No final de julho, a Eastman Kodak anunciou que iria mudar radicalmente sua estratégia de negócios. Depois de mais de um século produzindo câmeras, filmes e outros equipamentos de fotografia, a companhia sediada em Rochester anunciou que se tornará uma empresa farmacêutica, sua nova missão impulsionada por um empréstimo de US$ 765 milhões do governo dos EUA para produzir “materiais iniciais” para medicamentos genéricos, em um esforço para combater a Covid-19.
Inúmeros investidores foram avisados por meio de tuítes e notícias locais que especulavam sobre a nova iniciativa da Kodak. No dia anterior ao anúncio do acordo, foram negociadas mais de 1,6 milhão de ações da Kodak, aproximadamente sete vezes o volume médio diário nos 30 dias de negociação anteriores. As ações da Kodak subiram mais de 1.400% nos dois dias seguintes, fazendo com que seu valor de mercado subisse de US$ 100 milhões para mais de US$ 1,6 bilhão. No entanto, questionamentos estão sendo feitos sobre o motivo pelo qual o CEO, Jim Continenza, recebeu 1,75 milhão de ações pouco antes do anúncio do empréstimo. As opções de Continenza foram avaliadas em quase US$ 4 milhões na semana do anúncio. Essas ações –que a empresa alega serem compras programadas– agora valem cerca de US$ 50 milhões.
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Embora a mudança para a fabricação de produtos farmacêuticos possa parecer incoerente à imagem da Kodak, a empresa já produz produtos químicos para fotografia há décadas. Fundada em 1888 por George Eastman, a Kodak dominou o mercado fotográfico por quase um século –na década de 1970, a companhia controlava 85% do mercado de câmeras e 90% do mercado de filmes dos EUA. E, embora um engenheiro da Kodak tenha inventado a primeira câmera digital, em 1975, a empresa a viu como uma simples novidade, não enxergando seu potencial revolucionário. Cada vez mais menores, as receitas atingiram, em 1996, US$ 16 bilhões.
Em 2012, a Kodak estava falida. A empresa detinha pouco mais de US$ 2 bilhões em receita com ênfase em impressão e imagem. Então, em 2018, a companhia tentou capitalizar ao lançar uma criptomoeda própria para fotógrafos, chamada KodakCoin. O anúncio elevou o preço das ações, mas foi adiado e, silenciosamente, cancelado no mesmo ano. A última ação da Kodak pode mudar o destino da empresa, além de reforçar a cadeia de suprimentos farmacêuticos dos Estados Unidos.
Vai funcionar? Se a história dos negócios servir de indicativo, outras grandes empresas fizeram mudanças em seus modelos e conseguiram alterar o curso da marca. De Samsung e Slack a Taco Bell e Toyota, veja na galeria a seguir outras 18 reinvenções corporativas impressionantes.
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Berkshire Hathaway
Fundada em 1839 por Oliver Chace, a Berkshire Hathaway começou como Valley Falls Company, uma fabricante têxtil em Rhode Island. Em 1962, a renomada empresa aterrissou no radar de Buffett, que tinha 32 anos, uma vez que ele percebeu que o preço das ações subia toda vez que o fabricante fechava uma fábrica. Então, ele comprou ações da Berkshire Hathaway por US$ 7,50 porque “era um estoque estatisticamente barato e negócios terríveis.” Atualmente, as muitas empresas de Berkshire incluem roupas íntimas (Fruit of the Loom), seguros (GEICO), fast food (Dairy Queen) e aviação privada (NetJets). As ações da Berkshire são vendidas por mais de US$ 290 mil e Buffett é o quarto homem mais rico do mundo –no valor estimado de US$ 73 bilhões, apesar de ter doado mais de US$ 37 bilhões nos últimos 14 anos.
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Getty Images Nokia
Em 1865, o engenheiro Fredrik Idestam abriu uma fábrica de papel em Tampere, na Finlândia. No século 20, a empresa havia se expandido para outros setores, incluindo silvicultura, fabricação de borracha e eletricidade. Então, em 1977, a Nokia focou nos eletrônicos, construindo televisões, computadores e, em meados dos anos 1980, celulares. Em 1992, a Nokia havia vendido seus outros negócios para se concentrar exclusivamente nas telecomunicações.
