Resumo da matéria
- Em vídeo gravado antes de sua prisão, Carlos Ghosn acusou a administração da Nissan de traição e conspiração;
- No depoimento, divulgado por seu advogado para jornalistas japoneses, executivo afirma ser inocente;
- A Nissan se recusou a comentar sobre o processo criminal, mas um porta-voz afirmou que uma investigação interna “descobriu evidências de conduta antiética”.
Carlos Ghosn, ex-presidente da Nissan Motor, acusou a administração da empresa de “traição” e de uma “conspiração” que levou à sua prisão e expulsão. A declaração foi divulgada para a imprensa por meio de um vídeo gravado antes da nova prisão do executivo na última quinta-feira (4).
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O executivo foi preso pela primeira vez em novembro do ano passado, acusado de declarar um salário menor do que recebeu por uma década de trabalho na montadora japonesa e de transferir perdas financeiras pessoais para a companhia.
Ghosn cumpriu 108 dias e foi solto sob fiança. Na semana passada, foi preso novamente por autoridades japonesas, que alegaram desvio de fundos da empresa para o executivo.
Promotores dizem que ele usou fundos da Nissan para comprar um iate e investir em uma startup de São Francisco, criada por seu filho. Além disso, Ghosn foi acusado de enriquecer por meio de uma série de negócios complexos com parceiros em Omã, Arábia Saudita e Líbano, local onde nasceu e ainda é visto como um líder bem-sucedido globalmente.
Ontem (8), acionistas da Nissan votaram para removê-lo do conselho de diretores e substituí-lo por Jean-Dominique Senard, presidente da Renault SA.
O que está em disputa é a futura direção da aliança de duas décadas entre a Nissan e a Renault, que detém 43% da montadora japonesa.
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No vídeo de sete minutos apresentado pelo advogado de Ghosn, Junichiro Hironaka, para um grupo de repórteres em Tóquio, o executivo fez seus primeiros comentários públicos desde sua primeira prisão. Hironaka omitiu nomes de executivos específicos da Nissan que seu cliente considera terem participado da suposta conspiração.
“A primeira coisa que quero dizer é que sou inocente”, diz Ghosn no vídeo, com uma fala calma, mais magro e ostentando cabelos mais grisalhos do que em sua última aparição pública. O vídeo retrata o executivo de 65 anos como vítima de traição das empresas e de um sistema japonês injusto. “Não é sobre ganância, não é sobre ditadura”, acrescenta Ghosn. “Isso é uma conspiração. Estou sendo esfaqueado pelas costas.”
Ghosn também acusou a gerência da Nissan de agir para proteger seu próprio poder na aliança com a Renault. Inicialmente, a montadora francesa e o governo da França apoiaram o executivo, presumindo sua inocência. No entanto, ele renunciou ao cargo de CEO da Renault em 24 de janeiro de 2019. “Havia o receio de que o próximo passo da aliança, em termos de convergência, de certa forma ameaçaria algumas pessoas ou a autonomia da Nissan”, disse.
Na semana passada, a esposa de Ghosn, Carole, fugiu do Japão para Paris, declarando a uma repórter francesa que se sentia em perigo depois que autoridades japonesas confiscaram seu passaporte libanês.
A Nissan se recusou a comentar detalhes do processo criminal contra Ghosn, mas o porta-voz Nicholas Maxfield disse que uma investigação interna “descobriu evidências substanciais de conduta descaradamente antiética”. “A empresa continua focando em abordar pontos fracos na governança que permitiram essa má conduta”, completou.
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As ações da Nissan perderam quase 20% de seu valor no ano passado e caíram 6,7% desde a primeira prisão de Ghosn.
“O problema da Nissan é que os dias de glória ficaram bem no passado”, disse Robert Medd, analista da Bucephalus Research, à “CNBC”. “Nos últimos três ou quatro anos, as vendas têm passado por uma crise catastrófica.” Em seguida, referindo-se aos parceiros da aliança, Medd comparou a Nissan e a Renault com “dois dinossauros que estão no caminho errado de uma indústria em constante mudança”.
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