Peter Vesterbacka é uma das pessoas mais reconhecidas no norte da Europa. Famoso pelo seu casaco vermelho com capuz (alguns dizem que ele o usa desde 2008), ele esteve envolvido em quase todos os aspectos da ascensão da Finlândia a um polo de empreendedorismo.
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Vesterbacka não tem medo de assumir projetos ambiciosos nem tem medo de falar alto, apressadamente ou até mesmo fracassar, o que o diferencia da vasta maioria de seus compatriotas. Vesterbacka é conhecido como um dos fundadores da famosa conferência Slush, em Helsinque, e também como o evangelizador do jogo “Angry Birds”, da Rovio, que se tornou um dos maiores sucessos de todos os tempos para celular e ganhou até filme de animação em Hollywood.
Vesterbacka e seu parceiro, Kustaa Valtonen, estão atualmente envolvidos na produção de um dos projetos de construção mais ambiciosos da Europa.
A ideia é conectar fisicamente a Finlândia à Estônia por meio de um túnel de 103 quilômetros, que abrigará trens-bala com a capacidade de chegar a Tallinn, vindo de Helsinque, em apenas 20 minutos. Atualmente, o tempo necessário para atravessar o golfo, de balsa, varia entre 90 minutos e 2h30 (se o clima permitir). Ao longo do caminho, é planejada a construção de uma ilha artificial, com milhares de edifícios residenciais e comerciais, entre outros empreendimentos. Estima-se que “The Island”, por si só, abrigue cerca de 50 mil habitantes, um grande centro de convenções e todas as comodidades que uma minicidade precisa para funcionar bem. O projeto não é da boca para fora. Prova disso é o fluxo constante de investidores da China, da Rússia e da América do Norte.
Vesterbacka tem uma velocidade de raciocínio impressionante. Não importa qual seja o tópico da conversa com ele, há sempre uma linha de base pró Finlândia: “Por que não devemos nos orgulhar de nosso país? É o melhor da Terra”, diz, com seu sorriso raro. Este é o cara que passou oito semanas na China para aprender um pouco da língua e se conectar melhor à cultura local.
“Este túnel tornará a Finlândia e a Estônia extremamente conectadas e competitivas. Hoje, nossos métodos de viagem para Tallinn não são ótimos o suficiente, devemos fazer melhor. Todos mal podem esperar que alguém forneça uma solução. Por isso, decidimos oferecer nós mesmos”, diz.
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Segundo relatório de 2017, Helsinque tem o porto de passageiros mais movimentado do mundo, com mais de 120 milhões de pessoas que navegam entre a cidade e São Petersburgo, Estocolmo, Copenhague, Oslo, Tallinn e Rostock, na Alemanha, entre outros destinos. De todas essas conexões, a mais movimentada é a de Tallinn, por onde passam mais de 4 milhões de passageiros por ano.
O prometido túnel, que será conhecido como FinEst, é uma espécie de maravilha da engenharia, pelo menos no papel. Com 103 km de extensão, abrigará dois trilhos para trens de alta velocidade e atingirá 200 metros em seu ponto mais profundo, com capacidade de conduzir cabos de comunicação essenciais, como internet de altíssima velocidade, extremamente necessária para aumentar a competitividade das empresas de tecnologia regionais.
Os preços dos bilhetes serão em torno de € 50 para uma única viagem e cerca de € 100 para ida e volta, com passes anuais disponíveis a partir de € 2 mil (o preço atual para cruzar o golfo de balsa é de € 70 a € 120). Com um custo estimado de construção de € 15 bilhões, a previsão de conclusão da obra é 2030, quando mais de 50 milhões de passageiros usarão o túnel, por ano. Vesterbacka é otimista e diz que a estimativa é que o FinEst se pague em apenas 17 anos. Além do túnel, há ainda grandes planos para melhorar o “Vale do Silício” da Finlândia, conhecida como Otaniemi, onde fica a sede da Nokia, por exemplo. Lá, diz Vesterbacka, estarão duas das torres mais altas da Europa, com uma enorme quantidade de pequenas torres comerciais que receberão mais empresas de tecnologia nacionais e internacionais do que em qualquer outro lugar no país.
“Somos a capital da Eurásia, a nação da União Europeia mais próxima de China, Japão e Rússia. O país com o melhor sistema de educação do mundo, com um dos ares mais limpos na Europa e a nação menos corrupta na Terra. Com esse túnel, também seremos um dos países mais competitivos”, prega Vesterbacka.
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A visão a longo prazo para o FinEst é o túnel ligar Helsinque à linha rápida do Rail Baltica (250 km), que iniciou sua construção em 2010, com previsão de conclusão prevista para 2026. Ele deverá ligar a Polónia, a Lituânia, a Letónia e a Estónia e, eventualmente, abrir os países bálticos e nórdicos para a rede ferroviária europeia.
“Idealmente, poderemos viajar de Helsinque para Vilnius ou Varsóvia em uma questão de 4 ou 5 horas, sem prejudicar o meio ambiente”, finaliza.