Em 2011, Mark e Britnee Johnston fizeram sua primeira grande viagem: atravessaram metade do planeta até o Vietnã.O casal juntou seus dias de férias de um ano inteiro para poder viajar, o que, nos Estados Unidos, significa apenas duas semanas. Enquanto se apressavam para ir de Hanói à Cidade de Ho Chi Minh (antiga Saigon), conheceram viajantes que estavam iniciando suas aventuras e planejavam passar meses, ou até anos, atravessando o mundo. De repente, começaram a sentir que duas semanas já não eram suficientes, principalmente quando perceberam que teriam que esperar um ano inteiro para poder viajar de novo. “Quando voltamos para casa estávamos, de certa forma, insatisfeitos,querendo mais,” diz Mark.
Não demorou muito para Britnee ter uma ideia ousada: por que não largar tudo e conhecer o mundo? Na época, o casal vivia em Utah, onde ela trabalhava como diretora de comunicação em uma ONG e Mark era fotógrafo de um jornal local. Eles ainda tinham certa liberdade: não tinham filhos ou casa própria. Estavam, também, procurando por alguma mudança.“Eu sempre fui dedicada à carreira e estava trabalhando muito”, diz Britnee, 27 anos, que conta nunca ter conseguido estudar fora enquanto estava na faculdade. “Eu comecei a sentir que estava perdendo alguma coisa”. Mark, 35 anos, percebeu que estava em uma posição sem perspectiva de promoção ou de aumento de salário. Munido de um diploma em comunicação, começou a traçar uma transição do jornalismo para relações públicas e, portanto, teria que se demitir de qualquer jeito.
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Além disso, ele estava em momento em que avaliava se valia a pena gastar seu dinheiro para dar entrada em uma casa própria ou se seria melhor economizar para sua aposentadoria. Questionava, também, se era muito velho e tinha deixado algumas oportunidades escaparem e se devia focar em crescer na carreira e criar raízes. Mark estava arrependido de ter passado sua juventude pulando de uma coisa para outra, entrado na faculdade logo após ter servido ao corpo de fuzileiros navais dos Estados Unidos e, logo após a formatura, ter partido para um trabalho em tempo integral.
Enquanto lutava com essas questões, Mark leu o livro The New American Road Trip Mixtape, que contava a história de Brendan Leonard, de 32 anos, que foi para estrada em busca de um sentido na vida após um rompimento amoroso. Uma frase chamou sua atenção: “A hora para fazer uma viagem pela Europa era agora, após ter cometido alguns erros, ganhado algumas cicatrizes, alguns ferimentos de guerra da vida. A viagem serviria para pensar sobre isso tudo”.
Decidido que era melhor tarde do que nunca, e que sua idade ainda lhe permitia mais viagens, Mark estava pronto para partir. Devagar, o casal começou a quitar as dívidas restantes e a guardar dinheiro. O objetivo deles era economizar uma quantia suficiente para largar seus empregos e viajar ao redor do mundo por um ano. “Nós conhecíamos pessoas que falavam sobre grandes coisas, mas nunca as realizavam. Nós não queríamos que isso acontecesse com a gente, então mantivemos em segredo”, conta Mark.
Primeiro, eles enfrentaram as dívidas feitas com seus cartões de crédito e as parcelas do financiamento do carro usando os poucos milhares de dólares de suas contas bancárias, abertas quando eles se casaram, em 2012. Isso os deixou com um saldo perto de zero. Nenhum dos diplomas de 2009 da Utah Valley University tinha financiamento estudantil, já que Britnee recebeu uma bolsa de estudo e Mark, integrante dos fuzileiros navais, teve seus estudos pagos pelo G.I. Bill, uma entidade de assistência aos estudos dos veteranos.
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Em seguida, o casal concentrou esforços em economizar dinheiro. Calculou que precisaria de cerca de U$ 40.000 para uma viagem de um ano. Para chegar a essa quantia, Britnee leu vários blogs de viagem que apresentavam orçamentos detalhados. Também estimou um preço para cada grande despesa, como o custo das passagens de avião, das diárias dos hotéis nas datas em que eles pretendiam estar nos locais e dos vistos para entrar em cada país (a Rússia se destaca, com vistos que custam até U$ 410). Eles estimaram o custo para se alimentar em lugares como a França ou a Mongólia e para visitar as atrações turísticas mais caras.
“Talvez eu tenha exagerado no planejamento”, admite Britnee, que assumiu a tarefa. “Ela é um pouco obsessiva”, completa Mark, cujo envolvimento consistiu em sentar para ouvir o que ela havia planejado e concordar. Diferente de vários casais, eles optaram por começar a gerir seu dinheiro separados, como preparação para a viagem. Cada um dos dois deveria atingir o objetivo de poupar U$ 20.000, guardando cerca de U$ 1.000 por mês ao longo de quase dois anos. “Cada um de nós era pessoalmente responsável por atingir esse objetivo, e um não queria de decepcionar o outro”, diz Mark, descrevendo um sistema de economias que acabou se tornando competitivo e cooperativo.
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A ideia: a mesma prestação de contas com menos reclamações. Juntos, os dois tinham uma renda de cerca de US$80.000. Decidiram poupar metade disso imediatamente, para não serem tentados a gastar o dinheiro. Todo mês, eles iriam dividir o aluguel de US$ 1.000, as compras e outras contas. Além disso, eles se esforçaram para manter as despesas baixas. Por dois anos, ficaram em casa com mais frequência, evitaram trocar de celular e comeram muitos sanduíches de atum. Mark começou a diminuir suas visitas frequentes à REI, sua loja favorita, e Britnee parou de querer viajar com frequência e concentrou suas energias em fazer planos e contar os dias.
