952. Isso representa um crescimento de 98,8% nesse mesmo período, de acordo com a Asbia. A produção de sêmen total de Brangus (pelagem preta) aumentou 32,5%, com um total de 99.004, e o Red Brangus (pelagem vermelha) aumentou 166,6%, com total de 61.114 doses produzidas.
Produtor busca carne de melhor qualidade
O objetivo dos pecuaristas que têm utilizado o Brangus é obter maiores ganhos nas características mais desejáveis pelo mercado e pelos consumidores. “Estive no Texas (EUA) e vi que o Brangus vem crescendo muito lá. É uma forma de ter um sangue Angus, que é a melhor raça para carne, em função de maciez, marmoreio, sabor e suculência. Do Paraná para cima, sem ser por intermédio da monta natural, a única forma de termos isso é com o Brangus”, conta Carlos Eduardo Ribeiro do Valle, vice-presidente da ABB e produtor com fazendas no Mato Grosso e no Pará, com 170 e 250 animais Brangus registrados, respectivamente.
No Pará, onde foi introduzida há três anos, a raça vem ganhando cada vez mais importância e a produção é quase toda destinada à exportação. “Grupos exportadores do estado enviaram recentemente 12.500 bezerros de 180 a 300 quilos para a Turquia, que exigia animais sem cupim e pretos, exatamente o Brangus, pagando R$ 6,10 o quilo vivo, enquanto o normal seria pagar em torno de R$ 5. Esse diferencial está incentivando o produtor a trabalhar com a raça”, relata.
O criador lembra que, em um leilão realizado no ano passado, a média de venda dos touros Brangus foi de R$ 14.600, enquanto as fêmeas foram comercializadas a R$ 9.500. “Esse é um resultado muito bom. E a maior parte dos compradores era do Pará, com o objetivo de exportar”, informa.