Alessandro Rosano, um empresário italiano que mora em Hong Kong, já havia experimentado empreender em outros setores antes. Mas com a HeyDude, marca que fabrica mocassins confortáveis com um visual tão feio que é fofo, ele tirou a sorte grande.
Com investimento mínimo e quase nenhum marketing, a receita da HeyDude disparou, atingindo US$ 581 milhões em 2021, com lucro líquido de US$ 175 milhões. Em dezembro daquele ano, Rosano concordou em vender sua companhia à Crocs, a empresa de US$ 6,2 bilhões em valor de mercado, cujos próprios sapatos de borracha são um fenômeno mundial, por US$ 2,5 mil milhões em dinheiro e ações.
As dez maiores varejistas do Brasil
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Gabriela Melo/Reuters 1- Grupo Carrefour Brasil (CRFB3)
Segmento: Super, Hiper, Atacarejo e Conveniência
Faturamento em 2022: R$ 108 bilhões -
Paulo Whitaker/Reuters 2- Assaí (ASAI3)
Segmento: Super, Hiper, Atacarejo e Conveniência
Faturamento: R$ 59,7 bilhões -
Divulgação/Magazine Luiza 3- Magazine Luiza (MGLU3)
Segmento: Lojas de Departamento, Artigos do Lar e Mercadorias em Geral
Faturamento: R$ 44,7 bilhões -
Divulgação/Casas Bahia 4- Via (VIIA3)
Segmento: Eletromóveis
Faturamento: R$ 39 bilhões -
Anúncio publicitário -
Reprodução 5- Americanas (AMER3)
Segmento: Lojas de Departamento, Artigos do Lar e Mercadorias em Geral
Faturamento: R$ 34,4 bilhões
*Rombo contábil foi divulgado em janeiro de 2023. -
RaiaDrogasil/ Reprodução 6- RaiaDrogasil (RADL3)
Segmento: Drogaria e Perfumaria
Faturamento: R$ 30,9 bilhões -
Divulgação 7- Grupo Boticário
Segmento: Drogaria e Perfumaria
Faturamento: R$ 23,6 bilhões -
Divulgação/Natura 8- Natura&CO (NTCO3)
Segmento: Drogaria e Perfumaria
Faturamento: R$ 20,7 bilhões -
Divulgação/Grupo Mateus 9- Grupo Mateus (GMAT3)
Segmento: Super, Hiper, Atacarejo e Conveniência
Faturamento: R$ 20,4 bilhões -
Divulgação/Pão de Açúcar 10- Grupo Pão de Açúcar (PCAR3)
Segmento: Super, Hiper, Atacarejo e Conveniência
Faturamento: R$ 18,4 bilhões
1- Grupo Carrefour Brasil (CRFB3)
Segmento: Super, Hiper, Atacarejo e Conveniência
Faturamento em 2022: R$ 108 bilhões
Com esse acordo, Rosano tornou-se bilionário, valendo US$ 1,4 bilhão pelas estimativas da Forbes. Sua sócia de negócios e distribuidora americana, Daniele Guidi, também fez fortuna avaliada em cerca de US$ 650 milhões após impostos, depois de obter US$ 787 milhões em dinheiro com o negócio, de acordo com registros regulatórios da Securities and Exchange Commission (SEC).
O que os dois conseguiram construir é um sucesso improvável. Isso contrasta fortemente com muitas das marcas que receberam grandes quantias de financiamento e atenção das redes sociais durante os anos de expansão, mas não conseguiram se tornar negócios viáveis.
A fabricante de calçados confortáveis Allbirds, que já foi a queridinha do Vale do Silício, por exemplo, viu seu valor de mercado cair de um pico de mais de US$ 4 bilhões após sua oferta pública inicial de 2021 para apenas US$ 199 milhões hoje, já que as vendas anuais não ultrapassam US$ 300 milhões.
Rosano, agora consultor estratégico da marca Crocs após a aquisição, criou um family office para investir seu dinheiro e trabalhar na filantropia. A Crocs está usando a marca, que atingiu US$ 1,1 bilhão em vendas no último período de 12 meses, para adicionar tempero ao seu negócio mais amplo.
