No início desta semana, o CEO da Tesla, Elon Musk, surpreendeu a comunidade de investidores quando anunciou os planos de oferecer a Tesla para o setor privado. O preço estipulado é de US$ 420 por ação, o que indica um valor total de US$ 82 bilhões.
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Segundo Musk, o financiamento para a transação foi “confirmado”, mas o CEO não citou de onde virá o dinheiro. Diante do sigilo, resta cruzar informações. No atual cenário, apenas a China tem escala de mercado e influência financeira suficientes para disponibilizar tais valores para a Tesla.
De fato, por três motivos importantes, a China se tornou um mercado sob medida para a Tesla:
O país é o mercado de carros de luxo número um do mundo. Estipula-se que Mercedes, BMW, Audi e Porsche vendam cerca de 2 milhões de veículos na China neste ano, o dobro do que será comercializado nos EUA.
A China construirá 1 milhão de veículos elétricos neste ano, representando nada menos que a metade da produção global. Metade! Esse domínio deve continuar até a próxima década. A partir de 2019, as cotas rígidas do país obrigarão todos os fabricantes de automóveis a garantir que os elétricos respondam por 10% ou mais de suas vendas totais.
Os consumidores chineses anseiam por exclusividade. Marcas de luxo como Hermes, Chanel, Gucci e Roll Royce contam agora com a China para 1/3 das suas vendas globais. E a Tesla definitivamente captura a imaginação da classe abastada do país.
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A empresa de Musk já desfruta de um momento bom nesse mercado. Em 2017, a a Tesla vendeu 17.000 sedãs Model S e Model X SUV na China, apesar das pesadas taxas de importação. Um Model S que custa US$ 72 mil na Califórnia é vendido por cerca de US$ 135 mil na China, por conta do acréscimo de impostos e taxas.
No mês passado, Musk anunciou planos para construir uma fábrica na China com capacidade para produzir 500 mil Teslas por ano. Uma vez que a fabricante se estabeleça no lado amigável dos muros tarifários rígidos do país, as vendas podem facilmente aumentar de dezenas de milhares para centenas de milhares por ano.
É nesse ponto que o mercado automotivo da China é importante: vender 100 mil carros por ano exigiria apenas 5% do mercado de carros de luxo do país. Esse número não é desafiador para a Tesla. Além do mais, a empresa tem duas outras vantagens cruciais no país.
Primeiro porque, graças a anos de negociações, a Tesla se tornaria a primeira empresa automobilística estrangeira autorizada a deter 100% de suas operações de produção e vendas na China.
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Em segundo, porque a Tencent, líder em tecnologia da China, já é a segunda maior acionista da Tesla, com uma participação de 5%, adquirida em 2016. A Tencent é uma máquina lucrativa com muitos recursos para futuros investimentos.
Nos últimos anos, a Tesla tem sido uma empresa de capital aberto que depende da Califórnia para quase 40% de suas vendas. Não é difícil imaginar a Tesla, na próxima etapa, como uma empresa privada com produção e vendas concentradas no maior mercado automotivo do mundo: a China.