A moda é uma indústria que muda constantemente, com novas tendências, estilos e coleções oferecidos a cada estação. Para atender a essas demandas, é preciso manter a cadeia de suprimentos trabalhando intensamente a fim de costurar e enviar novas peças a uma velocidade frenética.
Com seu foco no objetivo de fornecer uma coleção em constante mudança, as empresas têm alterado vagarosamente a sua forma de produção.
VEJA MAIS: Moda e sustentabilidade: um encontro inevitável
Por conta disso, o avanço para atender à crescente demanda por moda sustentável e um setor mais ambiental e socialmente responsável também tem ocorrido em um ritmo lento.
Como uma das indústrias mais poluentes do mundo, a moda reconheceu sua responsabilidade e formou a Sustainable Apparel Coalition (Coalizão de Vestuário Sustentável, ou SAC, na sigla em inglês), composta por mais de 250 membros para mudar o setor de vestuário, calçados e têxtil, a fim de que “não produza danos ambientais desnecessários e tenha um impacto positivo nas pessoas e comunidades associadas às suas atividades”.
No entanto, dados os objetivos ambiciosos de criar uma indústria da moda sustentável e o escopo das mudanças necessárias para alcançá-las, o progresso tem sido lento. “As empresas do setor não estão implementando soluções sustentáveis com rapidez suficiente a fim de contrabalançar os impactos ambientais e sociais negativos que crescem rapidamente”, relata o The Global Fashion Agenda (principal fórum de liderança para a colaboração da indústria em sustentabilidade da moda) em seu estudo “Pulse of the Fashion Industry 2019”.
No contexto atual, a pandemia de coronavírus trouxe a sustentabilidade à tona. Como uma ameaça imediata à saúde de todos, a crise demonstra como os seres humanos são frágeis e o bem-estar físico e a felicidade futuros dependem de um ambiente saudável.
Um planeta degradado causa doenças, e a indústria da moda não pode se dar ao luxo de tornar o mundo ainda mais poluído. Muito pelo contrário, ela pode torná-lo mais saudável, movimentando-se mais rapidamente a fim de cumprir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU).
O impulso da moda para a sustentabilidade está suspenso
Entretanto, justamente no atual cenário em que a sustentabilidade é mais necessária do que nunca, o setor fashion foi forçado a pausar sua transformação ecológica, segundo a companhia de consultoria empresarial Boston Consulting Group, o SAC e a empresa de tecnologia Higg Co, no novo estudo “Rebuilding a More Sustainable Fashion Industry After COVID-19” (“Reconstruindo uma indústria da moda mais sustentável após o Covid-19)”.
“As indústrias da moda e do luxo, juntas, são as que mais impactam negativamente entre aquelas de bens de consumo”, diz Sarah Willersdorf, parceira do Boston Consulting Group e chefe global de luxo. “Temos observado queda nas vendas de 30% a 40% globalmente. A maioria das empresas está apenas tentando sobreviver concentrando-se em proteger sua equipe, dinheiro e liquidez”, continua.
Esses efeitos levaram a indústria a um ponto crítico. A pesquisa do BCG constata que 86% dos mais de 500 fabricantes pesquisados foram severamente afetados por pedidos cancelados ou suspensos e 40% estão lutando para pagar funcionários e seus fornecedores.
Como resultado, a sustentabilidade foi posta em segundo plano, mas agora, é necessário acelerá-la. “O foco sustentável será uma aposta para os consumidores quando se trata de marcas, atuais e futuras, e não quero dizer greenwashing (estratégia de marketing enganosa adotada por empresas ao promover discursos e campanhas publicitárias sobre ser ecologicamente correto), mas sustentabilidade real”, explica.
“A melhor consequência que pode surgir desse momento tão doloroso é que nós, como indivíduos, entendamos que nossas ações particulares têm consequências sociais”, acrescenta Willersdorf. “Portanto, embora o vírus não esteja diretamente relacionado à sustentabilidade, ele aumentará o foco nela”.