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O momento é propício, já que os sapatos confortáveis estão em alta. A Crocs, com vendas totais de US$ 3,6 bilhões em 2022, disse que espera atingir US$ 5 bilhões em receita até 2026. Ao mesmo tempo, a HeyDude parece preparada para ajudar a empresa a superar isso. Em 2022, ela foi a marca de crescimento mais rápido do varejo, de acordo com a empresa de pesquisa de consumo Circana (anteriormente NPD).
“Quando o compramos, queríamos deixar claro para as pessoas que se tratava de um negócio em grande escala”, disse o CEO da Crocs, Andrew Rees, à Forbes. “Eles não tinham ouvido falar da marca e não sabiam o que era. Estabelecemos a meta de US$ 1 bilhão, que sabíamos que poderíamos ultrapassar, e chegamos a isso facilmente.”
Trajetória
Rosano, que está na casa dos 50 anos, já era o cara dos sapatos muito antes de criar o HeyDude. Ele cresceu na Toscana e estudou no Commercio Estero, Pistoia, de 1982 a 1987, embora nunca tenha obtido um diploma universitário, segundo seu perfil no LinkedIn. Pistoia, uma cidade italiana medieval popular entre os turistas, fica a menos de 48 quilômetros de Florença, sede da Ferragamo e da Gucci, numa região conhecida pelos seus produtos e calçados de luxo.
Ele começou a desenhar sapatos aos 18 anos e já havia tentado outros negócios antes da HeyDude, como uma distribuidora de calçados chamada Fratelli Diversi. No seu perfil no LinkedIn, onde tem apenas 164 conexões, descreve a sua abordagem a essa empresa como “agir de forma justa e razoável, para com as pessoas e o meio ambiente. Atos de caridade também são um dever.”
Rosano foi cofundador de uma empresa com Guidi e um terceiro para fabricar relógios de madeira chamada WeWood. Com a dificuldade do negócio, a empresa foi alvo de um litígio de concorrência desleal em 2011 por parte de um relojoeiro extinto chamado Vestal International. Rosano também teve a ideia de produzir tamancos de madeira com molas no salto que eram vendidos com o nome de Baldo. Nenhum de seus primeiros negócios obteve sucesso notável.
Ele trabalhava nesses vários negócios há mais de 20 anos quando fundou a HeyDude em 2008. Em uma entrevista de 2020 para a revista Fotoshoe, uma publicação italiana do setor, a irmã de Rosano, Elena De Martini, que era então CEO da Fratelli Diversi, descreveu como Rosano voltou de uma viagem à China e percebeu que não existia um sapato moderno e tão confortável quanto um chinelo — e decidiu criar um.
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Os calçados que Rosano desenvolveu, começando pelo Wally masculino, eram leves, com cadarços elásticos que não exigiam fecho e acessíveis, custando cerca de US$ 60 o par. “O resultado é um calçado de construção perfeita, inovador, ultra leve e casual, mas com estilo”, disse De Martini à Fotoshoe. Os calçados foram desenhados na Itália, mas o negócio estava sediado em Hong Kong, onde Rosano mora, com produção em fábricas terceirizadas na China.
Rosano “é um estudante”, diz Rees, CEO da Crocs. “Ele é um empreendedor em série. Ele teve vários negócios antes disso que não tiveram sucesso. Ele estava procurando aumentar suas chances de sucesso e admirava o foco [da Crocs] na simplicidade e no conforto.”
Ao chegar aos Estados Unidos em 2018, as vendas do HeyDude dispararam de US$ 20 milhões para US$ 191 milhões em 2020, de acordo com dados financeiros que a Crocs compartilhou com investidores na conferência ICR de 2022. Durante a pandemia, enquanto os consumidores ficavam em casa usando calças de yoga e sapatos confortáveis, a marca se encaixava perfeitamente.
Seu sucesso veio apesar de não ter nenhum marketing digno de nota além da pesquisa paga e uma equipe de vendas baseada em comissões. “Foi construído com pouco dinheiro”, diz Rees da Crocs.
A marca decolou de boca em boca. “Em muitos sentidos, é uma história bastante notável”, diz Rees. “Se você expusesse o manual que eles seguiram e o apresentasse a um conjunto de executivos de negócios, eles diriam que não há como isso ter sucesso.”