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Reprodução Taco Bell
Em 1948, Glen Bell fundou uma banca de cachorro-quente em San Bernadino, Califórnia, mas prestou atenção na competição do outro lado da rua, um popular restaurante mexicano. Depois de aprender como eles faziam tacos, Bell abriu um novo stand que servia comida com inspiração mexicana e acabou chamando sua nova cadeia de Taco Bell. Em 1970, a empresa se tornou pública, com 325 restaurantes, antes de ser vendida à Pepsi, em 1987. Hoje, a Taco Bell tem mais de 7.000 unidades ao redor do mundo e faz parte da Yum! Brands.
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Reprodução Hasbro
Quando os irmãos Hassenfeld fundaram a empresa em Providence, Rhode Island, em 1923, eles começaram a vender sobras de tecidos antes de expandir para estojos e outros materiais escolares. Em 1940, a empresa havia se tornado essencialmente uma fabricante de brinquedos e teve seu primeiro sucesso na década de 1950, com o Sr. Potato Head. Com receita superior a US$ 4,7 bilhões em 2019, a Hasbro possui outras grandes marcas de brinquedos, que incluem Playskool, Nerf e Milton Bradley. Se tais linhas soam como monopólio, a companhia também possui a marca registrada em jogo de tabuleiro.
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Reprodução Peugeot
A empresa francesa começou como uma companhia de fundição de aço no início do século 19, produzindo serras, moedores de pimenta e de café. Em 1889, Armand Peugeot, neto do fundador da companhia, lançou as primeiras carruagens sem cavalos da empresa e, 40 anos depois, o primeiro carro produzido em massa, o 201, saiu da linha de montagem. Ao longo das décadas, a Peugeot também lançou scooters e carros de corrida, mas sempre se manteve fiel às origens e ainda produz um conjunto de sal e pimenta.
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Reprodução Slack
No home office, o Slack pode ser visto como essencial, mas a marca começou como ferramenta de mensagens em um jogo online para vários jogadores de 2011, chamado Glitch. Dois anos depois, um dos cofundadores do jogo, Stewart Butterfield, lançou o Slack para reivindicar uma parte do lucrativo mercado de mensagens como um “chefe de equipe sempre disponível” para os funcionários de escritório. Em 2015, a empresa se tornou um unicórnio e, quatro anos depois, o Slack se tornou pública. No ano de 2019, a startup, com sede em San Francisco, teve uma receita de US$ 400 milhões.
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Reprodução Nintendo
Fundada em 1889 por Fusajiro Yamauchi, a Nintendo fez sua primeira grande mudança no final da década de 1950, em parceria com a Disney para usar seus personagens em cartas e jogos. Novos negócios foram adicionados para fornecer fluxos extra à receita, como uma empresa de táxi e uma linha de arroz instantâneo. Finalmente, na década de 1980, a Nintendo obteve grande sucesso com videogames e uma linha de produtos que acabou por incluir Nintendo 64, Game Boy, Wii e Switch. Atualmente, a Forbes classifica a Nintendo como a 87ª marca mais valiosa do mundo, no valor estimado de US$ 8,8 bilhões.
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Getty Images American Express
Fundada em Buffalo, Nova York, em 1850, por Henry Wells, William Fargo e John Butterfield, a American Express era originalmente um serviço de entrega de correio com foco na velocidade. Com uma sede localizada no Distrito Financeiro de Manhattan, a American Express desfrutava de um monopólio relativo a remessas privadas e, em 1857, a empresa se expandiu para a área financeira para competir com os correios. Um século depois, a American Express entrou no negócio de cartões de débito iniciado pelo Diner’s Club, em 1950, e começou a emitir seus cartões em 1958. A companhia passou por várias administrações nas décadas seguintes, e a Berkshire Hathaway, de Warren Buffett, atualmente possui cerca de 19% da empresa, que a Forbes estima ter a 28ª marca mais valiosa do mundo.
