À frente do conglomerado SEB (Sistema Educacional Brasileiro), um dos maiores do país, está um homem simples, de sorriso fácil, que começou a vida na educação como bedel. Ele é Chaim Zaher, libanês naturalizado brasileiro que chegou a Araçatuba, no interior paulista, ainda criança. Nesta entrevista à FORBES, Chaim revela que, com a ajuda da família, pretende dobrar o tamanho do grupo nos próximos cinco anos. Hoje o SEB tem faturamento de cerca de R$ 800 milhões, sendo que 90% das operações são voltadas à educação básica e 10% têm foco no Ensino Superior e cursos de pós-graduação.
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FORBES – O senhor começou como bedel de cursinho. Como se tornou um dos nomes mais importantes da educação no país?
Chaim Zaher – Minha história começou como a de muitos outros imigrantes, com muito trabalho. Meu pai
montou um restaurante árabe que não deu certo. Com esse episódio, aprendi que o importante é ser bom no que você se propõe a fazer. Nesse restaurante eu fui garçom, balconista… Aprendi a ter flexibilidade e timing. Na sequência, trabalhei em um cursinho como porteiro e vendedor de matrículas. Foi quando decidi abrir o meu primeiro negócio. Fiz uma parceria com o Equipe Vestibulares, criando o Conequipe de Araçatuba. Depois veio a parceria com o Objetivo. Com o tempo, percebi que estava preparado para um desafio maior e adquirimos o COC. Investi tudo o que tinha nessa aquisição. Na época, eram 1.800 alunos, sendo que 900 eram bolsistas. Foi um período de muito foco e trabalho para reverter a operação, reposicionar a marca, buscar o equilíbrio financeiro na operação e crescer. De lá para cá, vendemos o COC, criamos a Uniseb (que vendemos para a Estácio), compramos diversas escolas e marcas (em especial a Maple Bear) e, há dois anos, lançamos a Concept, uma escola de vanguarda, idealizada no Brasil e que se consolida como referência no mundo. Agora em 2018, lançamos a Luminova, voltada às famílias que não dispõem de muita renda. A Luminova é um modo de devolver à sociedade muito do que aprendemos, de forma que o tíquete médio incluísse mais famílias no sistema de educação privado. Basicamente, a missão da Luminova é incluir.
Qual é sua visão de liderança?
O mais importante é compartilhar sua visão de futuro com as pessoas certas. Isso parece simples, mas traz dois grandes desafios: ter uma visão de futuro inspiradora, sólida, a partir da qual as pessoas se sintam parte. Isso é algo extremamente complexo e que exige dedicação incondicional. O segundo desafio é identificar as pessoas corretas. Isso não se percebe lendo currículos. Sempre dediquei grande parte de meu tempo entrevistando novos professores e novos executivos e, tão importante quanto, convivendo e trabalhando com eles para conhecê-los com mais em detalhes.
Quais foram os maiores desafios nos 50 anos da empresa?
Foi no começo, quando você tem uma visão na cabeça, uma vontade grande de colocar sua ideia em prática, mas faltam capital e reputação. Não à toa, a maior parte das empresas morre antes de completar dois anos. Capital pessoal – e aqui estou falando de demonstrar seu compromisso para que os primeiros clientes, sejam eles corporativos ou pessoas físicas, confiem em você – é o que separa os empreendedores que vão progredir daqueles que não vão. Uma vez com sua empresa estabelecida e consolidada, você precisa encontrar caminhos para manter a gestão próxima, a eficiência operacional e continuar crescendo. Gerir uma empresa grande é como andar de bicicleta, você precisa manter o movimento para continuar em pé. E isso é complexo, pois também muitos empreendedores são autoindulgentes e acabam por relaxar depois que atingem determinado patamar. Manter a disciplina, o foco no trabalho e a austeridade são fundamentais. Esse é um segundo grande desafio. No caso de empresas que permanecem familiares, manter a coesão na gestão à medida que os herdeiros entram na vida adulta e demonstram interesse no negócio. E há um terceiro e delicado desafio onde muitos escorregam: dialogar francamente é fundamental, definir papéis, uma hierarquia clara e metas para todos é algo que se sobrepõe a eventuais discussões familiares dentro dos limites da empresa. Eu tenho muito orgulho, em especial por nossa gestão ser tão profissionalizada e por nosso processo sucessório ser gradual e consistente. Posso dizer que convivo com o melhor dos dois mundos: família e empresa juntos, com relações que se somam e nunca se subtraem.
O grupo mudou após a venda para a Pearson e não para de crescer. Como planeja a expansão da companhia?
Nossa forma de fazer negócios mescla uma visão de médio prazo consistente, focada na oferta de serviços de alta qualidade em todas as operações, com um olhar atento para as oportunidades que surgem. Num mundo cada vez mais dinâmico, não faz sentido ter planos rígidos. Adaptar-se com rapidez é um imperativo.
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A Concept trouxe um modelo inovador. Como surgiu?
A Concept era um projeto necessário. Sentíamos que o mundo vinha demandando novos formatos de educação. Em todas as nossas escolas, somos reconhecidos pelo investimento que fazemos em inovação e no treinamento permanente dos nossos professores. Mas sentíamos que havia uma lacuna. Um formato de educação que de fato fosse disruptivo e não baseado em investimentos recorrentes sobre o modelo vigente. Durante anos nos questionamos sobre como a educação das novas gerações deveria ocorrer. Fizemos isso ao invés de seguir nos questionando sobre como melhorar a educação atual. Parece uma sutileza, mas mudar a pergunta mudou tudo. Saíamos pelo mundo visitando algumas das mais inovadoras escolas, conversamos com diversos especialistas e criamos um grupo de pesquisa multidisciplinar que se dedicou por anos a conectar o que de mais inovador vimos com a nossa experiência de 50 anos. Assim nasceu a primeira escola de vanguarda brasileira: pensada por brasileiros, com educadores recrutados em diversos lugares do mundo e que em menos de dois anos já é reconhecida até fora do país.
O que representa sua chegada ao Vale do Silício?
Estamos chegando ao Vale do Silício pela Concept, que tem uma proposta pedagógica de vanguarda, que prepara as crianças para o mundo atual e o futuro. Aqui cabe um ponto: a Concept realmente foi pensada para preparar o ser humano para ser fluente num mundo que não existe hoje e, ao existir, se tornará obsoleto logo depois. É uma escola pensada para criar pessoas que se deem bem diante do incerto, de um mundo no qual a certeza que temos é a da mudança. O adulto do futuro terá que dominar a linguagem digital. Pensando sob essa ótica, fez e faz todo sentido abrirmos uma unidade da Concept no Vale, um dos lugares do mundo onde esse futuro já se faz presente.
Conte-nos algo sobre o SEB que nunca revelou.
Pouca gente sabe que planejamos dobrar de tamanho nos próximos cinco anos. É o que pretendo fazer com a participação ativa da minha família e por meio de uma gestão bastante profissional. Ao meu lado e à frente de todas as decisões importantes estão minha mulher, cofundadora do grupo e vice-presidente, idealizadora da Concept, e minhas filhas que atuam no negócio.
Reportagem publicada na edição 63, lançada em novembro de 2018
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