Em uma esquina do pequeno bairro da Aclimação, em São Paulo, nasceu a La Traviatta. Não se sabe ao certo em que ano os primeiros donos chegaram mas, em 2001, o jovem estudante de administração Gabriel Concon, então com 19 anos, decidiu fazer do estreito espaço o pontapé inicial para seu início de carreira. Mesmo com a mudança de proprietários, o nome original continuou. Seja pela sonoridade ou pelo significado, La Traviatta –uma ópera italiana baseada no romance “A Dama das Camélias”, de Alexandre Dumas– parecia o nome perfeito para sua primeira pizzaria de bairro.
“Eu gostava muito desse nome”, conta Concon, relembrando o início do que se tornou uma das maiores franquias de pizza do Brasil, a Pizza Prime, com 50 unidades espalhadas pelo país e um faturamento de R$ 48 milhões em 2019. “Quando eu comecei a expandir, em 2010, tentei registrar como La Traviatta, mas já tinha um restaurante em Belém do Pará com esse nome, então tive de criar outro”. O empresário guarda o primeiro nome com carinho, mas também revela que ser obrigado a rebatizar foi um acaso positivo do destino. “É um nome que remete a redes internacionais e pode ser levado para todo canto do mundo.”
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Com planos efetivos de expandir a rede para além das fronteiras nacionais –é possível que Portugal receba seu primeiro estabelecimento Pizza Prime em 2021–, Concon volta no tempo e conta que nem sempre o clima foi de tanta ambição e conquistas. Do interior de São Paulo, mais especificamente da cidade de Oswaldo Cruz, o empreendedor sempre teve uma relação de proximidade com a arte de ganhar o próprio dinheiro. Fazia serviços pela cidade e tentava ajudar no trabalho de seu pai e avô, tudo em busca de um “troquinho a mais”.
Quando pisou em São Paulo para fazer faculdade, a veia empreendedora pulsou mais forte. “Meu tio trabalhava com distribuição de alimentos e começou a falar muito sobre esse mercado. Até que a ideia de montar uma pizzaria surgiu.” Sem nenhuma experiência no ramo ou veia de pizzaiolo, decidiu que esse era um caminho muito mais atrativo do que fazer estágio na área e, de repente, a partir de uma conversa despretensiosa, Concon se viu montando do zero um negócio próprio.
Em uma empreitada familiar, com apoio de pai, tio e irmão, ele teve ajuda para realizar tarefas de um micronegócio em uma época pouco informatizada. “Fazíamos tudo no começo: compra nos atacadistas, panfletagem, marcação de pedidos por telefone, entrega com o carro pessoal, observação do trabalho na cozinha. Absolutamente tudo”, conta, ressaltando grande apreço pela oportunidade de ter aprendido tanto nesse processo. “Era nossa única forma de empreender: estar dentro e saber de tudo.”
MINDSET DA PIZZA
Foi a partir desse conhecimento geral que uma das bases de seu negócio se fortaleceu: o cuidado com produtos e clientes. “Eu sempre tive a visão de que é preciso ter atenção e carinho. Pizzaria tem milhares, você se destaca no detalhe. Com um atendimento mal feito, o cliente simplesmente vai para pizzaria do outro lado da rua”, explica.
Com esse mindset e trabalho árduo, Concon foi abrindo mais lojas pela capital paulista. “Fomos crescendo, investindo em locais como Vila Mariana, Mooca e Vila Leopoldina. Quando uma loja dava certo, comprávamos outra. Todas com nomes diferentes”. Aos poucos, com os novos estabelecimentos, surgiram mais funcionários e a tão esperada informatização, responsável por grande parte do impulsionamento nacional do empreendimento –em 2010, ele resolveu unificar as casas e o nome Pizza Prime.
“Nosso DNA é no delivery”, explica o empresário. No início dos anos 2000, esse serviço era feito apenas por telefone, gerando uma carga de trabalho muito mais cansativa. Com o avanço de celulares e plataformas digitais, a rede de pizzarias teve a oportunidade de crescer junto à tecnologia. “Pegamos o iFood bem no comecinho e aprendemos muito com a experiência”. Hoje em dia, eles já oferecem um sistema organizado de multicanais, com pedidos por aplicativos convencionais e tecnologia própria –site, app e chatbot no WhatsApp–, com 15% da rede operando apenas com delivery “Esse viés de inovação sempre nos ajudou muito.”
De certa forma, essa coragem para explorar o novo realmente influenciou no sucesso da Pizza Prime. Quando já estava com mercado firme pelas ruas de São Paulo, Concon iniciou conversas com colegas empreendedores de outros estados, visando alavancar sua marca a nível nacional. Como sócio, o primeiro estabelecimento “longe de casa” foi no Rio Grande do Sul, em Nova Hamburgo. “Deu super certo. Assim, eu fui unificando projetos com amigos de outras regiões. A maioria com foco em delivery também.”
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Foi apenas em 2015, com várias lojas já espalhadas pelo país, que o empresário começou a pensar em franquear. “Eu queria fazer com cuidado. Me preparei e só coloquei em prática essa profissionalização em 2019. Continuo com minha participação na maioria das lojas, mas também estamos nessa trajetória de franquias”, diz, numerando 29 próprias e 21 franquias. Para ele, o zelo na tomada de decisão teve raiz na preocupação com a mensagem da marca. “Muitas pessoas têm vontade de empreender, mas você tem que estudar o negócio, ir a fundo, fazer pesquisa de mercado. Não queremos vender apenas uma franquia, queremos vender um negócio”, destaca.
O raciocínio de Concon tem relação com a importância que direciona para cada loja que cresce com o nome de sua marca. “Estamos em São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Pará, Amapá, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná. Cada um desses lugares tem suas próprias características. Então, quando abrimos um novo estabelecimento, temos um ano de avaliação sobre o perfil de consumo local. Eu vou até lá, bato papo com as pessoas, observo a região. É uma pesquisa de campo.” A partir disso, há personalização de cardápios e atendimento, como pizza de camarão com jambu, disponível apenas para a região Norte do país, e a pizza de coração de frango, vendida só nos estados do Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
Com mais de 60 sabores, a rede consegue entregar o que é desejado em cada região. “Por isso, falamos que nosso produto é 100% brasileiro. Nosso mix é: buscamos a excelência do serviço americano e a qualidade dos italianos na adaptação ao produto brasileiro”, filosofa. Até o momento, a premissa tem dado certo. Após o início da pandemia de Covid-19, a rede cresceu cerca de 30%, com a abertura de 12 nova lojas apenas no primeiro trimestre. “De dezembro a junho, triplicamos o faturamento via aplicativo próprio. O delivery como um todo cresceu muito e conquistamos mais pessoas nesse período.”
Com a clientela crescendo, Concon espera fechar o ano com a abertura de mais dez estabelecimentos e um faturamento de R$ 60 a R$ 70 milhões. No entanto, destaca a importância de oferecer o que há de melhor no mercado em todas as lojas que levam o nome de sua marca. Seja no seu primeiro estabelecimento, a antiga La Traviatta da Aclimação, ou nas outras dezenas de lojas que não param de surgir por todo o Brasil.
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