A Vale prevê investir US$ 2,5 bilhões, em cinco anos, na ampliação de tecnologia de processamento de minério de ferro que dispensa o uso de barragens de rejeitos, cada vez mais temidas após dois grandes desastres em Minas Gerais em pouco mais de três anos.
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O objetivo é que o método, conhecido como processamento a seco, por não utilizar água, seja aplicado em 70% da produção da mineradora até 2023, contra 60% atualmente, afirmou a maior produtora de minério de ferro à Reuters.
Os recursos, de acordo com a companhia, serão empenhados principalmente na conclusão da conversão da Usina 1, a principal de Carajás, além de projetos para atender o aumento de produção do S11D, maior empreendimento de minério de ferro da companhia, na Serra Sul de Carajás (PA), e em ativos de Minas Gerais.
Das 17 linhas de processamento da Usina 1, 11 já são a seco e as seis linhas a úmido restantes serão convertidas até 2022.
“Além disso, os recursos serão usados em projetos que estão em fase de licenciamento ambiental em Minas Gerais como Apolo e Capanema”, afirmou o diretor de planejamento e desenvolvimento de ferrosos da Vale, Fabiano Carvalho Filho, em uma resposta por e-mail.
A Vale indicou que o investimento não tem relação direta com os desastres de Brumadinho, que deixou 237 mortos confirmados, e Mariana, da Samarco, que matou outros 19, causando ainda o que é considerado o pior desastre ambiental do país.
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Os aportes ocorrem como parte de um plano antigo da companhia, que disse ter investido quase US$ 17,5 bilhões nos últimos dez anos em mineração a seco.
Em 2010, apenas 20% da produção da empresa era por meio do processamento a seco, contra 40% em 2014 e 60% em 2018, segundo a Vale.
Apesar da ampliação da mineração a seco, a Vale tem ainda mais de 500 barragens, diques e pilhas em suas atividades, no Brasil e no exterior.
A empresa pontuou que o processamento a seco está vinculado à qualidade do minério de ferro extraído na frente de lavra.
Em Carajás, onde o teor de ferro é elevado, acima de 64%, o material somente é britado e peneirado, para ser classificado por tamanho.
As plantas de tratamento de Serra Leste, em Curionópolis, e do S11D, em Canaã dos Carajás, ambas no Pará, não utilizam água no tratamento do minério.
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“No S11D, por exemplo, o uso da rota de processamento à umidade natural permite reduzir em 93% o consumo de água quando comparado com um projeto convencional de produção de minério de ferro. A economia de água equivale ao abastecimento anual de uma cidade de 400 mil habitantes”, disse a Vale.
Já em Minas Gerais, histórica região produtora do Brasil, mas que já contém muitos ativos em declínio, o teor médio é de 40% de ferro. Para aumentar o teor, o minério é concentrado por meio do beneficiamento com água. O rejeito, composto principalmente por sílica, é depositado com a água nas barragens.
Em Minas Gerais, o processamento a seco foi ampliado de 20%, em 2016, para 32%, em 2018, segundo a Vale, que pontuou que esse tipo de processamento está presente em unidades como Brucutu, Alegria, Fábrica Nova, Fazendão, Abóboras, Mutuca, Pico e Fábrica.
OUTRAS TECNOLOGIAS
Em outra frente, a empresa anunciou em fevereiro planos de investir US$ 390 milhões, a partir de 2020, na implementação de tecnologia de empilhamento a seco de rejeito de minério em Minas Gerais.
Essa técnica permite a filtragem e reutilização da água do rejeito e possibilita que este último seja empilhado, reduzindo também o uso das barragens.
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“O objetivo é alcançar até 70% do rejeito disposto nos próximos anos, contudo, o sucesso depende do aprimoramento da tecnologia e de questões externas, como licenças ambientais”, disse a empresa em seu levantamento, sem detalhar um prazo.
A Vale destacou, no entanto, que atualmente não existe operação de empilhamento a seco na escala de produção da Vale e em região com índices pluviométricos como os do Quadrilátero Ferrífero em Minas Gerais.
Segundo a companhia, a tecnologia de empilhamento a seco disponível hoje é usada quando há no máximo até 10 mil toneladas de rejeito produzidas por dia, em regiões com baixa incidência de chuva. Em Minas Gerais, a escala de produção de rejeito da Vale está, em média, em 50 mil toneladas/dia por unidade.
A empresa concluiu, no ano passado, estudos de um projeto piloto que teve início em 2011, com investimentos de R$ 100 milhões na pilha Cianita, em Vargem Grande. Os próximos testes, segundo a empresa, serão aplicados em escala industrial na mina do Pico, no município de Itabirito.
Outra tecnologia que vem sendo estudada pela Vale é a concentração magnética a seco do minério de ferro com base em tecnologia desenvolvida pela New Steel, empresa adquirida por ela no fim de 2018 por US$ 500 milhões.
A empresa surgiu em 2007 e obteve patentes em 20 países, incluindo o Brasil, com seu método de beneficiamento, que dispensa o uso de água e permite que o rejeito gerado seja disposto em pilhas como estéril, semelhante ao que ocorre no empilhamento a seco.
Essa tecnologia, no entanto, está em fase de desenvolvimento industrial e ainda não está pronta para ser aplicada em larga escala.
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