O governo não teme um dólar acima de R$ 4 porque o Brasil tem bons fundamentos, afirmou o ministro da Economia, Paulo Guedes, ressaltando que a desvalorização do real pode contribuir para a reindustrialização de alguns setores, como têxtil, calçados e autopeças. “Se o dólar for para R$ 4,10 ou R$ 4,20 reias estamos preparados”, afirmou Guedes em discurso durante evento do Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP), no Rio de Janeiro. O dólar fechou em queda ontem (15), depois de na véspera terminar a R$ 4,0405, encerrando acima de R$ 4 pela primeira vez desde maio.
Guedes frisou que não acredita na possibilidade de um “ataque especulativo” contra a real. “Não temos nenhuma preocupação com a questão cambial e nossa dinâmica de crescimento é própria”, afirmou, acrescentando que “nem mesmo uma eventual recessão nos Estados Unidos preocupa”. “Se o mundo desacelera, caem preços das commodities, o dólar pode subir um pouco mesmo, de repente você vai reindustrializar nos setores de autopeças, carros, têxtil, sapatos, móveis, não devemos temer o efeito contágio.”
LEIA MAIS: Dólar tem maior salto em mais de um mês
O ministro relacionou a instabilidade recente do câmbio à desaceleração da economia global e à vitória da oposição nas eleições primárias na Argentina. Ao comentar a mudança na atuação cambial do Banco Central, anunciada na noite de quarta-feira, o ministro afirmou que o país está fazendo “um bom uso de suas reservas internacionais” e destacou que a venda de dólares no mercado à vista ajudará a reduzir a dívida pública. “Você recompra a dívida interna e reduz dratiscamente o déficit interno porque você reduz suas despesas de juros em reais. Então você pode investir porque você abre mão das reservas e aumenta capacidade de investimento”, afirmou Guedes.
O BC anunciou que vai voltar a vender recursos de suas reservas este mês pela primeira vez em dez anos, para suprir liquidez ao mercado spot. A autoridade monetária afirmou que a medida pode contribuir para uma redução da dívida bruta, embora esse não seja o objetivo da iniciativa.
Ao ser questionado por jornalistas se haveria um limite para o uso das reservas para intervenção no câmbio, Guedes disse que esse o assunto é de responsabilidade do presidente do BC, Roberto Campos Neto. O ministro disse ainda que o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), vai encaminhar em breve o projeto de independência do Banco Central e que a “crise no Coaf” vai ajudar a acelerar essa discussão.
O governo definiu que o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) — que era vinculado ao Ministério da Justiça mas foi realocado no Ministério da Economia por decisão do Congresso — agora será transferido para a estrutura do Banco Central.
Guedes classificou a mudança como um “aperfeiçoamento institucional”. “A solução da crise do Coaf vai ser justamente colocá-lo dentro de um Banco Central independente, porque ainda nenhum dos Poderes pode dizer, nem o Supremo pode reclamar, que o ministro da Justiça estaria usando o Coaf para investigar”, afirmou.
Facebook
Twitter
Instagram
YouTube
LinkedIn
Tenha também a Forbes no Google Notícias.