A disparada do dólar acima de R$ 4,20 hoje (30) obrigou o Banco Central a atuar extraordinariamente no mercado de câmbio, o que aliviou a pressão de alta, mas não impediu que a moeda norte-americana renovasse a segunda maior cotação do Plano Real.
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Uma combinação de cautela com a cena eleitoral e preocupações com a situação da Argentina puxaram a moeda norte-americana em uma sessão altamente volátil: na máxima, a moeda foi a R$ 4,2155, com quase 2,50% de valorização, e, na mínima, chegou a R$ 4,1197.
O dólar avançou 0,78%, a R$ 4,1463 na venda. O dólar futuro avançava 0,85%.
“Não havia nenhuma demanda genuína por dólar a R$ 4,20, era apenas efeito manada”, argumentou o diretor de tesouraria de um grande banco estrangeiro.
O BC, percebendo o movimento, não perdeu tempo. Anunciou leilão de até 30 mil contratos de swap cambial tradicional – equivalentes à venda futura de dólares –, o equivalente a US$ 1,5 bilhão, mas só conseguiu completar a venda em uma segunda oferta, minutos depois.
Essa atuação extraordinária, no entanto, pode não ter passado de um movimento pontual, sem necessariamente se manter nos próximos pregões, avaliaram especialistas ouvidos pela Reuters.
A última vez que o BC tinha feito oferta adicional de swaps – em uma atuação conjunta com o Tesouro Nacional – foi em junho deste ano, depois que a greve dos caminhoneiros acabou levando a uma reprecificação dos ativos.
A autoridade já havia concluído mais cedo a rolagem dos contratos de swaps que venciam em setembro, totalizando US$ 5,255 bilhões.
Em outubro, segundo dados do site do BC, vencem US$ 9,801 bilhões em contratos de swap e há uma expectativa no mercado de que o BC, a exemplo do que fez com a linha – venda de dólares com compromisso de recompra – também possa anunciar após o fechamento do mercado sua intenção de rolar integralmente esse volume, para evitar qualquer especulação.
Na terça-feira (28), o BC anunciou leilão de US$ 2,15 bilhões para sexta-feira (31) para rolagem dos contratos que vencem em 5 de setembro.
A valorização do dólar hoje teve influência do avanço ante divisas de emergentes no mercado externo e também a cautela com a cena eleitoral. O movimento ganhou tração quando a Argentina elevou os juros a 60% ao ano, de 45%, o que causou um movimento forte de stop loss (quando o investidor zera posição para reduzir as perdas). “A Argentina foi a cereja do bolo hoje”, disse o diretor de operações da Mirae, Pablo Spyer, ao comentar o cenário nervoso.
Embora os especialistas comentem que o quadro doméstico é diferente do argentino, por exemplo, com nossas contas externas muito mais saudáveis, os investidores acabam promovendo ajustes generalizados em suas carteiras de emergentes quando há preocupação em algum dos lugares em que investem.
A pesquisa DataPoder360 divulgada de madrugada não trouxe um cenário muito diferente dos outros levantamentos, com Lula liderando a disputa e Geraldo Alckmin (PSDB), o candidato do mercado, sem decolar.
Mas mostrou que se Lula tiver que abrir mão da candidatura para Fernando Haddad, este teria potencial de receber 8% de votos “com certeza”, enquanto 26% “poderiam votar” nele no caso de ser apoiado pelo ex-presidente. Ou seja, seriam grandes as chances de um segundo turno com a presença de um petista.
“Se esses números forem reais, a chance de o candidato do PT chegar ao segundo turno são grandes. Triste perspectiva para o mercado financeiro, que trabalha em um ambiente de alta volatilidade, pressão e especulação com o atual cenário eleitoral”, afirmou a Advanced Corretora em comentário.
É por essa razão que a possibilidade de julgamento na sexta-feira pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) da participação de Lula na propaganda de rádio e televisão está sendo acompanhada de perto pelos investidores e ajuda a trazer cautela nos negócios.
O TSE também pode vir a decidir na sexta-feira sobre as impugnações ao registro da candidatura de Lula. O petista está preso desde abril no âmbito da Operação Lava Jato.
A pauta da sessão do TSE de sexta-feira divulgada hoje, no entanto, não prevê qualquer processo ligado à candidatura de Lula, embora possa ser alterada até uma hora antes do início previsto para a reunião, às 14h30 de amanhã. Quando a sessão foi convocada, na quarta-feira (29), no entanto, havia a expectativa do julgamento de Lula.
Fonte ouvida pela Reuters disse que houve uma avaliação de que julgar o registro do Lula no dia seguinte ao prazo de apresentação da defesa dele às impugnações, nesta quinta, poderia passar a impressão de pressa.