O período não foi só de sacrifícios. O casal, que ama atividades ao ar livre, aproveitou para fazer escaladas, caminhadas e praticar mountain biking a uma distância de 10 a 15 minutos de sua casa. Eles também tomaram a decisão de manter sua assinatura do Netflix e suas inscrições na academia de ginástica, pois achavam que seria importante continuar se exercitando e que assistir a filmes seria um substituto bom e barato para as saídas noturnas. “Nós percebemos que não precisávamos ser radicais”, diz Mark. “No início, ficamos intimidados com a ideia de cortar gastos e viver de forma econômica, mas não foi tão ruim quanto imaginávamos.”
Além de vigiar as despesas, os dois pegaram alguns trabalhos como freelancers: Mark fazia ensaios fotográficos e Britnee dedicava duas ou três horas por noite, depois do trabalho, à produção de conteúdo e gerenciamento de mídias sociais para alguns clientes.
Isso os ajudou não apenas a juntar dinheiro suficiente para fazer a viagem, mas também permitiu que continuassem a guardar um pouco para suas aposentadorias e a pagar planos de saúde. Eles também queriam criar um fundo de cerca de US$ 10.000 para quando voltassem para casa.
“Ao longo dos dois anos que passamos economizando, percebemos como isso era simples”, diz Britnee. “Quando chegássemos em casa, poderíamos começar tudo de novo.”
O casal planejou, originalmente, partir em agosto de 2014, quando terminaria seu contrato de aluguel. Porém, devido a problemas com vistos, eles tiveram que adiantar sua partida para maio. Infelizmente, isso significou uma despesa extra de US$ 2.000 de multa por sair do apartamento antes do fim do contrato. Eles encontraram uma solução: pagar a taxa, sair do apartamento antes e recuperar os US$ 2.000 morando na casa dos pais de Mark durante os meses de março e abril – ainda que no porão. O período de dois meses que passaram lá permitiu que economizassem exatamente o suficiente para cobrir o custo da quebra de contrato.
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Enquanto saíam de seu apartamento, eles decidiram manter apenas um carro (e vender o outro) e armazenar a mobília em um guarda móveis, de forma que pudessem recomeçar suas vidas com certa facilidade quando voltassem. Conversaram, então, com seus chefes e pediram demissão dos empregos.
Logo depois, com seus pertences nas mochilas e passaportes em mãos, embarcaram em um avião rumo a Tóquio e iniciaram a aventura de um ano.
O casal passou seus dois primeiros meses entre Japão e China. Pegaram, então, a ferrovia Transiberiana e passaram pela Mongólia e pela Rússia, antes de visitarem quase toda a Europa e voltarem para o sudeste asiático. A viagem terminou na América do Sul. Todas as aventuras foram relatadas no blog OneWorldOneYear.com.
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No início, o casal foi inflexível na tarefa de gastar o mínimo possível para garantir que suas economias fossem suficientes para durar o ano inteiro, e até compensaram, comendo menos, o início caro da viagem. Mark, com 1,83m, muito mais alto do que sua mulher, teve mais dificuldade nesse período e perdeu peso rapidamente. “Eu decidi ser muito mais maleável”, diz Britnee sobre sua decisão de parar de anotar todos os gastos. “Eu percebi que não era divertido ficar controlando nossas finanças todos os dias.” Especialmente nas férias, concluíram.
Isso não significou, porém, que eles exageraram nos gastos. O casal ficava, frequentemente, em albergues que custavam menos de US$ 30 por noite, onde lavavam suas próprias roupas e usavam a cozinha para preparar refeições. Eles também ficaram hospedados com amigos e família (Mark é da Escócia e tem família na Finlândia) sempre que possível. Os dois optavam pelos meios de transporte mais baratos e conseguiram, uma vez, uma passagem de Megabus de Paris a Barcelona por US$ 1,50. Em algumas ocasiões, no entanto, precisaram comprar água engarrafada, pagaram um pouco mais caro por passagens de companhias aéreas mais confiáveis e compraram souvenirs e cartões postais.
Como tinham a vantagem de serem flexíveis e a capacidade de planejar com antecedência, eles algumas vezes ajustaram seu itinerário com base no custo. Ficaram na Noruega, por exemplo, onde uma sopa de peixe pode custar até US$ 16, por apenas quatro dias. Por outro lado, ficaram na região do Annapurna, no Nepal, por um mês, quando gastaram apenas US$ 36 em hospedagem.
No final, tudo parece ter compensado. “Nós sabíamos que lugares caros, como a Noruega, seriam compensados por outros mais baratos, como o sudeste asiático, ou por locais onde tínhamos família, como a Finlândia”, conta Britnee.
Resultado final: 26 países, 78 cidades, um ano. Custo final: US$ 48.000, ou seja, US$ 8.000 a mais do que a previsão inicial.
Parte do custo adicional veio da decisão de ir para a Bolívia e para a Turquia, países que não estavam nos planos. Eles também descobriram, no meio do caminho, que teriam um reembolso de impostos. Então, com esse retorno e com um pouco da ajuda do fundo que criaram para quando voltassem para casa, conseguiram terminar sem dívidas e com algum dinheiro na reserva. A volta para casa foi um sucesso. Os dois encontraram empregos: Britnee foi contratada na primeira semana após terem voltado e Mark começou a trabalhar com relações públicas no início agosto.