A sustentabilidade é importante para todos
Visto que o impulso para o futuro sustentável da moda foi principalmente liderado pelo consumidor, Sarah vê isso como uma preocupação crescente também para os funcionários das empresas do setor. “As mesmas pessoas consumidoras, por um lado, são colaboradoras, por outro. Quando executivos, gerentes e funcionários se alinham à sustentabilidade, ela pode ter um impacto positivo de auto-reforço na cultura da empresa. Esse é um aspecto que não é discutido o suficiente “, diz.
Qualquer empresa de moda é tão boa quanto o talento que pode atrair e os bons profissionais do futuro vão querer trabalhar para companhias que priorizam a sustentabilidade e a responsabilidade social.
“Para a próxima onda de funcionários, isso não será negociável. Eles farão escolhas sobre onde trabalhar, assim como os consumidores fazem sobre quais marcas comprar. Hoje, tanto os compradores quanto os funcionários estão procurando empresas criadas especificamente para isso ”, relata.
Vantagem imediata para marcas sustentáveis
Após a crise, é provável que os impactos piorem antes de melhorar. “Os consumidores vão gastar menos no futuro próximo”, adverte Sarah. “E eles serão muito mais seletivos com uma mentalidade de qualidade, valor e sustentabilidade. Ficarão preocupados com a origem da moda; se ela é fabricada eticamente e tão boa quanto possível para o meio ambiente ”, continua.
O tempo que os consumidores passaram em casa causou uma redefinição radical de suas prioridades, que se refletirá no estilo de vida deles daqui para frente. Como resultado, vão procurar marcas em que possam confiar e prestar atenção ao “bem coletivo”, principalmente em categorias de produtos como moda e beleza, consideradas próximas ao corpo.
Sarah sustenta que os vencedores da moda são os que já “incorporaram a sustentabilidade às práticas reais de negócios, pois isso trará vantagens”.
Por outro lado, os perdedores serão marcas que demoraram a perceber a importância das práticas sustentáveis, responsabilidade ambiental e social para seus clientes atuais e futuros. “A economia dessas empresas ficará em desvantagem competitiva se não avançarem nessa direção”, afirma.
Para os iniciantes, a executiva vê a colaboração, da mesma forma que no trabalho da Coalizão de Vestuário Sustentável, como um primeiro passo crítico. “Historicamente, a indústria da moda não tem sido muito colaborativa, mas essa área de sustentabilidade pode ser um campo em que há uma maneira de compartilhar custos e benefícios de forma mais ampla entre vários parceiros. É muito possível que a sobrevivência da indústria dependa disso”, diz.
Não é tarde demais
Para concluir, Sarah enfatiza que a sustentabilidade será essencial para a economia de longo prazo de todas as empresas do setor da moda.
“Isso ocorre em parte por causa de um impacto positivo a longo prazo na cadeia de suprimentos, pois esperamos que haja um aumento no custo de mão de obra e outros recursos”, explica.
O impacto positivo a longo prazo será percebido pela própria experiência de analisar os processos e modelos de negócios existentes e encontrar novas práticas e estratégias inovadoras para suprir fraquezas e resolver problemas. “As práticas comerciais sustentáveis podem descobrir novos fluxos de receita, reduzir riscos e levar a melhores modelos de negócios”, diz Sarah.
Ao enfrentar o desafio da sustentabilidade de forma mais rápida do que o ritmo lento e metódico do passado, as empresas de moda aprimorarão uma habilidade de inovação a qual especialistas afirmam ser uma mentalidade que se pode desenvolver.
Aliás, este é o próprio mindset que toda organização do setor precisa adotar para garantir seu futuro econômico.
Facebook
Twitter
Instagram
YouTube
LinkedIn
Baixe o app da Forbes Brasil na Play Store e na App Store.
Tenha também a Forbes no Google Notícias.