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Reprodução Play-Doh
A empresa por trás da massinha de modelar Play-Doh foi remodelada na década de 1950. Em 1912, a Kutol, uma companhia de produtos de limpeza de Cincinatti, estreou uma linha para remover a fuligem do carvão do papel de parede. Algumas décadas depois, com um maior número de famílias usando aquecedor nas casas, a necessidade do sabão desapareceu. A empresa mudou sua fórmula e criou um produto parecido com massa de vidraceiro, em 1955, que foi comercializado em escolas de artes para crianças e para artesanato. Originalmente fabricada apenas na cor branca, a marca Play-Doh agora é produzida em mais de 50 tons. Em 1991, a Hasbro adquiriu a empresa (como parte de sua aquisição da Tonka) por cerca de US$ 500 milhões (cerca de US$ 950 milhões atualmente) e, em 1998, a Play-Doh foi incluída no Hall da Fama dos brinquedos nos EUA.
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Getty Images Wrigley
O negócio de sabão também se mostrou lucrativo para William Wrigley, que chegou a Chicago em 1891 com apenas US$ 32. Como forma de promover seu fermento em pó, Wrigley começou a distribuir chicletes a cada compra. Como David McConnell e Avon, ele logo descobriu que o brinde era mais popular que o produto principal e começou a produzir chiclete. O sucesso imediato levou Wrigley a se tornar um proprietário minoritário do Chicago Cubs e, depois, a se tornar o proprietário majoritário e o homônimo do icônico estádio. Em 2008, 76 anos após a morte de Wrigley, outro gigante da confeitaria, Mars, comprou a empresa por US$ 23 bilhões.
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Getty Images Colgate
Quando William Colgate deixou a Inglaterra em 1804 para ganhar dinheiro nos EUA, ele planejou abrir uma pequena empresa de sabão. Dois anos depois, a Colgate lançou seu próprio negócio de sabão e velas, antes de iniciar uma fábrica de amido. Em 1873, 16 anos após a morte de seu pai, Samuel Colgate introduziu o produto pelo qual a marca é mais conhecida hoje: pasta de dente. Em 1928, a Colgate foi adquirida pela Palmolive-Peet para formar o que hoje é a Colgate-Palmolive. Embora a empresa não tenha se tornado a principal fabricante de sabonetes, sua pasta de dentes é um bestseller global.
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Reprodução HP
Os nerds Bill Hewlett e David Packard lançaram uma moeda em 1939 para determinar qual nome viria primeiro na empresa de tecnologia que tinham acabado de criar (como se pode adivinhar, Hewlett venceu). Naquela época, a Hewlett-Packard era especializada em osciloscópios, dispositivos de teste elétrico para geradores de áudio e sinal. Em 1968, a dupla do Vale do Silício produziu o HP 9100A, uma calculadora científica de mesa, atualmente vista como precursora do computador pessoal. A máquina desajeitada era cara e custava US$ 5 mil (ou cerca de US$ 37 mil atualmente). Os primeiros computadores convencionais vieram quase uma década depois, com o Apple II, em 1977, e o IBM PC, em 1981. Hoje, a HP ainda produz laptops, desktops, impressoras e outros equipamentos de computador.
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Reprodução Toyota
Em 1926, Sakichi Toyoda fundou uma empresa de mesmo nome para construir teares automáticos. No final da década, Toyoda vendeu a patente de sua invenção e usou o capital (e sua linha de montagem) para produzir uma nova linha de automóveis. Até o nome mudou –em 1937, o filho de Toyoda, Kiichiro, mudou o “d” no nome de família para “t” e fundou a Toyota Motor Company. Atualmente, a Toyota, que registrou receita de US$ 290 bilhões em 2019, é a maior fabricante de automóveis do Japão e foi a montadora mais valiosa do mundo até 2020, quando a Tesla assumiu o lugar.
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Reprodução 3M
A 3M está atualmente nas manchetes por conta das máscaras N95, mas a companhia começou em 1902 como uma pequena empresa de mineração no norte de Minnesota. Originalmente, os três M’s representavam “Minnesota Mining and Manufacturing”. No entanto, a mina acabou tendo pouco valor, então a empresa passou a vender lixas e fitas adesivas de celofane sob a marca Scotch. Isso foi apenas o começo. Entre os outros produtos que a 3M produziu ao longo dos anos, estão inaladores de asma, rolos adesivos, tampões para os ouvidos, diversos produtos farmacêuticos e blocos de nota chamados Post-it. O sucesso foi inevitável. Hoje, a 3M produz cerca de 55 mil produtos e faturou mais de US$ 32 bilhões em 2019.
