A proposta de aumento de capital do Magazine Luíza (MGLU3), anunciado na noite do domingo (28), não conseguiu entusiasmar os investidores. No pregão desta segunda-feira (29), o primeiro após o anúncio, as ações fecharam com uma leve queda de 0,48% a R$ 2,07, menor cotação do dia. Durante o pregão as cotações chegaram a R$ 2,28, alta de 9,6%.
No acumulado do ano as ações subiram 0,98%, um desempenho melhor do que a queda de 3,2% do Ibovespa (IBOV). Porém, em 12 meses a perda acumulada das ações da empresa controlada pela família Trajano é de 52,5%, ante uma valorização de 14,4% no Ibovespa.
O aumento de capital foi aprovado pelo Conselho de Administração na sexta-feira (26) e anunciado no domingo. Ele prevê a emissão de 641 milhões de ações ordinárias por R$ 1,95 cada, um desconto de 5% ante o fechamento da sexta-feira. Haverá direito de preferência para os acionistas atuais, com o prazo de exercício se estendendo do dia 1º de fevereiro de 2024 até 1º de março de 2024.
Menos dívidas
A capitalização representa uma injeção de recursos de R$ 1,25 bilhão, sendo R$ 1 bilhão em recursos da família e R$ 250 milhões por meio de um empréstimo do banco BTG Pactual (BPAC11) aos controladores, crédito esse que será garantido pela ações do próprio Magalu. Os recursos serão destinados à otimização da estrutura de capital e à aceleração dos investimentos em tecnologia em todas as áreas de atuação.
O percentual de diluição societária potencial para os acionistas que não subscreverem nenhuma ação será de, no máximo, 8,67% incluindo as ações em tesouraria, segundo Ricardo Afonso, analista técnico da Levante Ideias de Investimentos.
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Ainda segundo cálculos de Afonso, se ocorrer como o esperado, a capitalização vai reduzir bastante a alavancagem do Magalu. No terceiro trimestre de 2024, dado mais recente disponível, a empresa tinha R$ 8 bilhões em caixa, suficiente para quitar a divida total, que é de R$ 7,4 bilhões. No entando, diz Afonso, “como o quarto trimestre é o período mais robusto para o varejo, o Magalu deve ter encerrado 2023 com R$ 10 bilhões em caixa.”
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A situação financeira é confortável. Os vencimentos para 2024 somam R$ 3 bilhões. Desse total, R$ 850 milhões foram pagos no início de janeiro e os R$ 2,15 bilhões vencem em abril. “Depois disso, a próxima grande obrigação financeira será no fim de 2025”, diz Afonso.
Sem entusiasmo
O aumento de capital, com o aporte da família Trajano, deverá diminuir o ruído na ação do Magalu, e derrubar a relação despesa financeira/receita financeira. O consenso do mercado antes do anúncio da capitalização era de que essa métrica caísse de 5,5% no fim de 2023 para 4% devido à queda esperada dos juros. Com o aumento de capital a relação pode cair para 3,5%. Mesmo assim, o mercado não se entusiasmou. Por quê?
Alexandre Silvério, CEO da gestora Tenax, afirma que Magalu é um caso de sucesso no varejo. Porém, o setor enfrenta um cenário estruturalmente desafiador. “A margem de lucro é muito pequena, e um erro pontual na escolha do estoque ou no estabelecimento dos preços pode custar os lucros do trimestre”, diz ele. Silvério avalia que o Magalu é uma empresa bem gerida e com um caixa sólido. Para ele, há papéis muito mais arriscados no setor. Porém, apesar de afirmar que “Magalu está melhor nesta segunda-feira do que estava no domingo, o gestor avalia que “a posição competitiva no e-commerce segue desafiadora”. As barreiras de entrada são baixas e isso reduzi a capacidade de o varejo fixar preços.
Risco sistêmico
Segundo Louise Barsi, sócia da Ações Garantem Futuro, o setor é arriscado. “O resultado do varejo depende de variáveis como taxa de juros, inflação, nível de atividade econômica e desemprego, variáveis que são pouco previsíveis e nada controláveis pelo investidor”, diz ela.
Segundo Barsi, o investidor de longo prazo deve buscar ações de empresas que mostrem perenidade, resiliência às flutuações da economia e um histórico de bom pagamento de dividendos. “O varejo não tem nenhuma dessas características”, diz ela. Para tornar o cenário ainda mais difícil, as margens de lucro do setor são estreitas, o que não permite prever o pagamento de proventos que protejam o fluxo de caixa e garantam uma renda.
Os analistas da Ativa Investimentos consideram o aumento de capital “marginalmente positivo”, pois pode facilitar o acesso ao crédito em um cenário de redução de juros. “No entanto” escreveram eles, “precisamos seguir acompanhando os ganhos de rentabilidade da companhia em busca de melhorias operacionais que contribuam para a geração de caixa e redução da alavancagem”. A Ativa reitera uma recomendação Neutra para a ação, sem compra nem venda.