Confirmando as expectativas do mercado, o Comitê de Política Monetária (Copom) reduziu a taxa referencial Selic em 0,50 ponto percentual, para 13,25% ao ano. No comunicado em que informou a decisão, o Comitê informou que “avalia que a melhora do quadro inflacionário, refletindo em parte os impactos defasados da política monetária, aliada à queda das expectativas de inflação para prazos mais longos, após decisão recente do Conselho Monetário Nacional sobre a meta para a inflação, permitiram acumular a confiança necessária para iniciar um ciclo gradual de flexibilização monetária.”
A decisão confirmou as expectativas do mercado, que vinha prevendo o início de uma queda nos juros desde o fim do primeiro semestre. Na edição mais recente do Relatório Focus, divulgada na segunda-feira (31), a projeção para a Selic no fim de 2023 era de 12%. Se essa for a trajetória correta das taxas, o Banco Central (BC) terá de reduzir os juros em 1,25 ponto percentual nas próximas três reuniões deste ano, agendadas para setembro, novembro e dezembro.
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Mudança de trajetória
Foi a primeira queda dos juros em três anos: a baixa mais recente ocorreu no dia 5 de agosto de 2020. Naquela data, o Copom reduziu a Selic de 2,25% para 2,00% ao ano para conter os impactos da pandemia provocada pelo coronavírus. Os juros voltariam a subir em maio de 2021, em uma alta ininterrupta até setembro de 2022, quando chegaram ao patamar de 13,75%. Segundo o Comunicado, “o Copom avaliou a alternativa de reduzir a taxa básica de juros para 13,50%, mas considerou ser apropriado adotar ritmo de queda de 0,50 ponto percentual nesta reunião em função da melhora do quadro inflacionário.”
Segundo o economista Lucas Lima, analista da VG Research, havia argumentos robustos tanto para redução de 25 quanto para de 50 pontos, mas o corte mais expressivo ganhou popularidade nas últimas semanas. “Quando olhamos para a expectativa do mercado, a probabilidade de uma queda de 50 pontos aumentou atingiu 60%”, disse ele. “Desde a última reunião do Copom, os dados macroeconômicos estão corroborando e dando espaço para o Banco Central brasileiro iniciar o ciclo de flexibilização monetária.”
Segundo Camila Abdelmalack, economista chefe da Veedha Investimentos, o BC “tem um cenário de desinflação jogando a seu favor neste momento”, graças à queda dos preços das commodities no mercado internacional e à apreciação do real em relação ao dólar, que está em cerca de 10% no acumulado do ano. Para ela, o BC “deu um cavalo de pau na política monetária, realizando um corte um pouco mais arrojado”.
Haverá novos cortes relevantes, segundo o texto. “Em se confirmando o cenário esperado, os membros do Comitê, unanimemente, anteveem redução de mesma magnitude nas próximas reuniões e avaliam que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário”, diz o Comunicado. “Nesse ponto, entendemos que o pace se iniciou acima do esperado mas deve se manter nesses níveis por algumas reuniões, com pouco espaço para acelerar no curto prazo”, diz Rodrigo Romero, economista da Levante Ideias de Investimentos.
Primeira redução desde 2020
A baixa representa uma nova mudança na política monetária brasileira, que vem sendo uma das mais imprevisíveis do mundo há vários anos. É interessante rememorar a trajetória recente da Selic. Há exatos quatro anos, no dia 1º de agosto de 2019, os juros começaram a cair. As taxas estavam em 6,50 % ao ano e recuaram meio ponto percentual para estimular a economia.
Esse movimento se acelerou durante o primeiro semestre de 2020 devido à pandemia, e em agosto daquele ano as taxas chegaram ao mínimo de 2 %, onde permaneceram até março de 2021.
O movimento de alta foi sistemático e ininterrupto entre março de 2021 e agosto de 2022, quando a Selic chegou ao patamar atual de 13,75 % ao ano. Agora, coincidentemente em agosto, começou o movimento de distensão da política monetária.
A reação nos investimentos
Abdelmalack, da Veedha, avalia que a decisão “deve repercutir positivamente nos ativos de risco e contribuir para um dia positivo no Ibovespa” na quinta-feira (3). Segundo Romero, da Levante, “os mercados devem reagir bem na quinta-feira (3), com impulso extra vindo do voto favorável do próprio Roberto Campos por um corte de 0,50 ponto percentual, em vez de 0,25 ponto percentual como era amplamente esperado, validando ainda mais a tese de flexibilização nesse momento.” E segundo Raphael Vieira, co-head de Investimentos da Arton Advisors, as curvas de juros devem se ajustar logo na manhã da quinta-feira para se adequarem às novas expectativas para os juros.