Alex Bouaziz, co-fundador e CEO da Deel, está repleto de métricas que seriam invejáveis para quase todos os CEOs de startups. A Deel, que vende software de RH para contratação de funcionários internacionais, começou 2021 com US$ 4 milhões (R$ 20,4 milhões) em receita recorrente anual. Em 1º de janeiro de 2023, esse número atingiu a casa dos US$ 295 milhões (R$ 1,51 bilhão), diz ele. Além disso, a empresa está operando com margens brutas superiores a 85% e tem sido lucrativa, com base nas medições do Ebitda, desde setembro.
A Deel agora está anunciando formalmente seu último aporte com uma avaliação de US$ 12 bilhões (R$ 61,3 bilhões), embora tenha levantado o dinheiro no segundo trimestre de 2022. A modesta rodada, que consistiu em US$ 30 milhões (R$ 153,3 milhões) em novas ações primárias e cerca de US$ 20 milhões (R$ 102 milhões) em ofertas secundárias, dando liquidez a funcionários que detinham ações, foi relatada pela primeira vez pela Axios em maio.
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Bouaziz disse que o investimento foi feito principalmente para incentivos estratégicos, como trazer a Emerson Collective, a organização filantrópica e de investimento de Laurene Powell Jobs, para a tabela de capitalização. “Se conseguirmos que investidores externos validem a avaliação, isso nos ajudará em muitas coisas”, disse Bouaziz. “Ter uma boa avaliação patrimonial nos ajuda a fazer mais e mais aquisições.”
A Deel já usou seu novo valor de mercado para fazer várias aquisições, encabeçadas por uma compra de US$ 83 milhões (R$ 424 milhões) da empresa de folha de pagamento australiana PayGroup. No entanto, Bouaziz disse que provavelmente não teria fechado um acordo se não fosse pelo estabelecimento de laços com Emerson, porque ele não precisava de nenhum valor adicional.
Deel tem mais de US$ 500 milhões (R$ 2,55 bilhões) restantes no banco de aportes anteriores de empresas como Andreessen Horowitz e Spark Capital, disse ele. Ele se recusou a comentar quanto Emerson investiu na nova arrecadação de fundos.
História da Deel
Bouaziz fundou a Deel em 2019 ao lado de Shuo Wang, que atua como diretor de receita da empresa, supervisionando as vendas e a expansão para países ao redor do mundo.
A Deel funciona como o “empregador de registro” de uma empresa, contratando funcionários estrangeiros por meio da Deel Inc. e, assim, assumindo a responsabilidade legal por esses trabalhadores. Em troca, os clientes pagam à Deel US$ 49 (R$ 250) por mês por contratado e centenas por funcionário em tempo integral.
A startup seguiu inicialmente um manual definido pela empresa de software israelense Papaya Global para criar ferramentas de folha de pagamento e RH para empresas contratarem globalmente sem ter que se preocupar com os regulamentos de conformidade em diferentes países.
Bouaziz disse que sua empresa decolou depois que ele optou por construir a infraestrutura para cada país contratar funcionários estrangeiros de seus clientes internamente, em vez de terceirizar essas tarefas. Segundo ele, a parte desafiadora do software de RH é descobrir como operar legalmente em diferentes países. Por exemplo, a empresa passou dois anos em um atoleiro burocrático antes de poder lançar operações em Taiwan e nas Filipinas.
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Bouaziz credita a rápida ascensão da receita de Deel à execução dessa ambição, que seu pai, Philippe – o diretor financeiro da empresa – inicialmente considerou muito assustadora. “Tive que convencê-lo”, diz o empresário. “Ele olhou para a ideia de ter mais de 100 entidades e empregar muitas pessoas em nome de empresas e me disse que eu sou louco”, disse ele.
Em busca dessa visão, os negócios da Deel foram impulsionados pela pandemia de Covid-19, que criou um mercado lucrativo de empresas dispostas a pagar o alto preço da Deel para construir rapidamente uma força de trabalho global remota.
Bouaziz apareceu como destaque na lista 30 Under 30 da Forbes americana para finanças em 2021. Assim, a Deel mais do que quadruplicou sua receita anualizada ao longo de 2022, que começou em US$ 57 milhões (R$ 291 milhões), mesmo com a regressão da economia global. Ela agora emprega mais de 2 mil pessoas e gerencia 120 mil pessoas por meio da Deel Inc.
Agora, Bouaziz se sente pronto para entrar em um segmento mais amplo do mercado de RH, onde uma safra de startups está aumentando à medida que expandem suas ambições de produtos em lances para justificar avaliações elevadas.
Concorrência
Para começar, a empresa de US$ 12 bilhões está enfrentando a Rippling (US$ 11,3 bilhões ou R$ 57,7 bilhões) e a Gusto (US$ 10 bilhões ou R$ 51 bilhões) com um novo software para lidar com a folha de pagamento doméstica e outras demandas simples de RH.
Bouaziz espera que o espaço se consolide com os clientes que optam por pagar a uma empresa por todas as suas necessidades de RH – uma previsão compartilhada por Parker Conrad, da Rippling – e espera que a Deel atraia os clientes oferecendo suas novas ferramentas gratuitamente.
“Se você olhar para um software básico de RH, o que realmente está pagando é uma boa interface do usuário em uma planilha do Excel”, explicou ele. “É puro software, não é supercomplicado.”
Bouaziz não faz rodeios ao comparar Deel aos rivais. “Nós superamos as outras empresas em nosso espaço em fator execução”, diz ele. “Nós fazemos as coisas mais difíceis. Talvez também devêssemos fazer as coisas mais fáceis em vez de deixar que os outros cuidem disso.
Bouaziz tem ambições de tornar a Deel a “Apple do RH”, mas vai enfrentar forte concorrência de outras empresas bem financiadas que, como ele e Conrad, estão expandindo seu conjunto de ofertas.
Os rivais podem incluir provedores de gerenciamento de gastos como Brex (avaliação de US$ 12,3 bilhões ou R$ 62,8 bilhões), Ramp (US$ 8,1 bilhões ou R$ 41,4 bilhões) e TripActions (US$ 9,2 bilhões ou R$ 47 bilhões).
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A Deel pretende dobrar a receita em 2023 e atingir US$ 1 bilhão em dois a quatro anos, disse Bouaziz. Ele acredita que a Emerson Collective pode ajudá-la a atingir esses objetivos.
Várias outras empresas do portfólio da Emerson já estão usando o produto da Deel, e a parceria ajudou a conectar a Deel a organizações não governamentais. “Estávamos realmente interessados na tecnologia que poderia trazer oportunidades de trabalho semelhantes às do Vale do Silício para pessoas que são muito talentosas, mas não podem vir para cá”, disse Sarah Pinto, investidora de risco da Emerson Collective.
Quanto ao alto preço que a Emerson pagou na rodada, Pinto disse que ela está aliviada por a empresa ter crescido tão rápido quanto cresceu. “A empresa sempre foi uma exceção em termos de ritmo de crescimento”, disse ela. “Acreditamos que merecia um prêmio em termos de múltiplo [de avaliação] para explicar isso.”
Ainda assim, o múltiplo da Deel está em torno de 40x sua receita, deixando mais trabalho para se comparar com as fintechs no mercado público, onde a relação preço/vendas média é de 7,3x, de acordo com o índice Global X FinTech ETF.
“Aumentamos todas as nossas rodadas em 100x. Se eu tivesse olhado para nossa receita e crescimento em nossa avaliação, teria ficado assustado”, disse Bouaziz. “Não seria loucura [chegar a] um múltiplo de 10x.”