Impulsionada por movimentos como a centralidade do computador pessoal trazida pela pandemia e pela intensificação das demandas por transformação digital no mundo corporativo, a Dell Technologies trabalha na próxima fase de evolução de sua subsidiária brasileira, que completa 23 anos em novembro próximo.
O Brasil é um dos mercados relevantes para a empresa, que se beneficiou da alta em trabalho remoto e postou os melhores resultados de sua história no segundo trimestre de 2021, com uma receita de US$ 26 bilhões, alta de 15% em relação ao mesmo período em 2020. Segundo pesquisa da consultoria IDC, a companhia é líder no mercado brasileiro de PCs, e respondeu por 24,3% das vendas do segmento entre janeiro e março deste ano.
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Com mais de 4mil funcionários trabalhando remotamente em território nacional e na unidade de produção em Hortolândia (SP), o Brasil é o único mercado no mundo em que a Dell mantém uma fábrica e estrutura de vendas exclusivamente dedicadas ao mercado local. A operação sob demanda da empresa compreende uma linha de computadores, monitores e itens como fones e câmeras no segmento premium de mercado – um notebook básico Dell tem um valor de saída de R$2.699 e o Alienware, produto para gamers, foi relançado hoje (30) com um preço de R$12mil – bem como produtos de infraestrutura como servidores e equipamentos de rede e armazenamento.
Segundo o líder da Dell Technologies no Brasil, Diego Puerta – responsável pela criação da operação da companhia no país há mais de duas décadas e que nesta semana completa 1 ano no cargo mais sênior no país – o momento da filial brasileira é de expansão para atender às novas demandas por tecnologia do público consumidor e corporativo:
“Estamos investindo em capacitação e ampliação da nossa estrutura de vendas para apoiar nossos clientes, e na oferta de um portfólio que cobre todo o espectro [de produtos de tecnologia]. Mas não se trata apenas da entrega de computadores”, diz o executivo, em referência à aceleração da transformação digital em empresas.
“Vemos um aumento exponencial no volume de dados gerados por empresas, e nossa missão é ajudar organizações a extrair insights e proteger estes dados. Queremos oferecer a possibilidade de escolha do modelo de consumo dos nossos produtos através do modelo tradicional, por aquisição, ou como serviço”, acrescenta.
Em entrevista à Quem Inova, o líder da Dell no Brasil detalhou a visão da companhia em relação à temas como a evolução do mercado local de PCs, a crise de semicondutores e tendências. Veja a seguir os melhores momentos da conversa:
FORBES: Como você avalia a evolução do mercado de computadores no Brasil, desde o início da operação da Dell por aqui?
DIEGO PUERTA: Quando iniciamos a operação, o mercado brasileiro era em grande parte dominado por equipamentos que não eram de primeira linha. Ao longo do tempo, um entendimento sobre a importância do PC e da qualidade do equipamento foi se difundindo, e o mercado chegou a um pico entre 2013 e 2014, depois caiu, e agora vem ressurgindo.
No momento, vemos a ressignificação do PC. O trabalho não é mais um destino, um local, e sim uma tarefa a ser realizada, não importa onde você esteja. As fronteiras entre o trabalho e a agenda pessoal estão cada vez mais misturadas e o PC tem um papel importante nisso. Neste contexto, as necessidades e expectativas dos usuários sobre a qualidade e o nível de experiência que o equipamento oferece aumentaram. Isso passa pela a qualidade da câmera, da importância de ter um monitor externo, um teclado e mouse [melhores]. O ecossistema como um todo cresceu.
F: Pensando em 2022, quais serão as tendências em como organizações e consumidores finais consomem tecnologia?
DP: Acreditamos que a dinâmica do trabalho de qualquer lugar e da necessidade de acelerar a transformação digital é um processo que se estenderá por alguns anos. Outro ponto latente é a questão de segurança: temos olhado muito para esta frente e para proteção de dados e de toda a infraestrutura dos nossos clientes.
F: Estudos mostram que organizações brasileiras investem pouco em segurança, apesar do aumento em ameaças visto desde a emergência da pandemia. Como a Dell está respondendo a este cenário?
DP: Toda vez que você possibilita que funcionários trabalhem fora do site, usando conexões públicas e equipamentos que não são propriedade da empresa e gerenciados por ela, a superfície para ataques e invasões aumenta, assim como a vulnerabilidade. Então tem que ter orientação. Temos feito um trabalho grande de conscientização, descrevendo os riscos e os impactos para o negócio, debatendo com os clientes porque é importante proteger, quais são as alternativas. Não adianta nada ter toda uma infraestrutura e software de proteção, se o usuário não entender quais são as regras, o que ele pode ou não fazer pra manter o ambiente da empresa protegido. Por isso, estamos investindo muito na contratação de consultores e especialistas de pré-venda, para auxiliar os clientes nessa jornada.
F: Como você avalia a crise atual na cadeia de suprimentos, e como isso tem impactado a empresa?
DP: A Dell produz somente sob demanda, então já temos uma cadeia de suprimentos, fornecedores, e uma estrutura organizacional desenhada para ter uma grande resiliência em supply chain. Temos alianças de longo prazo e compromissos grandes com os principais players, como Microsoft, Intel, fabricantes de memória, painéis, placas-mães.
Com o advento da Covid, o cenário de mercado mudou bastante, mas como tínhamos estes compromissos estabelecidos, rediscutir os termos, aumentar volume e prazos não algo tão difícil de fazer, fizemos valer a nossa força para garantir um mínimo impacto possível em abastecimento. Foi um período extremamente complexo do ponto de vista de gestão, mas não tivemos nenhum grande cliente que rompeu contrato por questão de desabastecimento, ou algo que comprometesse a nossa capacidade de execução.
F: Mas os problemas de desabastecimento estão entre os fatores que contribuem para uma alta nos preços. Como a Dell tem lidado com este tema, e você enxerga um horizonte em que o ticket médio deve baixar?
DP: Uma série de fatores fez com que o ticket médio de todos os produtos aumentasse. O câmbio, sem dúvida alguma, é o principal deles, já que o o mercado de tecnologia ele se abastece de produtos que são commodities com o preço regido globalmente em dólar. O dólar aumentou, a escassez fez com que alguns dos componentes aumentassem de preço e o frete também aumentou, por conta das restrições da pandemia e a priorização do fluxo de vacinas. Então o produto ficou mais caro, sim. Em momento algum optamos por abrir mão da qualidade, do nível de serviço: não íamos fazer uma ação de curto prazo que prejudicasse a experiência do cliente.
Num país como o Brasil, temos uma situação em que a renda média é bastante abaixo de países como Estados Unidos, Reino Unido e Japão e [os preços da] tecnologia aumentaram bastante, por causa da desvalorização cambial. Esse é um componente importante porque acreditamos que investimentos em tecnologia vão acelerar a recuperação da economia e podem, inclusive, reduzir a desigualdade. Mas hoje temos um cenário em que os preços médios aumentaram, por conta da dinâmica do mercado.
Existe ainda um pouco de incerteza sobre o abastecimento de commodities no ano que vem, mas trabalhamos com um cenário em que a inflação de commodities não será como a do começo desse ano e final do ano passado. O mercado vai continuar um pouco desabastecido, mas estamos preparados para atender a demanda que projetamos.
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Angelica Mari é jornalista especializada em inovação e comentarista com duas décadas de atuação em redações nacionais e internacionais. Colabora para publicações incluindo a FORBES (Estados Unidos e Brasil), BBC e outros. Escreve para a Forbes Tech às quintas-feiras
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