Apague a imagem de que uma fazenda deve ser imensa, com plantações a perder de vista, ocupando hectares e mais hectares. Esqueça também o formato convencional de cultivo e uso de pesticidas – que estão em baixa entre os consumidores. Em uma verdadeira revolução e valorização do vegetal – iniciada um pouco antes com a plant based meat (cujo principal “garoto-propaganda” é o hambúrguer vegetal) e continuada com a busca por alimentos cada dia mais saudáveis –, criou-se também a necessidade de sair radicalmente do modo convencional de produção agrícola.
A agricultura vertical (também conhecida como fazenda vertical) é um mercado promissor. Segundo relatório da consultoria americana Grand View Research, publicado em abril, até 2025 o setor irá movimentar US$ 9,6 bilhões, valor que representa crescimento superior a 20% ao ano. Tal modalidade de produção favorece outro fato irreversível sobre o futuro: até 2050, cerca de 80% da população da Terra vai viver em centros urbanos.
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O norte-americano Dickson Despommier, professor emérito de microbiologia e saúde pública da Columbia University, em Nova York, foi o responsável por transmitir ao público (em 1999) o termo “vertical farming” (fazenda vertical). E tanto o termo quanto o conceito começaram a cair no mainstream principalmente a partir de 2011, quando ele lançou o livro “The Vertical Farm: Feeding the World in the 21st Century”.
Para entender a proposta, é necessário entender o ecossistema, a parte crucial para o sucesso da produção, pois tudo é controlado: luz, temperatura e clima são precisamente definidos de acordo com o que está sendo produzido.
A brasileira Pink Farms, localizada em um galpão na Vila Leopoldina, em São Paulo, é especializada em folhosas e microgreens. A empresa foi fundada em 2017 por três sócios: Geraldo Maia e os irmãos Mateus e Rafael Delalibera. Com dois anos de funcionamento, é considerada a maior empresa do setor no país.
A produção mensal é de 2 toneladas por mês (o que representa 100% da capacidade da fazenda atual). Um ótimo negócio para o trio que começou a empresa com investimento próprio de R$ 130 mil e recebeu no último ano aporte de R$ 2 milhões, o que foi determinante para saírem do estágio de fazenda-piloto. “Nossa intenção para daqui a um ano é que esse número chegue a 11 toneladas/mês, já contando com os novos produtos, como rúcula, espinafre e manjericão, que são os próximos que vamos comercializar e que já estão em desenvolvimento”, conta Geraldo Maia. A linha atual é vendida em supermercados e restaurantes.
A inspiração para a construção da Pink Farms veio dos Estados Unidos, onde as fazendas verticais não são novidade e estão em uma competição acirrada por investidores. A pioneira AeroFarms, fundada em 2004 e com sede em Nova Jersey, arrecadou no último mês de julho US$ 100 milhões em rodada de investimentos que foi liderada pela INGKA (marca do grupo Ikea). Já a também americana Plenty recebeu aporte de US$ 200 milhões em 2017 (e contou com Jeff Bezzos e SoftBank entre os investidores).
Para a próxima primavera europeia, Paris terá a maior fazenda urbana do continente. A futura fazenda vertical faz parte do projeto Parisculteurs, da empresa Agripolis, fundada por Pascal Hardy. Serão 14 mil metros quadrados com 30 tipos de planta. A expectativa é produzir 1 tonelada de frutas e vegetais na alta temporada.
Reportagem publicada na edição 73, lançada em dezembro de 2019
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