A evolução da cotação da moeda norte-americana no Brasil tem preocupado. Durante a sessão de ontem (27), às 11h39, o dólar chegou a ser negociado pela primeira vez a R$ 4,5030, sem descontos de inflação ou efeitos cambiais. A cotação de abertura durante a sessão era de R$ 4,4636, enquanto o valor de fechamento chegou ao novo recorde de R$ 4,4751. A alta registrada foi a sétima consecutiva e representa no acumulado de 2020 valorização de 11,52% em relação ao real, e de 4,43% para o mês de fevereiro.
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Na tentativa de conter a volatilidade e apoiar o real, o Banco Central quitou US$ 1 bilhão em contratos de swap cambial tradicional. Mas a autoridade monetária tem deixado o câmbio operar de maneira flutuante. Rafaela Vitória, economista-chefe do Banco Inter, reforça: “Temos visto pouca interferência do Banco Central, estão agindo mais para dar liquidez. Essa flutuação da moeda pode ajudar a ajustar a balança, uma vez que a intervenção e tentativa de controle do câmbio nunca é benéfica a longo prazo”.
Cenário de alta
A volatilidade da principal moeda tem sido acompanhada por especialistas do mercado desde meados de julho do ano passado, em parte pela queda dos juros brasileiros que afugenta os investidores de curto prazo que buscam lucrar com altas taxas e tornam os investimentos de renda fixa menos atrativos.
Somado a isso está a aversão a risco gerada pelos desdobramentos em curso do coronavírus. O alcance da doença gera preocupação com a atividade econômica global, mais especificamente da China, responsável por grandes volumes de importação e onde surgiram os primeiros casos de infectados pelo vírus. Para Mauriciano Cavalcante, diretor de câmbio da Ourominas, “a avaliação não só brasileira, mas de todos os países, mostra que a evolução da doença deve levar a uma retração econômica de 1% a 2%”. “Globalmente, é muita coisa”, explica.
Segundo Rafaela, a instabilidade gera a busca por segurança, neste caso, a moeda de uma economia forte e estável: o dólar. “A moeda norte-americana vem se fortalecendo desde o início do ano em relação às demais, e o real, como moeda de uma economia emergente, sente bastante esse peso. Em um momento de aversão a risco, o dólar é um ponto de segurança para o investidor.”
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Apesar de o coronavírus ser o principal fator da alta dos últimos dias, questões locais também têm influenciado a valorização. “Trazendo para um cenário interno, o baixo crescimento da nossa economia e os debates internos da política fazem com que os investidores não acreditem tanto no Brasil para investimentos sólidos. Vimos desde o ano passado uma retirada de investidores em massa. A bolsa está praticamente operando financeiramente com mercado interno. Quanto mais dinheiro sai, menos oferta temos”, diz Cavalcante, que completa: “Ainda assim, hoje, o principal fator de valorização do dólar é o medo do coronavírus e até onde pode se estender essa epidemia”.
Aos investidores
Eduardo Akira, sócio da Vero Investimentos, aconselha: “O momento agora é de cautela, de esperar as grandes oscilações passarem, principalmente, nos assuntos bolsa e dólar. Qualquer decisão no momento é delicada, tanto para comprar quanto vender. É mais seguro manter as posições e aguardar para garantir uma visibilidade maior do que vai acontecer”.
Previsão
O momento de aversão a risco tende a passar. Para Rafaela, “o cenário-base não mudou [inflação controlada e pouco repasse], e a tendência para médio prazo é da moeda norte-americana estabelecida entre R$ 4,15 e R$ 4,20”. A recuperação cíclica e lenta e a baixa taxa de juros tornam impraticável a negociação do dólar abaixo de R$ 4”. No final de 2019, a previsão dos especialistas para este ano estabelecia a moeda na casa dos R$ 3,70.
A grande dúvida do momento é o repasse para o consumidor. Por mais que a moeda norte-americana esteja em um longo período de alta, a baixa demanda local fez com que as empresas tenham conseguido segurar o ajuste de preços. “Estamos em um patamar de crescimento não acelerado que não exige um repasse de gastos imediato. Mas, no momento que as companhias passarem a operar no prejuízo por conta dos custos de importação, o ajuste inflacionário deve acontecer”, diz Rafaela.
Após o sétimo dia consecutivo de valorização da moeda norte-americana ante o real, veja na galeria de imagens a seguir 3 vantagens e 3 desvantagens do dólar em alta, segundo especialistas:
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Westend61/GettyImages Vantagem: Exportação de manufatura
Apesar da baixa demanda, a apreciação do dólar ante o real torna favorável a exportação de bens de consumo, uma vez que a depreciação da moeda brasileira torna os preços dos produtos mais atrativos externamente.
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Witthaya Prasongsin/GettyImages Vantagem: Mercado interno
Pela baixa demanda de exportação e altos custos de importação, a alta do dólar pode levar o mercado nacional a apostar internamente.
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Emir Terovic/GettyImages Vantagem: Aquecimento do turismo interno
A alta da moeda faz com que turistas brasileiros optem por destinos nacionais. Em um cenário que exclui o coronavírus, o país é um grande atrativo também para turistas internacionais.
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anucha sirivisansuwan/GettyImages Desvantagem: Exportação e importação
Neste momento, a alta do dólar não representa vantagem para a exportação de commodities porque o setor tem sofrido com quedas bruscas e, inclusive, pressionado a apreciação do dólar. O petróleo chegou a sofrer 20% de depreciação desde as primeiras notícias sobre o coronavírus. Da mesma forma que a baixa cotação do real ante o dólar torna favorável a exportação de bens, ela torna desfavorável a importação, o câmbio faz com que o valor dos produtos em reais seja mais salgado.
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Matt Petit/GettyImages Desvantagem: Viagens para o exterior
Destinos na zona do dólar e do euro podem não ficar impraticáveis, mas o poder aquisitivo do turista brasileiro fica menor em viagens para o exterior.
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Westend61/GettyImages Desvantagem: Desenvolvimento industrial e tecnológico
A alta da moeda norte-americana gera corte de custos no desenvolvimento industrial, uma vez que grande parte do maquinário e tecnologia é importado. Em um momento em que o país corre a passos largos para se igualar aos grandes países no quesito inovação, uma desaceleração do investimento em tecnologia industrial pode retardar esse avanço.
Vantagem: Exportação de manufatura
Apesar da baixa demanda, a apreciação do dólar ante o real torna favorável a exportação de bens de consumo, uma vez que a depreciação da moeda brasileira torna os preços dos produtos mais atrativos externamente.
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