A indumentária é um reflexo das sociedades de cada época e lugar. E, de tempos em tempos, por motivos variados – que vão da praticidade à contestação –, as roupas são ressignificadas. Hoje o motivo da busca por um novo jeito de se vestir não podia ser outro: o coronavírus. A busca incansável por uma “armadura” contra esse inimigo invisível criou a categoria de vestimentas antivirais, capazes de desativar diversos tipos de ameaças – entre elas, o Sars-CoV-2. Elas terão papel importante na retomada da circulação de pessoas pelas cidades, ainda que, segundo os especialistas, não substituam os protocolos atuais.
Empresas ligadas ao mercado da moda – globalmente um dos mais prejudicados pela pandemia – correram contra o relógio para incorporar tecnologia nos tecidos e oferecer alternativas de proteção extra aos clientes. A Vicunha Têxtil, fundada por Jacques Rabinovich, Mendel e Eliezer Steinbruch (e atualmente sob o comando da segunda geração), é líder no setor têxtil no Brasil. Responde por 40% da produção nacional de denim, o tecido que dá origem ao tradicional jeans. Já sua coleção V.Protective, lançada em junho, envolve avançados produtos de tecidos com três tipos de proteção: antiviral e antimicrobiano, repelente e repelente e antimicrobiano. “Sem dúvida, [o tecido com proteção antiviral] é um negócio interessante para o varejo, que não sabia como agir para o consumidor voltar a entrar na loja”, explica German Alejandro Silva, CMO da Vicunha Têxtil.
Por enquanto, as vendas seguem modestas, mas o objetivo é criar uma nova categoria: “É um nicho específico que continuará tendo demanda. Os asiáticos, por exemplo, aprenderam que é bom usar máscaras diariamente, com ou sem pandemia. Acredito que boa parte das pessoas vai adotá-las como algo definitivo”, exemplifica Silva.
A tecnologia incorporada na fabricação do tecido da Vicunha é uma solução criada pela HeiQ, empresa suíça de inovação têxtil. Para desativar o vírus, é utilizada uma mistura de sais de prata e vesícula lipossomal (comumente utilizados em remédios), que, juntos, destroem o capsídeo viral, estrutura responsável por proteger o material genético do vírus. A eficácia, testada pelo Instituto Peter Doherty, com sede em Melbourne, é de 99% na eliminação dos vírus presentes no tecido. A durabilidade da proteção é calculada em 30 lavagens domésticas, sem processos agressivos. Essa segurança tem preço: dependendo da gramatura do tecido, o valor do metro pode dobrar em comparação ao denim convencional.
O Grupo Malwee também lançou uma coleção de camisetas e máscaras com a mesma tecnologia ofertada pela HeiQ. Batizada de Protege, a linha trabalha com valores acessíveis: R$ 49,99 por camiseta, disponíveis nas versões masculina e feminina; R$ 39,90 para as camisetas infantis e R$ 29,90 o kit com duas máscaras. O gerente industrial têxtil da Malwee, Luiz Thiago de Freitas, afirma que “a margem de lucro é pequena para que o maior número de brasileiros tenha acesso a essa tecnologia”. A varejista também afirma que 50% dos lucros das peças Protege serão revertidos para a compra de cestas básicas.
A fashion tech Insider Store, totalmente digital, dos jovens sócios Carolina Matsuse e Yuri Gricheno, de 28 e 29 anos, trabalhava com três produtos até antes da pandemia: undershirts, cuecas e camisetas, todos com tecnologia antibacteriana. Em maio, desenvolveram dois produtos com proteção antiviral (camiseta e máscara), que têm como maior objetivo evitar a transmissão cruzada, ou seja, que o vírus não vá de um objeto ou de uma pessoa para outra. “O novo coronavírus é envelopado. Nosso aditivo quebra a película lipídica e em 15 minutos o desativa”, explica Gricheno. O tecido, fabricado no Brasil, é certificado pela norma global ISO 18184, que confere sua eficácia, e também passou por análise na Universidade Federal de Santa Catarina, que atestou 99,9% de eficiência.
Natural de Jaraguá do Sul (RS), a LIVE!, marca de roupas de ginástica dos sócios Joyce e Gabriel Sens, criou a coleção-cápsula Care Antiviral, com ampla variedade de shapes e modelos. A tecnologia, 100% nacional e produzida pela Dalila Têxtil, tem certificação de 99,9% de eficácia pelo Instituto de Biologia da Unicamp. “Foi tudo muito rápido. Antes da pandemia, já trabalhávamos com íons de prata, um dos componentes do antiviral que tem como principal função prevenir a proliferação de bactérias”, diz Joyce.
Em um processo que durou apenas 22 dias, a LIVE! redirecionou os esforços da fábrica para o desenvolvimento da coleção. Em outubro, a marca lança novas peças com a tecnologia incorporada. Nas vendas de atacado, segundo a empresa, os pedidos superaram quatro vezes a projeção inicial. Além dos clientes baseados no Brasil, as lojas dos EUA (em Miami e Nova York) também se preparam para receber a coleção. “A tecnologia da Dalila em malharia tem a durabilidade de 50 lavagens, pois é aplicada no acabamento. A Rhodia desenvolveu o fio de poliamida [mais utilizado em roupas de treinos] com os íons de prata, que não tem validade e que será incorporado nos próximos lançamentos”, diz Joyce.
Duas grandes varejistas também anunciaram, no começo de setembro, o lançamento de coleções antivirais. A Riachuelo desenvolveu uma linha de calças jeans, camisetas e máscaras para crianças e adultos. O material das peças foi tratado com a tecnologia da HeiQ, que garante 99,9% de eficácia. A C&A disponibiliza uma coleção-cápsula exclusiva para o público masculino, feita com a brasileira Dalila Têxtil. Inicialmente, foram disponibilizadas camisetas e blusas de manga comprida, em cartela de cores básicas e versáteis (cinza, azul-marinho, vinho e preto e branco). O acabamento promete durabilidade de 50 lavagens.
Reportagem publicada na edição 80, lançada em setembro de 2020
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