O Brasil pode sofrer anos de atraso na implementação da rede 5G, elevando custos de serviços de telecomunicações ao clientes, se sucumbir à pressão dos Estados Unidos para barrar a Huawei Technologies, disse um executivo da fabricante chinesa.
O governo de Donald Trump vem intensificando os esforços para limitar o papel da Huawei no desenvolvimento da nova geração de rede de alta velocidade no Brasil, com o embaixador Todd Chapman citando disposição dos Estados Unidos em financiar a compra de equipamentos de outros fornecedores no Brasil.
Em junho, o presidente Jair Bolsonaro disse que a implementação do 5G terá que atender questões da soberania nacional, da segurança de informações e dados, além da política externa.
A China era alvo de críticas de Bolsonaro antes de ele assumir uma postura menos abrasiva em relação à segunda maior economia do mundo ao assumir a presidência em 2019, embora siga aliado próximo de Trump.
Restringir a participação da Huawei “só vai exclusivamente atrasar o Brasil, impactando os preços de infraestrutura para operadoras, provedores regionais de internet e os consumidores”, afirmou o diretor de cibersegurança e soluções da Huawei, Marcelo Motta, em entrevista à Reuters.
A companhia chinesa consolidou sua presença no mercado brasileiro nos últimos 22 anos, respondendo por parte significativa dos investimentos das operadoras no país em infraestrutura de telecomunicações.
“Em lugares onde houve restrições para Huawei vimos incrementos de preço em infraestrutura para operadoras de duas a cinco vezes, muitas vezes inviabilizando os negócios”, disse o executivo.
Ele observou que o Brasil já enfrenta o desafio de expandir a infraestrutura de telecomunicações, e substituir o fornecedor exigirá que as operadoras reinvistam em equipamentos, em vez de simplesmente atualizar os existentes.
“Fazer essa mudança é mexer em um vespeiro grande e as operadoras precisariam de mais tempo e mais dinheiro”, disse Motta, reforçando que as acusações dos EUA de que a tecnologia da Huawei é vulnerável a espionagem da China são infundadas.
A maior fabricante de equipamentos de telecomunicações do mundo conduziu com sucesso testes de 5G com as principais operadoras no Brasil –Telefônica Brasil; TIM Participações; Claro, do grupo América Móvil; e Oi– e vem ajudando-as a modernizar a infraestrutura antes do tão aguardado leilão de espectro.
Inicialmente previsto para março passado, o certame foi adiado por conta de preocupações sobre interferência com outros serviços. A expectativa agora é de que ocorra no próximo ano.
“Temos solução preparada para primordialmente por meio de software trazer 5G ao Brasil (em frequências existentes)”, contou o diretor da Huawei. “E assim que o governo trouxer as novas frequências podemos também usar aplicações pequenas de hardware”, acrescentou.
A Huawei, que investiu globalmente cerca de US$ 4 bilhões em 5G entre 2009 e 2019, planeja fabricar localmente a nova tecnologia em uma de suas duas unidades de produção. Atualmente, cerca de 40% dos componentes ofertados no Brasil já são manufaturados em Sorocaba (SP) e em Manaus (AM).
O grupo chinês viu alguns custos operacionais crescerem em meio à pandemia do coronavírus, devido principalmente ao encarecimento do transporte aéreo com menos voos em operação, disse Motta, destacando que a situação ainda não é crítica.
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Ao mesmo tempo, medidas de isolamento social desencadeadas pela pandemia impulsionaram a demanda por produtos e serviços da Huawei, à medida que o tráfego da rede cresceu em média 50% no Brasil, chegando a subir até quatro vezes no pico.
“Obviamente houve mobilização grande nossa e dos parceiros para garantir suporte de forma ininterrupta, incluindo expansão de rede”, explicou. (Com Reuters)
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