A Venezuela possui, oficialmente, as maiores reservas de petróleo do mundo, com 303 bilhões de barris comprovados. Mas, muito desse petróleo é extra-pesado, tipo que pode não ser economicamente viável se considerarmos os preços atuais. Assim, uma parte dos barris da Venezuela pode, na realidade, não estar mais na categoria de “reservas comprovadas”.
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Considere que o estoque comprovado da Venezuela saltou de 80 bilhões de barris em 2005 para 300 bilhões de barris em 2014. A principal razão para isso não foi uma série de novas descobertas da substância, mas o fato de os preços da commodity terem atingido três dígitos, o que torna a produção do petróleo extra-pesado do país economicamente interessante. Em outras palavras, os “recursos” (o petróleo não extraído) foram transferidos para a categoria de “reservas comprovadas” (petróleo que é rentável para produzir).
A Arábia Saudita, por outro lado, informou 264 bilhões de barris de reservas comprovadas em 2005, e 267 bilhões de barris em 2014. Os barris do país foram considerados rentáveis antes mesmo de os preços do petróleo subirem. Por essa razão, o estoque comprovado da Arábia Saudita – 16% do total global – pode ser considerado como o mais importantes para o mercado mundial da commodity.
As dúvidas sobre a quantidade de reservas da Arábia Saudita persistiram por anos. Em 1982, a nação parou de permitir que seus dados de petróleo e gás fossem examinados. Antes disso, os investidores tinham algum acesso a informações sobre as reservas. Quando essa acessibilidade foi desativada, o país provou que o estoque estava estimado em 166 bilhões de barris.
No entanto, por volta de 1988, a Arábia Saudita aumentou seu estoque comprovado em 90 bilhões de barris. Muitos especialistas sugerem que essa revisão para cima foi baseada em políticas internas da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo). Como as reservas não estavam mais sujeitas a auditoria externa, havia muito ceticismo em torno dos números oficiais divulgados pelos sauditas.
O ceticismo se aprofundou quando se considerou que as reservas da Arábia Saudita em 1990 eram de 260 bilhões de barris, e hoje – quase 30 anos depois – são de, supostamente, 266 bilhões. O país produziu mais de 100 bilhões de barris entre 1990 e 2017. Como então suas reservas poderiam estar essencialmente inalteradas?
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Em preparação para uma possível IPO (abertura de capital em bolsa), a companhia nacional de petróleo saudita Saudi Aramco encomendou, recentemente, uma auditoria externa independente de suas reservas comprovadas, e descobriu que o estoque de petróleo do país é de, pelo menos, 270 bilhões de barris.
Mas as dúvidas persistem. O economista especializado no assunto Dr. Mamdouh G. Salameh, professor visitante de Economia da Energia na ESCP Europe Business School, em Londres, escreveu recentemente: “Meu cálculo das reservas sauditas com base na produção desde a descoberta do petróleo, em 1938, até agora, com a dedução de uma taxa de esgotamento de fontes de 5% a 7% para o mesmo período, figura de 70 a 74 barris de reservas remanescentes. Meus números estão mais ou menos de acordo com os de outros especialistas”.
Na verdade, eu fiz um cálculo semelhante. Comecei com a suposição de que a estimativa de 1982 (166 bilhões de barris) estava correta, e então subtrai a produção saudita desde então. Calculei sua produção total desde 1982 como, aproximadamente, 100 bilhões de barris, o que deixa 66 bilhões em estoque.
No entanto, eu fiz uma verificação que colocou essa conta em xeque. Apliquei o mesmo cálculo para as reservas comprovadas dos EUA ao longo do mesmo período de tempo.
Em 1982, os EUA provaram que as reservas de petróleo bruto eram de 35 bilhões de barris. Em 2005 – e antes que o boom do petróleo de xisto estivesse em andamento -, o estoque comprovado do país havia caído para 30 bilhões de barris. Mas a produção total dos EUA entre 1982 e 2005 foi de 77 bilhões de barris.
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Se estendermos esse cálculo até o final de 2017, as reservas comprovadas dos EUA saltaram para 50 bilhões de barris, e há 117 bilhões de barris em produção no país desde 1982.
Para reiterar, em 1982 os Estados Unidos provaram que as reservas de petróleo estavam em 35 bilhões. Até 2017, o país produziu 117 bilhões de barris, embora as reservas comprovadas tenham crescido para 50 bilhões.
Como isso aconteceu? Houve novas descobertas, melhorias tecnológicas que permitiram que mais barris fossem extraídos de campos existentes e preços mais altos que tornaram os recursos adicionais viáveis para serem extraídos.
Eu acho razoável assumir que a Arábia Saudita também encontrou reservas adicionais desde 1982. O país tem acesso aos mesmos tipos de tecnologia que melhoraram a recuperação nos campos dos EUA. Portanto, não acredito que seja um exercício legítimo considerar o esgotamento de um número de reservas históricas para estimar as atuais. Tal conceito teria sugerido que a produção de petróleo dos EUA teria caído para zero em 1991.
Assim, não encontro uma base razoável para concluir que as reservas da Arábia Saudita são muito inferiores aos seus números oficiais. As quantidades publicadas são consistentes com a auditoria independente e com a experiência nos EUA de crescimento de reservas, apesar da significativa produção de petróleo.
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Para que você não pense que os resultados dos EUA são atípicos, você pode repetir este exercício para qualquer um dos maiores produtores de petróleo do mundo e encontrar o mesmo resultado. Começar pelas reservas comprovadas em 1982 e subtrair a produção subsequente não irá prever com precisão o estoque em algum momento no futuro. Em muitos casos – assim como nos EUA -, a produção acumulada foi maior do que o estoque comprovado de 1982.
Portanto, não tenho boas razões para duvidar dos números oficiais da Arábia Saudita. É muito provável que o país tenha os 270 bilhões de barris de reservas comprovadas de petróleo.