Comediante, ator, cineasta, escritor de sucesso e pioneiro dos podcasts, Adam Carolla é, acima de tudo, um exímio faz-tudo. Ele montou seu próprio estúdio de gravação, em Glendale, Califórnia, onde ergueu as paredes à prova de ruídos e instalou o carpete dentro de um armazém de 500 metros quadrados para seu podcast, The Adam Carolla Show. Este programa on-line que conta com um público impressionante de 1 milhão de ouvintes e uma vez atingiu o recorde mundial de downloads, segundo o Guinness.
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Antes de irromper em Hollywood, Carolla, de 51 anos de idade, passou 12 no ramo de construção. Hoje, passa 12 horas por semana no ar, emitindo opiniões sobre tudo, desde os auxílios do governo até as melhores coberturas de pizza. Por natureza, ele aborda todos os assuntos com uma postura do tipo “consigo fazer melhor”. Essa abordagem estimula seu lado empreendedor (entre seus projetos está a bebida Mangria, uma mistura de vinho e vodca de alta octanagem), molda suas iniciativas criativas (em maio, ele publicou um livro humorístico sobre criação dos filhos chamado Daddy, Stop Talking!) e impulsiona a ocupação pela qual ele é mais entusiasmado: encontrar e restaurar carros de corrida de Paul Newman.
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Conheça melhor a história na galeria de fotos:
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Em uma quinta-feira de primavera, enquanto o motor reconstruído de 600 hp acelera, o Nissan 300ZX ano 1988 de Newman brilha como novo sob um céu de brigadeiro na parte externa de outro armazém que Carolla usa, situado a alguns quarteirões de seu estúdio — um santuário de 1.200 metros quadrados que ele criou para um culto fervoroso dos carros. Um showroom exibe parte dos 37 veículos que ele tem. Lamborghinis do fim dos anos 60 e começo dos 70 se misturam a uma frota de carros de corrida vintage. Os carros de Newman estão em diferentes estágios de conserto, esperando que ele os traga de volta à vida em uma oficina contígua.
Gabando-se do Nissan 88 no estacionamento do armazém, Carolla se curva para dentro da janela do passageiro para mostrar o apoio de cabeça, o volante, a alavanca do câmbio e os bancos personalizados, todos originais de quando Newman era o dono. “Sinto que tem muito do DNA dele no carro”, diz ele em voz alta, em meio ao ronco do motor.
“Gosto da ideia de que o Paul Newman estava passando não só os melhores momentos, mas também os momentos mais intensos da sua vida bem aqui”, diz ele. “É fácil dizer: ‘Aquela é a cadeira de couro do Paul Newman, e ele lia todos os seus roteiros sentado nela’. Mas ele não estava em uma luta de vida ou morte. Para mim, é aqui que ele mais queria estar.”
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Com as jaquetas de motociclismo de Steve McQueen sendo vendidas por dezenas de milhares de dólares e suas Ferraris por dezenas de milhões, o espólio da carreira de piloto profissional de Newman — que durou 37 anos e incluiu quatro campeonatos como piloto e um segundo lugar em Le Mans, em 1979 — vem se aproximando recentemente da herança de seu antigo rival em Hollywood. Tendo se envolvido em corridas de carros de época, Carolla encontrou, em 2008, encostado em um show- room em Wilton, Connecticut, o Nissan GT 1 usado por Newman no campeonato de 1985. Comprou-o por impulso alguns meses antes da morte do ator ganhador do Oscar — e essa compra deu início à epopeia de Carolla para restaurar o legado automobilístico de Newman, a qual já dura sete anos. Até o momento, ele gastou quase US$ 1 milhão adquirindo e gastará mais US$ 1 milhão reformando sete dos carros de corrida de Newman — a maior coleção de que se tem notícia no mundo.
Quanto mais ele analisava a carreira de piloto de Newman, maior ficava sua paixão e mais ele queria saber. Em maio, Carolla lançou Winning: The Racing Life of Paul Newman, documentário que produziu e dirigiu sobre a carreira do ator atrás do volante. Para honrar Newman ainda mais, Carolla não guarda os carros debaixo de lonas nem os ostenta como um sultão — ele realmente os pilota.
“Há uma diferença entre ser um apreciador de carros e ter carros”, diz Matt D’Andria, que divide com Carolla a apresentação do podcast semanal CarCast e foi o produtor executivo do documentário. “A Paris Hilton tem carros — e ela não sabe nada a respeito deles.”
Carolla, é claro, é um apreciador de automóveis — e do tipo obcecado por cada detalhe. Ele chama isso de maldição da “hipervigilância”, um impulso de observar tudo e, portanto, ficar incomodado com sutilezas que a maioria das pessoas ignora. Usando uma camisa quadriculada de colarinho abotoado, calças jeans, tênis e óculos Ray-Ban, Carolla chega à oficina com tarefas para seus dois mecânicos que trabalham lá em tempo integral. Ele despacha um imediatamente para refazer a calafetação de uma porta da oficina e pede ao outro que lhe traga um guia plastificado de 13 passos para dar a partida no Nissan 88. “Este toque foi meu”, diz Carolla com orgulho sobre a plastificação, levantando as sobrancelhas.
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Deixando sua habitual imprudência de lado, ele continua de bom humor. Acaba de voltar de uma escapada de fim de semana com seu novo amigo, Kevin Costner. No quintal da casa de praia do ator em Santa Barbara, eles deram passes de futebol americano e, no jantar, com vista para o Pacífico, Carolla, que é capaz de reclamar de qualquer coisa de maneira pungente ou engraçada, inspirou Costner a se queixar do excesso de leis da cidade.
