Resumo:
- Os mercados já começam a dar sinais de que estão inseguros;
- A ideia ultrapassada de que diminuir taxa de juros estimula o crescimento da economia pode causar alta na inflação;
- A guerra política e comercial de China e Estados Unidos pode causar aumento do desemprego nos dois países;
- O momento de incerteza na Europa enfraqueceu a economia de todos os países do bloco;
- As eleições americanas de 2020 é outro evento que vai trazer insegurança para investidores de todo o mundo.
As últimas semanas marcaram uma reviravolta na economia global. É mais do que apenas a guerra comercial EUA-China . Uma sensação de vulnerabilidade está substituindo a confiança que tomava conta de todos, e há razões para isso.
Vamos falar sobre os riscos que a economia norte-americana pode enfrentar em 2020 ou 2021 e o ambiente econômico no qual iremos travar essa batalha.
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Problemas com fornecimento
Em um artigo recente para o “Project Syndicate”, o economista e professor da NYU (New York University) Nouriel Roubini destacou três impactos possíveis que poderiam começar uma recessão:
- A guerra comercial e financeira entre os Estados Unidos e China;
- Uma possível guerra fria de tecnologia entre americanos e chineses (que poderia ter grandes implicações no longo prazo);
- Tensões com o Irã que poderiam ameaçar a exportação de petróleo no Oriente Médio.
O primeiro cenário parece estar ficando cada dia pior. O segundo não está melhorando. Eu considero o terceiro pouco provável.
De qualquer maneira, diferentemente do choque de demanda em 2008, os novos cenários afetam a oferta de diversos bens. Eles poderiam reduzir a produção e, assim, aumentar preços de materiais brutos, bens intermediários, e/ou produtos de consumo finais.
O professor Roubini acredita que o efeito causaria estagnação e inflação, parecido com o que ocorreu na década de 1970.
Por serem impactos na oferta e não na demanda, se Nouriel Roubini estiver correto, o tipo de políticas fiscais e monetárias empregadas em 2008 terão efeito menor dessa vez, talvez até um resultado negativo.
Cortes nas taxas de juros poderiam agravar a inflação de preços em vez de estimular o crescimento da economia. Isso, por sua vez, provavelmente reduziria gastos de consumo, que é a única coisa que nos protege de uma recessão no momento.
Crescimento abaixo do normal
A maioria dos problemas se resume a dívidas. Dívidas não são necessariamente ruins e podem até ser boas se usadas de maneira produtiva. Mas a maioria delas não é.
Teoricamente, uma economia sobrecarregada com dívidas improdutivas deveria sofrer com taxas de juros crescentes devido ao risco excessivo tomado. Mas nós estamos vivendo em um mundo de taxas baixas e decrescentes. Por quê?
Lacy Hunt, da Hoisington Management, provou que a aceleração da dívida do governo desvaloriza as condições das atividades comerciais. Isso reduz o crescimento econômico, então, as taxas caem. Os dados mostram que a quantidade de PIB que cada nova dívida produz tem diminuído consistentemente.
Isso é um problema porque, além de outros motivos, bancos centrais ainda acham que taxas menores são a solução para os problemas, assim como o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Todos eles, infelizmente, estão enganados, mas continuam tentando fazer as taxas chegarem a zero ou até menos. Isso não vai ter o efeito que eles esperam. Se Lacy estiver certa, como acho que está, a o Federal Reserva está no caminho certo para cometer o erro de diminuir ainda mais as taxas de juros conforme a economia enfraquece.
O órgão também errou em aumentar as taxas de juros em 2018. Eles deveriam ter aumentado as taxas lentamente desde 2013 em diante, mas esperaram muito tempo para isso. Essa longa linha de erros deixou os legisladores sem uma boa opção sequer.
O melhor a se fazer é não fazer nada, mas essa não parece ser uma opção.
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Negócios paralisados
Muitos relacionam a situação à diminuição do comércio global. A guerra comercial de Trump não tem ajudado, mas a globalização já estava regredindo antes dele assumir o cargo.