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Reprodução Avon
Quando a Avon surgiu em 1886, não vendia cosméticos. O fundador, David McConnell, era um vendedor itinerante de livros e passou a doar fragrâncias e outros produtos de beleza como brinde depois de fazer uma venda. No entanto, os clientes preferiam os presentes. Então, McConnell não apenas passou a vender cosméticos de porta em porta, mas também recrutava clientes para serem representantes. O marketing diverso valeu a pena. Em 2019, a Natura adquiriu a Avon em um acordo de ações no valor de US$ 2 bilhões.
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Getty Images Instagram
Quando Kevin Systrom inventou o Instagram em 2010, sua visão não era exatamente o que a marca se tornou. Com o nome original de Burbn –em homenagem ao seu destilado favorito– a empresa foi criada como um aplicativo de check-in, mas Systrom (que esteve na lista inaugural Under 30) logo percebeu que outras startups já estavam ocupando esse espaço. Depois de receber US$ 500 mil em um financiamento inicial de Andreesen Horowitz e outros capitalistas de risco, Systrom (e o cofundador Mike Krieger) decidiu se concentrar no compartilhamento de fotos. Dois meses após o lançamento, em outubro de 2010, o Instagram tinha mais de um milhão de usuários. Atualmente, esse número está perto de um bilhão, que também representa o valor pago em dólares pelo Facebook para adquirir a empresa, em abril de 2012.
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Getty Images Marriott
O que é agora uma empresa global de hospitalidade, com cerca de 7.300 propriedades em mais de 130 países e US$ 20 bilhões em receita em 2019, começou em 1927, com um investimento de US$ 6.000 (cerca de US$ 89 mil atualmente) como um pequeno quiosque de root beer, em Washington, DC. Fundado por J. Willard Marriott e um sócio, a cadeia de restaurantes Hot Shoppes foi à público em 1953 e, quatro anos depois, a companhia abriu seu primeiro hotel em Arlington, Virgínia. Atualmente, a Marriott International possui dezenas de submarcas valiosas, incluindo Ritz-Carlton, St. Regis e W. Hotels.
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Getty Images Samsung
Em 1938, quando Lee Byung-Chull fundou a Samsung em Daegu, seus negócios estavam distantes de smartphones e outros produtos eletrônicos e se concentravam em venda de mantimentos, principalmente peixe seco e macarrão. Após a Guerra da Coreia, a Samsung se expandiu para a indústria têxtil e, no final dos anos 1960, passou a se dedicar à eletrônica. Hoje, a Samsung Electronics (cuja receita em 2019 foi de US$ 193 bilhões) controla mais de 20% da categoria de smartphones e é a 8ª marca mais valiosa do mundo. O presidente da Samsung, Lee Kun-hee (o terceiro filho de seu fundador), também é a pessoa mais rica da Coreia do Sul, com uma fortuna estimada em US$ 19 bilhões.
Berkshire Hathaway
Fundada em 1839 por Oliver Chace, a Berkshire Hathaway começou como Valley Falls Company, uma fabricante têxtil em Rhode Island. Em 1962, a renomada empresa aterrissou no radar de Buffett, que tinha 32 anos, uma vez que ele percebeu que o preço das ações subia toda vez que o fabricante fechava uma fábrica. Então, ele comprou ações da Berkshire Hathaway por US$ 7,50 porque “era um estoque estatisticamente barato e negócios terríveis.” Atualmente, as muitas empresas de Berkshire incluem roupas íntimas (Fruit of the Loom), seguros (GEICO), fast food (Dairy Queen) e aviação privada (NetJets). As ações da Berkshire são vendidas por mais de US$ 290 mil e Buffett é o quarto homem mais rico do mundo –no valor estimado de US$ 73 bilhões, apesar de ter doado mais de US$ 37 bilhões nos últimos 14 anos.
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