“Estávamos eu e o Kevin dando um passeio romântico pela praia, metendo o pau no governo”, conta Carolla. “Ele percebeu que não éramos tão diferentes, que éramos apenas dois caras batalhadores de Los Angeles, e acho que ele gostou disso.”
Adam Carolla foi criado com a ajuda da assistência social e do auxílio-alimentação em North Hollywood. O pai e a mãe eram divorciados e geralmente estavam desempregados. Os apuros profissionais dos pais inspiraram parte do material amargamente cômico e da motivação profissional dele. “Minha versão do sonho americano é crescer faminto e pobre, olhar para as pessoas com as quais cresci e dizer: ‘Não quero ficar assim’.”
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Só perto dos 40 anos é que Carolla conseguiu emplacar uma carreira de sucesso em redes de rádio e televisão. Depois de terminar o ensino médio com notas péssimas e abandonar a faculdade aos 19 anos, ele arranjou um emprego de escavador de valas. “E não estou dizendo isso metaforicamente”, explica. “Nós cavávamos valas. Era isso que eu fazia. A gente cavava. Eu não tinha nenhuma habilidade.”
Em 1986, quando reformava dormitórios no bairro de Hollywood Hills, Carolla reparou em um homem do outro lado da rua que acordava ao meio-dia para mexer em suas motocicletas Indian vintage. Ele descobriu que o cara era um comediante e fez amizade com ele, na esperança de dar uma olhada nas motos. Quando Carolla soltou suas tiradas cômicas, o cara das motocicletas sugeriu que ele fosse a uma noite do microfone aberto em uma delicatessen local.
Carolla acabou tomando coragem para deixar uma fita cassete com suas piadas na caixa de correio do homem. Esse mentor inicial era Jay Leno, e Carolla participou do The Tonight Show como convidado 23 vezes ao longo dos anos.
Cerca de dez anos atrás, Carolla finalmente estava pronto para alimentar sua ânsia por carros de luxo, mas ainda tinha de definir um gosto. Foi no eBay que ele comprou uma Lamborghini 400GT 2+2 ano 1967 e depois uma Lamborghini 350GT 1966. Depois, mudou a marcha e comprou um carro de corrida Datsun 610 ano 1972 que tinha sido pilotado profissionalmente por Bob Sharp. “Por que não?”, pensou Carolla, aberto a ir aonde quer que aquela compra o levasse. Ele só não sabia que, por quase 20 anos, Sharp também tinha sido dono de uma equipe de corrida cujo principal piloto era… Paul Newman.
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Carolla se identificou com os campeonatos vencidos arduamente por Newman. “Eu gostava do fato de ele ter começado tarde”, comenta. “Ele usava uma boa dose de humildade. E tinha foco.” Enquanto a maioria das celebridades cobiçava carros esportivos europeus, Newman preferia investir em um mero Nissan de US$ 2.100.
Vendo o valor incrível de praticamente todo carro e moto em que Steve McQueen alguma vez pôs a mão, Carolla percebeu que podia abrir um mercado semelhante para os carros de Newman. Comprou o Nissan do campeonato de 1985 diretamente do showroom de Sharp em Connecticut e aos poucos foi descobrindo o restante em lugares como o sul da Califórnia, Wisconsin e New Hampshire. O Nissan 88 precisou apenas de uns retoques para que ele o pilotasse na Rolex Monterey Motorsports Reunion, na Califórnia. Os outros carros exigiram uma restauração ampla, meticulosa e caríssima. Um pneu chega a custar US$ 440 e dura duas corridas. Um tanque de combustível custa US$ 1.000. Foram gastos dois anos e US$ 500 mil para reformar o Nissan de 1985, e ele ainda não está pronto. “Cada peça do carro é feita sob encomenda”, explica Carolla. Até os parafusos e as porcas. “As únicas coisas desses carros que estão em estoque são o teto e o para-brisa.”
Pilotar os carros de Newman proporciona uma emoção especial, mas Carolla também espera lucrar ao revendê-los um dia. No momento, obter qualquer retorno com a coleção é mera conjectura. Ele diz que as tendências recentes dos leilões indicam que alguns de seus carros esportivos de época dobraram ou triplicaram de valor, o que reforça sua confiança como investidor.
“Eu juro por Deus que sei quanto este carro vai valer quando meus filhos estiverem no ensino médio”, diz ele sobre o Nissan de Newman. “Eu levo jeito para isso. Se não para outras coisas, pelo menos para isso.”
Em uma quinta-feira de primavera, enquanto o motor reconstruído de 600 hp acelera, o Nissan 300ZX ano 1988 de Newman brilha como novo sob um céu de brigadeiro na parte externa de outro armazém que Carolla usa, situado a alguns quarteirões de seu estúdio — um santuário de 1.200 metros quadrados que ele criou para um culto fervoroso dos carros. Um showroom exibe parte dos 37 veículos que ele tem. Lamborghinis do fim dos anos 60 e começo dos 70 se misturam a uma frota de carros de corrida vintage. Os carros de Newman estão em diferentes estágios de conserto, esperando que ele os traga de volta à vida em uma oficina contígua.
Gabando-se do Nissan 88 no estacionamento do armazém, Carolla se curva para dentro da janela do passageiro para mostrar o apoio de cabeça, o volante, a alavanca do câmbio e os bancos personalizados, todos originais de quando Newman era o dono. “Sinto que tem muito do DNA dele no carro”, diz ele em voz alta, em meio ao ronco do motor.
“Gosto da ideia de que o Paul Newman estava passando não só os melhores momentos, mas também os momentos mais intensos da sua vida bem aqui”, diz ele. “É fácil dizer: ‘Aquela é a cadeira de couro do Paul Newman, e ele lia todos os seus roteiros sentado nela’. Mas ele não estava em uma luta de vida ou morte. Para mim, é aqui que ele mais queria estar.”