Durante anos, o rapper Rick Ross construiu sua fama com letras que que glorificavam um estilo de vida sempre intenso. Além de incontáveis sucessos e de fundar seu próprio selo, o Maybach Music Group, o artista e executivo também é proprietário de 24 franquias da Wingstop, rede norte-americana de restaurantes com temas de aviação especializada em asas de frango.
Sua mais recente cartada, no entanto, reflete um novo capítulo em sua trajetória: o desejo de redescobrir um caminho para o bem-estar. Para isso, o rapper anunciou que está investindo US$ 1 milhão na startup de telemedicina Jetdoc, sediada na Flórida.
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“Sempre fui saudável, atleta”, diz Ross, 44 anos. “Mas o fato de ter me tornado um artista, com viagens cinco vezes por semana, e até 20 horas por dia no estúdio, me prejudicou.” Ross teve uma convulsão em 2011 e outra em 2018 – esta última fez com que ficasse hospitalizado por quase uma semana. “A primeira foi num jato particular. Quarenta e cinco minutos depois, eu estava em outra aeronave, voando novamente”, lembra.
Para o rapper, 2020 foi um ano de transformação em termos de saúde. “Eu mudei minha cabeça, perdi mais de 40 quilos. Ajustei certos hábitos alimentares e de sono”, revela. Portanto, investir na Jetdoc também foi uma forma de se comprometer com seu próprio bem-estar.
Fundada pelo empresário da área de saúde Tommy Duncan em Detroit, no ano passado, a Jetdoc é estruturada como um clube de saúde online que oferece consultas médicas virtuais por US$ 20 ou assinaturas mensais ilimitadas por US$ 10. Os usuários da plataforma também recebem um cartão que oferece até 85% de desconto em medicamentos.
Aos 41 anos, Duncan, que já investiu US$ 5 milhões no negócio, havia fundado anteriormente a Trusted Health Plans, uma plataforma que atende os cidadãos inscritos no Medicaid – programa de saúde social do governo norte-americano para pessoas de baixa renda – em Washington, D.C., que vendeu para a BlueCross BlueShield em janeiro de 2020.
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Rick Ross diz que ser investidor e também um membro beta da Jetdoc é a chave para manter seu novo estilo de vida. “Eu preciso ter um médico sempre ao meu alcance. Se estou me sentindo tonto ou com falta de ar, por exemplo, talvez um simples conselho resolva o problema. Além disso, no caso de pessoas conhecidas, a privacidade é algo importante. Em vez de entrar em um consultório médico e acabar no ‘TMZ’, eu posso simplesmente ser atendido por telefone.”
Tommy Duncan conheceu o rapper por meio de amigos em comum e descobriu que eles eram mais parecidos do que imaginavam. “Tive um derrame quando tinha 30 anos e, apesar de trabalhar na indústria, ainda tinha dificuldade em receber atendimento adequado”, diz o empreendedor. A Jetdoc está disponível, por enquanto, apenas para cidadãos da Flórida, mas em 2021 chegará também para moradores de outros estados, incluindo Geórgia e Washington, D.C..
A startup está operando numa área nova, mas competitiva, que já conta com representantes mais expressivos, como Hims e Ro. Segundo relatado pela própria Forbes, a última conseguiu US$ 200 milhões em financiamento da série C, a maior arrecadação para uma empresa de telemedicina no ano passado, quando 24 operações do tipo foram concluídas, num total de quase US$ 1,5 bilhão, de acordo com a PitchBook. Em 2019, foram apenas 12, totalizando US$ 384 milhões.
RISCOS AMPLIADOS PARA OS NEGROS
Ao contrário da maioria das empresas de telemedicina que se concentra nas mulheres, a Jetdoc visa os homens e foi projetada especificamente para dar às comunidades carentes e aos negros melhor acesso a cuidados urgentes e preventivos. “Como jovem negro, não era habituado a ir ao médico com frequência. Sempre achei que era um grande inconveniente”, diz Ross, pai de quatro filhos.
“Uma em cada cinco pessoas negras dos bairros periféricos acaba tendo diabetes tipo dois – o que significa uma grande chance de precisar fazer hemodiálise, transplante e ter uma vida sem qualidade. Precisamos fazer algo a respeito”, diz Duncan.
De acordo com o Departamento de Saúde dos Estados Unidos, o diabetes é 60% mais comum em afro-americanos. Já os Centros de Controle e Prevenção de Doenças do país apontam que 43% dos adultos negros têm pressão alta em comparação a 29% de brancos. Além disso, os afro-americanos têm 50% mais chances de sofrer um derrame em comparação com os adultos brancos e 60% mais probabilidade de morrer em decorrência dele do que seus pares brancos não hispânicos.
“O jeito de as pessoas mudarem sua trajetória na saúde é conhecendo seus números”, diz Duncan, referindo-se aos níveis de glicose e colesterol no sangue, bem como à pressão arterial e IMC. Ele diz que ter Ross a bordo é a chave para comunicar esta mensagem ao seu mercado-alvo. O artista de hip-hop aparecerá nas campanhas publicitárias da Jetdoc destinadas a educar novas comunidades sobre os benefícios da telemedicina.
“Rick Ross tem sido único, principalmente na comunidade afro-americana, onde não falamos sobre nossos problemas de saúde publicamente. Só lidamos com essas coisas em particular. Eu admiro sua coragem e liderança de falar abertamente sobre seus problemas.” Em seu livro de memórias, “Hurricanes” (sem edição em português), lançado em 2019, Ross narra detalhes íntimos de suas lutas, incluindo o abuso de substâncias e as consequências das convulsões.
Há uma tendência de celebridades fazerem parte de negócios de telemedicina. O nadador Michael Phelps, por exemplo, é o porta-voz do Talkspace, que conecta usuários a terapeutas. E, em julho passado, Jennifer Lopez e Alex Rodriguez fizeram uma parceria com a Hims & Hers, uma startup de telemedicina.
Mas, para Ross, a missão da Jetdoc atinge em cheio um fator emocional, principalmente depois de conhecer tantos outros afro-americanos nas salas de espera dos consultórios médicos. “Muitas das histórias que ouvi me tocaram.” Depois de entender o tamanho da dificuldade dessas pessoas de ter acesso a serviços de saúde acessíveis, ele pensou que deveria fazer algo. “Agradeço a Tommy Duncan por me dar esta oportunidade.”
O analista Craig Settles diz que o modelo da Jetdoc pode beneficiar comunidades de baixa renda, mas as disparidades raciais em saúde, como um problema, são extremamente complexas e multifacetadas. “Existe uma desconfiança geral entre os afro-americanos, eles não confiam no sistema de saúde”, diz. “E existem exemplos que remontam à escravidão, quando recebemos um atendimento de saúde ruim, fomos vítimas de vários tipos de experimentação e assim por diante.”
De acordo com um estudo da Kaiser Family Foundation, 23% dos homens brancos dizem não ter um médico pessoal, em comparação com 31% dos negros, 47% dos hispânicos e 36% dos nativos americanos.
Embora a Jetdoc enfrente empresas de telemedicina muito maiores, Rick Ross diz que essas tendências acabaram estimulando seu investimento. “O que eu fiz como empresário foi mais uma vez abrir minhas asas. E, no meio de uma pandemia, o que pode ser mais importante do que priorizar a saúde?”, pergunta.
Embora os sustos que viveu tenham forçado o rapper a reavaliar sua mentalidade de viver e trabalhar intensamente, Ross acredita que escolhas de estilo de vida mais saudáveis e o alinhamento com iniciativas como a Jetdoc irão, a longo prazo, mantê-lo em forma para sempre.
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