Para muitas pessoas, os ativos mais valiosos de seu portfólio de investimentos são os imóveis. O gerenciamento adequado das propriedades, no entanto, e a garantia de que elas atuem como parte de uma meta financeira no longo prazo requerem experiências e um conjunto de habilidades que a maioria dos consultores financeiros não tem. Além disso, colocar esses profissionais e corretores sob o mesmo teto pode criar uma polinização cruzada de ideias e conhecimentos, o que acaba proporcionando aos proprietários uma visão holística de seus ativos e de como mantê-los.
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Fundada em 2006, a Canter Companies é uma empresa de investimento especializada em supervisionar o ciclo de vida de projetos imobiliários e no gerenciamento de ativos por meio de aquisições, captação, desenvolvimento e vendas. A empresa atua em duas frentes: imóveis e gestão patrimonial. Esses dois setores são muito diferentes, sem muita ligação. Embora essa desconexão tenha sido a causa da fragmentação no segmento de serviços financeiros durante anos, é o vazio que deu à empresa sediada em San Diego uma vantagem competitiva no espaço em evolução.
Em fevereiro, a empresa publicou dois anúncios de propriedades disponíveis, colocando duas casas multimilionárias à venda em Bitcoin. Com um preço total de pouco menos de US$ 20 milhões na criptomoeda, uma das casas é propriedade do fundador da Circle Square Capital e empreendedor de tecnologia Alan Ezeir, que colocou sua bela propriedade no mercado por US$ 8 milhões.
Desde que foi introduzido em 2008, o Bitcoin evoluiu rapidamente para transformar a maneira como imaginamos a moeda global em um mundo digital. Desenvolvido por programadores e lançado como software de código aberto em 2009, o Bitcoin é creditado como a primeira moeda digital descentralizada, comumente referida como criptomoeda, servindo como um sistema de pagamento peer-to-peer alternativo.
Ao desviar dos métodos tradicionais de pagamento, as transações são diretas entre os usuários, sem a necessidade de sistemas de terceiros – como cédulas físicas, moedas ou cartões de crédito. Além disso, os bitcoins podem ser trocados por outras formas de dinheiro, produtos ou serviços.
Em 2015, o número total de comerciantes que aceitam Bitcoin como moeda ultrapassou 100 mil – os usuários pagam menos de 2% por transação, em oposição à taxa de processamento de 2% a 3% das empresas de cartão de crédito. Assim como o ouro, a criptomoeda pode ser usada para armazenar valor, embora não seja uma forma tangível. No entanto, atualmente, o Bitcoin tem um valor de mercado de cerca de US$ 12,5 bilhões, enquanto o valor de mercado do ouro é de US$ 7 trilhões.
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Em entrevista à FORBES, Alan Ezir compartilhou sua jornada como empreendedor, o raciocínio por trás da venda de sua casa e como o Bitcoin continuará a romper com os padrões da economia em constante mudança.
FORBES: Descreva a sua jornada como empreendedor e como a sua paixão pelos negócios e pela inovação se desenvolveram ao longo do tempo.
Alan Ezeir: Me tornar um empreendedor nunca foi o principal objetivo. Eu sabia desde muito cedo que não queria trabalhar para outra pessoa, o que, inevitavelmente, me levou ao caminho de ser um empresário. Enquanto observava o mundo ao meu redor, gostava de notar aqueles que criavam e administravam seus próprios negócios e faziam coisas porque queriam inovar. Minha paixão pelos negócios se desenvolveu quando experimentei a sensação de vender uma empresa que criei para outra pessoa. É o mesmo sentimento de um atleta sente quando atinge o topo. É indescritível, mas, quando você sente isso, você sabe. Acredite no que você faz e encontre alguém que sinta o mesmo e compartilhe o projeto com esta pessoa. É aí que está minha paixão. Isso é o que, basicamente, me levou a criar novos negócios.
F: Qual foi a primeira ideia que você buscou realizar e quais lições aprendeu com essa experiência?
AE: A primeira ideia real em que eu investi totalmente foi com dois colegas de quarto na Universidade da Califórnia Los Angeles, em 1989. Nós três estávamos morando com outras duas pessoas em um pequeno apartamento de dois quartos quando decidimos iniciar uma empresa de consultoria de informática. Trabalhar nesse ramo aos 20 anos de idade não foi a coisa mais fácil de fazer – tínhamos que convencer pessoas da mesma idade de que poderíamos ensinar-lhes algo -, mas mesmo assim vi uma oportunidade. Percebi que os estudantes recebiam um desconto para comprar computadores da Apple, com a ressalva de que só poderiam adquiri-lo apresentando a carteira de estudante. Eu encontrava alunos que não queriam um computador, comprava as máquinas no nome deles e as revendia no varejo, cobrando apenas uma taxa de consultoria de preço menor. Eu sabia que não era sustentável, mas essa operação me ensinou a encontrar oportunidades. Essa lição sempre ficou comigo – procure uma divergência em um mercado e encontre uma solução para ela.
F: Qual o segredo para ser um empreendedor bem-sucedido em uma economia tão volátil?
AE: Você deve estar disposto a se adaptar, mudar e crescer. É muito fácil descansar em um passado de sucesso e não lutar quando a indústria muda. A verdadeira questão é cronometrar a mudança. Ser o primeiro nem sempre é a melhor posição para se estar quando uma economia em mudança está se movendo rapidamente.