A automação industrial e outras tecnologias estão matando a “arbitragem de salários”, que transferiu a manufatura do Ocidente para países com salários baixos como a China. Salários maiores nesses lugares também estão perdendo vantagem. E isso promete continuar.
Idealmente, o processo teria acontecido gradualmente e dado tempo para todos se adaptarem. Trump e seu conselheiro financeiro, Peter Navarro, querem isso agora. Na minha opinião, o pedido recente do presidente para que as empresas americanas deixem a China não foi um blefe. Ele realmente quer que elas deixem o país, e possui as ferramentas para forçá-las a fazer isso. A pergunta a ser respondida é se ele vai à frente.
Eu concordo que devemos dar atenção ao problema da China, mas o fato de termos de fazer algo não torna tudo factível ou aconselhável.
Tarifas são uma ideia ruim e contraprodutiva. Cortar redes de fornecimento construídas por décadas em poucos anos é uma ideia ainda pior. Isso acabaria com milhões de empregos nos Estados Unidos conforme as indústrias encerram as atividades por falta de materiais.
Alguns dizem que tudo isso é apenas barulho de Donald Trump. Talvez seja, mas a mera ameaça pode paralisar as atividades.
CEOs e presidentes não comprometem grandes quantidades de capital sem alguma certeza de custos e retornos. O presidente americano está tornando esse comprometimento impossível para muitos.
Europa em desordem
A Europa também está se tornando um grande problema. Taxas de juros negativas mostram que há um problema escondido. A Itália já está em recessão. A Alemanha sofreu seu primeiro trimestre negativo e pode entrar em recessão oficial logo.
A Alemanha é extremamente dependente de exportações. Todo o projeto de moeda europeia foi, indiscutivelmente, um plano para aumentar as exportações alemãs, e funcionou muito bem.
Mas o aumento foi muito alto, levando países como a Grécia, que comprava produtos alemães, à falência. A China, que é outro cliente importante, também está comprando menos da Alemanha.
Uma recessão alemã teria um efeito no mundo todo. Vendas de automóveis estão diminuindo, e o Brexit poderia piorar a situação. Isso causaria, muito provavelmente, uma recessão da Europa como um todo. E o cenário afetaria as exportações e empregos das Estados Unidos.
Também existe o problema do Brexit. A essa altura ainda não sabemos se o Reino Unido e a Europa chegarão a um acordo, mas existe risco de um fim complicado para a situação. As notícias focam nos danos para o Reino Unido, mas a Europa também será afetada, especialmente a Alemanha, que mantém relações comerciais estreitas com os britânicos.
Essas cadeias de fornecimento são tão complicadas e consolidadas como as entre China e Estados Unidos. Quebrar e reconstruir vai demorar e custar caro.
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Estrada esburacada
Lembra quando especialistas disseram para mantermos política fora das estratégias de investimento?
Não temos mais essa escolha. Decisões políticas e resultados eleitorais por todo o mundo têm consequências diretas e imediatas nos mercados. O Brexit é só mais um exemplo disso.
Outro exemplo bem maior é a campanha presidencial dos Estados Unidos em 2020. Nenhum dos resultados possíveis é particularmente bom. Eu acho que o melhor que se pode fazer é seguir o fluxo.
Mas, entre agora e novembro de 2020, só teremos acesso a pesquisas. Isso vai gerar uma alta volatilidade do mercado, fazendo com que políticos e banqueiros queiram fazer “algo” que vai acabar sendo um erro.
Como dito acima, se o professor Roubini estiver certo, então, o corte das taxas não vai ajudar. Esse é, simplesmente, um jeito de encorajar mais dívidas, que não são efetivas para estimular crescimento, conforme diz o trabalho de Lacy Hunt. Mas pode funcionar para explodir bolhas.
A minha expectativa é que 2020 seja um dos mais voláteis da história.
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