F: Quais foram os maiores desafios enfrentados como empreendedor que modelou a forma de abordar os negócios de construção?
AE: Obstáculos são oportunidades ocultas para desafiar sua mente e sua disposição para assumir riscos. Eu já tive muitos desafios, mas acho que minha capacidade de olhar para o futuro criou uma lacuna na minha memória, o que me impede de pensar demais em um problema do passado. Mas, sendo um pioneiro de blockchain e criptomoedas, uma indústria da qual as pessoas duvidam muito, posso pensar em alguns. Um foi voar dez horas para a ilha de Samoa para me encontrar com o rei e o primeiro-ministro para negociar os direitos sobre a extensão de domínio de “.ws”. Todos achavam que eu era maluco e não entendiam o motivo ou o valor para obter os direitos sobre aquilo. Estamos falando de 1998, e o mundo era todo “.com”. Em retrospecto, foi um salto no escuro. Tudo se resumiu em correr esse risco e acreditar na oportunidade, apesar da apreensão dos outros.
F: Você recentemente colocou a sua casa à venda por US$ 8 milhões em Bitcoin. Descreva o seu raciocínio por trás desta medida.
AE: Escolher o Bitcoin como meio de troca é muito fácil de explicar. Vamos usar o exemplo do Vale do Silício. Quando especialistas em tecnologia são bem-sucedidos e a riqueza é criada, o que acontece? Aqueles que têm produtos e serviços adequados a essa perspectiva migram para onde os clientes estão. O Bitcoin criou novos milionários e bilionários e está pronto para vender bens e serviços a essas pessoas; o que não é diferente de alguém que fez US$ 100 milhões em um IPO. Muitos produtos e serviços provavelmente terão a opção de serem comprados com criptomoedas. Até lá, vários lançadores de tendência precisam mostrar que isso pode ser feito. Em 1995, o uso de cartões de crédito não era possível na internet. Agora, não podemos imaginar como seria não poder usá-los na web. Acredito que será comum a venda de imóveis, juntamente com outras classes de ativos, em criptomoedas.
F: Da emergência das companhias de internet à ascensão do blockchain, quais são as tendências e mudanças observadas por você que devem ser notadas por empreendedores?
AE: A internet é e sempre foi uma plataforma para ajudar a vender quaisquer tipos de produtos e serviços. Nem todas as companhias usam ou precisam da web da mesma maneira. O blockchain é muito semelhante, mas, na minha opinião, não terá um impacto tão distribuído. É uma tecnologia que irá beneficiar e alterar muitos setores. As tendências e mudanças que tenho presenciado me remetem a como se a história estivesse se repetindo. A tendência que os empreendedores precisam observar é pensar na probabilidade de o blockchain mudar cada uma das indústrias. Foi assim que muitos empreendedores usaram a internet para mudar radicalmente cada modelo de negócio entre meados e final dos anos 1990. A maior mudança é como outras tecnologias de base criaram sincronização para preparar certas ideias. A introdução do smartphone e a capacidade de mover dados mais rapidamente são apenas dois exemplos disso.
F: O que o anima sobre a tecnologia blockchain e como você descreveria o potencial dela?
AE: Eu amo a tecnologia blockchain porque ela vai resolver o problema da confiança entre duas entidades ou pessoas. Acredito que eliminar o atrito em qualquer ciclo é algo valioso para a inovação futura e, por sua vez, nos permite acreditar que sempre há um caminho melhor. Pense em todos os trabalhos que são desnecessários e só existem porque você precisa de uma empresa confiável. Se acreditássemos que quem está do outro lado é honesto, não teríamos que gastar tanto tempo protegendo a transação ou o processo. Devemos usar nosso tempo para produzir e criar em vez de validar, proteger, assegurar e nos preocupar em não receber o que foi pago.
F: Quais indústrias você prevê que serão invadidas pelo blockchain nos próximos 3 ou 5 anos?
AE: Vou citar – e explicar – alguns exemplos dos muitos que eu acredito que vão acontecer. Algumas indústrias demoram mais devido à pressão da infraestrutura existente, mas outras vão desmoronar de forma semelhante às corretoras de ações quando a internet reduziu o atrito no mercado:
A indústria do entretenimento é uma delas. Imagine que, quando uma música é tocada ou um filme é exibido, o uso do blockchain pode identificar e compensar corretamente o dono do produto. Isso é óbvio e aplicável a muitos ativos digitais, especialmente com a moeda de países onde a confiança e a conveniência não são tão simples quanto nos Estados Unidos. Isso não é diferente do que o email e o sistema de mensagens fizeram nas últimas duas décadas. A moeda causa desgaste em muitos países. O blockchain permitirá que esses países cresçam de maneira gradativa, tentando trazer comodidade e confiança, de forma semelhante a que os celulares fizeram em países que nunca estabeleceram uma boa infraestrutura fixa.
Outro exemplo está relacionado à classificação e o histórico de crédito, que só devem ser controlados por uma pessoa responsável. Descentralizar esses dados, colocá-los no blockchain e dar controle individual é a solução. Quando o uso de sua identidade ou merecimento de crédito é necessário, é possível conceder acesso limitado a alguém para validá-lo. Dessa forma, os dados nunca poderiam ser manipulados e abusados.